13 Janeiro 2022
Ele não se considera a favor do aborto. Mas surpreende ao dizer que todo católico deveria aprovar o fato de que toda mulher seja livre para fazer "sua escolha". E mais: "Nós não deveríamos fazer isso por ela".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 12-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O jesuíta Pat Conroy não é um sacerdote qualquer no cenário estadunidense. Até 2021 foi capelão da Câmara dos Estados Unidos (pediu demissão há um ano), obstaculizado por Donald Trump, que ameaçou demiti-lo quando o lembrou da necessidade de equidade e da justiça em suas reformas. Por isso, sua última declaração sobre o aborto, em tempos do pro-choice do presidente Biden sobre o assunto, está causando debate: o Catolicismo - é, resumindo, sua opinião expressa primeiramente a Lew Nescott Jr., entrevistador independente que produz vídeos sobre religião e política nos Estados Unidos, e depois no Washington Post - deve respeitar o direito de escolha da mulher.
Embora "o sistema em que vivemos deveria fazer todo o possível para ajudar as mulheres a fazer a escolha de não abortar".
A discussão sobre o aborto está aberta há tempo também no mundo católico. Francisco sempre se disse contrário ao aborto, lembrando que, como diz o Catecismo, é um homicídio. No entanto, ele não quer excomunhões preventivas. Tanto que recentemente fez com que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Louis Ladaria, redigisse uma carta dirigida ao presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, o arcebispo de Los Angeles José Gomez, para frear o projeto, que nasceu em polêmica implícita com Biden, para adotar um documento sobre a "dignidade de receber a comunhão" por políticos católicos a favor de leis sobre questões como o aborto. A linha, em essência, parece ser a de não querer se chocar com aqueles católicos que, mesmo ocupando cargos públicos, são a favor da liberdade de escolha. Uma linha que Conroy abraçou totalmente.
Conroy, que deixou o Capitólio após a invasão de ano passado explicando que um “pensamento apocalíptico” já se impregnou “no discurso público” e que, por isso, os líderes se transformaram de políticos respeitados em sicários, defende que é um valor ‘americano’ o fato que cada um de nós possa escolher para onde vai a sua vida”. E que “este é também um valor católico: todos devemos usar nossos dons, nossos talentos e nossa inteligência da melhor maneira possível para fazer as melhores escolhas que temos a liberdade de fazer”. E para corroborar suas palavras citou Tomás de Aquino segundo o qual se a consciência diz para fazer algo que a Igreja considera pecado, "você é obrigado a seguir sua consciência".
As palavras do Pe. Conrey, ainda que não fujam à doutrina, mostram uma sensibilidade a que nem todos os crentes estão acostumados. O Vaticano não comenta sobre o assunto, mesmo que, a título pessoal, seja o ex-penitenciário maior da Santa Sé, monsenhor Gianfranco Girotti, que diz ao República que "o aborto continua sendo um pecado grave e por isso é preciso prudência". Mas o padre Conroy diz: “Já que as mulheres têm esse direito constitucional (liberdade de escolha, ndr), nossa tarefa como fiéis cristãos, ou como católicos, é permitir que elas otimizem sua capacidade de fazer escolhas”.
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“Vamos deixar as mulheres livres para escolher se querem abortar”, afirma jesuíta estadunidense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU