20 Mai 2020
"Devemos reconhecer esse momento como uma oportunidade para "reconstruir melhor" e lançar as bases para um mercado de trabalho mais resiliente e um mundo mais justo", escreve Saadia Zahidi, diretora administrativa do Centro para a Nova Economia e Sociedade do Fórum Econômico Mundial, em artigo publicado por Business Insider Italia, 19-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O 1º de maio de 2020 – ou Dia Internacional do Trabalho – caiu no meio de um apocalipse do trabalho induzido por uma pandemia, com a Organização Internacional do Trabalho prevendo que quase metade da força de trabalho de 3 bilhões de pessoas no mundo corre o risco de perder seu sustento.
Para muitos trabalhadores, o lockdown acelerou a chegada do "futuro do trabalho", um termo invocado nos últimos anos em relação às oportunidades e desafios da ruptura tecnológica e aos fatores econômicos estruturais que determinam a qualidade dos meios de subsistência.
Para muitos trabalhadores de colarinho branco, isso significou trabalho a distância. Para muitos na área de serviços e operários, isso forneceu uma janela sobre um futuro em que as máquinas poderiam deslocar as pessoas, especialmente porque as empresas consideram aumentar a automação para melhorar sua capacidade de retomada futura. Para os envolvidos na economia da assistência, ou seja, no setor de serviços pessoais e sociais, como saúde e educação, isso levou a uma reavaliação global aguardada há tempo do significado e da natureza essencial dessas profissões. Para muitos, na gig economy, trouxe à tona a fundamental falta de proteção social e a precariedade do trabalho de subsistência.
São necessárias ações imediatas e urgentes para proteger os postos de trabalho, manter os vínculos entre empregadores e funcionários, manter ativos grandes e pequenos empregadores e fornecer apoio à renda e outras redes de segurança diretamente aos trabalhadores e às famílias. É aqui que os esforços se concentram em muitas economias avançadas e nos mercados emergentes, embora seja necessário um apoio muito maior nas economias em desenvolvimento.
No entanto, devemos reconhecer esse momento como uma oportunidade para "reconstruir melhor" e lançar as bases para um mercado de trabalho mais resiliente e um mundo mais justo.
Aqui estão cinco maneiras para fazer isso:
Nos últimos anos, governos, empresas e trabalhadores começaram a priorizar a requalificação e o aprimoramento das competências para se preparar melhor para a quarta revolução industrial. Embora tenha sido um invasor microscópico mais que a ascensão dos robôs que levou ao atual colapso do mercado de trabalho, ficou claro que as consequências da pandemia acelerarão a digitalização e a automação em uma ampla gama de setores. Isso requer novos investimentos e mecanismos de requalificação, tanto para as capacidades profundamente humanas quanto para aquelas digitais. Enquanto a indústria de instrução e da formação on-line viram um aumento de interesse por parte dos trabalhadores conectados digitalmente, é imperativo que os empregadores aumentem os esforços e investimentos em requalificação dos trabalhadores e que os governos construam proativamente disposições em matéria de requalificação no enorme estímulo fiscal que estão injetando nas economias para preparar melhor os trabalhadores para a economia pós-pandemia.
O Fórum Econômico Mundial ofereceu uma visão dos empregos do amanhã no início de 2020. Esses papéis estão profundamente concentrados entre aquelas profissões que tratam com pessoas, dão sustentação ao planeta, gerenciam novas tecnologias e comunicam produtos. e serviços: Care Economy, Green Economy, Pessoas e Cultura; Dados e inteligência artificial, engenharia e cloud computing, desenvolvimento de produtos; Vendas, marketing e conteúdos.
Enquanto a pandemia evidencia os papéis críticos que os trabalhadores desempenham em hospitais, supermercados, escolas e outras profissões essenciais, espera-se que as oportunidades dentro da Care Economy aumentem.
Da mesma forma, prevê-se que os papéis no âmbito da criação e gerenciamento de tecnologia, comércio eletrônico e da mais ampla economia de conhecimento continuem a crescer. E, à medida que os governos tentam reconstruir suas economias, novas fontes de crescimento - e postos de trabalho - também emergirão da economia verde, da pesquisa científica e de saúde e das infraestruturas digitais. Para as economias em desenvolvimento, uma nova abordagem proativa para os empregos do amanhã é ainda mais crítica, pois as cadeias de valor globais do passado são repensadas e, com elas, o modelo de crescimento impulsionado pelo setor manufatureiro.
O apoio ativo aos trabalhadores em risco e aos desempregados será crucial para as empresas e os governos. Muitas empresas já intensificaram os esforços para fornecer suporte de curto prazo para redistribuir rapidamente os trabalhadores despedidos de funções de baixa demanda para funções de alta demanda, como as da logística e cuidado, muitas vezes além dos limites de uma única empresa ou indústria. Nos países em que os governos têm sistemas para fazer isso em larga escala e de forma proativa, os trabalhadores já estão se saindo melhor do que aqueles que não o fazem. No entanto, enquanto os governos consideram a próxima série de estímulos fiscais, também devem priorizar os serviços do mercado de trabalho para realocação e o reemprego, incluindo reciclagens sobre o mercado de trabalho, intermediação (serviços de encaminhamento) e assistência na procura de emprego. Há uma década, essas políticas foram usadas com sucesso para gerenciar o rápido aumento do desemprego.
Dada a natureza mais generalizada da crise atual, é essencial que esses serviços sejam ampliados e prontos para gerir o período de recuperação pós-pandemia.
Tornou-se cada vez mais claro que nossos trabalhadores mais essenciais estão entre aqueles com os papéis menos remunerados e mais precários e que em muitas economias em desenvolvimento falta especialmente a proteção social básica para grande parte da força de trabalho formal e informal. O período após a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial assistiu à formalização do fim de semana e de outros direitos dos trabalhadores nos Estados Unidos e à criação de redes para a saúde e segurança da renda, além de amplos investimentos em educação na Europa. No entanto, como a natureza de nossas economias mudou, leis, padrões e salários não acompanharam as exigências dos trabalhadores e, em muitos casos, de seus empregadores. Paralelamente à gestão das urgências da crise, é essencial que governos, empresas e representantes dos trabalhadores trabalhem juntos para orientar uma nova mudança histórica na atualização dos protocolos que governam os nossos mercados de trabalho.
A colaboração entre empregadores, governos e trabalhadores em nível nacional e global será fundamental para a retomada. No Fórum Econômico Mundial, anunciamos em janeiro de 2020 a criação de uma plataforma de Reskilling Revolution dedicada a melhorar a instrução, as competências e o emprego de um bilhão de pessoas até 2030. Agora, dedicamos essa plataforma a apoiar governos, empresas e educadores para ajudar os trabalhadores e os estudantes durante a crise, na troca de boas práticas e na reconstrução de sistemas de formação, competências e de trabalho melhores para a retomada pós-pandemia.
A crise da pandemia destacou mais do que nunca as inadequações e desigualdades no sistema do passado. No entanto, também refocalizou as mentes dos líderes globais sobre o valor fundamental da vida humana, do potencial humano e dos meios de subsistência humanos. Essa é a janela de oportunidade para investir em nosso bem mais precioso: o nosso capital humano.
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Esta crise exige uma virada para um mercado de trabalho mais resiliente e um mundo mais justo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU