22 Abril 2020
"Parece urgente acolher e pensar sobre os desafios postos neste momento, em vista de uma ação destinada a construir uma sociedade mais solidária e provocar os processos de reforma da Igreja à luz da experiência de dor e repensamento que estamos vivenciando", escreve Alessandro Cortesi, professor de teologia sistemática no Instituto de Ciências Religiosas da Toscana e editor do blog La parola cresceva, em artigo publicado por Il Regno, 20-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os dias da epidemia despertaram muitas preocupações profundas e novos questionamentos. Um tempo subitamente interrompido e suspenso, marcado por tanta dor e isolamento, gerou pensamentos, medos, mas também despertou sonhos e esperanças em relação ao que estamos vivenciando e novas perguntas sobre o futuro possível.
Esse questionamento, combinado com o desejo de troca de ideias, levou um pequeno grupo de historiadores, filósofos, catequistas, liturgistas e teólogos - unidos por seu empenho com o estudo e a sensibilidade eclesial e política - a discutir, antes de tudo, para compartilhar a escuta do que essa situação está gerando em nossas vidas, e depois pensar juntos sobre o que poderia ser um futuro para a Igreja e a sociedade na passagem dessa crise global.
A iniciativa, iniciada em meados de março, a partir de uma solicitação de Serena Noceti, teóloga e incansável animadora de processos eclesiais, juntamente com o historiador do cristianismo de Vittorio Berti, de Pádua, tomou a forma de uma primeira série online com a ajuda de meios tecnológicos.
Primeiro foi compartilhada uma troca de reflexões sobre o presente. Depois foi formulado um programa de trabalho comum como um serviço para a comunidade eclesial, em um período próximo à Páscoa, no qual a suspensão das celebrações nas igrejas abria novas questões.
Foi acordado formular uma proposta articulada em três objetivos com divisão de tarefas: o compromisso de escrever uma carta aberta, reunindo algumas sugestões para animar uma reflexão mais ampla e um diálogo entre pessoas e comunidades; a preparação de um subsídio como proposta de celebração doméstica do tríduo pascal; e a publicação de um e-book como uma coleção de pequenos ensaios sobre a experiência deste período da pandemia em torno de algumas palavras-chave significativas a serem identificadas com base no intercâmbio implementado.
Para isso foi inaugurado um site que recebeu o título da imagem proposta pelo Papa Francisco na meditação de 27 de março em uma Praça São Pedro deserta, comentando a página do Evangelho de Jesus e os discípulos no barco na tempestade: todos juntos no mesmo barco. Imagem que resumia o senso de compartilhar uma condição comum de fragilidade e a inter-relação da humanidade, de diferentes povos e do meio ambiente, casa comum, em tempos de epidemia.
Foto: Vatican News
Na carta aberta elaborada e coordenada por Simone Morandini e Riccardo Saccenti foi destacado o desafio que está diante de nós, e indicada perspectiva de imaginar o futuro, quase como colocar uma semente sob a neve: "O desafio é entender como viver esse tempo, tão cheio de experiências de dor, sofrimento, morte, talvez vivido na solidão ... um tempo que nos revela de uma maneira diferente quem somos: mostra nossa fragilidade e evidencia muitas contradições da atual forma social e a torna mais agudas, ... o que questiona certezas e obriga a repensar o que dá valor e qualidade à nossa vida”.
Três áreas específicas são identificadas na carta com a sugestão de perguntas para a reflexão.
Este tempo questiona a vida da Igreja, convidada a acolher o chamado do Evangelho contido no ficar em casa. Como podemos viver esse tempo para que ele seja generativo, para um estilo de Igreja renovado e fiel ao Evangelho?
O âmbito da realidade socioambiental é provocado para superar um sistema econômico-financeiro injusto que gera desigualdades globais, para construir um futuro sustentável com vistas à ecologia integral. Como cultivar uma forte consciência da vida juntos no planeta, à luz da interconexão vivenciada nos dias de hoje?
Este tempo também indica - com a força da realidade - que a paz é possível se redescobrirmos a dimensão planetária de nossa existência. Como fazer germinar a partir desses dias de incerteza perspectivas fecundas, que também reforcem o compromisso contra a pobreza e a grande crise socioambiental das mudanças climáticas?
Alguns membros do grupo - Andrea Grillo, teólogo liturgista que coordenou o trabalho, Serena Noceti e Alessandro Cortesi - se colocaram à disposição para a elaboração de um subsídio para viver na dimensão doméstica o tríduo pascal: é intitulado #iocelebroacasa e delineou três itinerários, sapiencial, ritual, batismal para a celebração dos dias da Páscoa.
O subsídio publicado no site foi uma proposta para viver os ritos e as palavras da Páscoa no contexto e na experiência da casa como uma forte experiência da Igreja, isolados, mas não sozinhos, e valorizando a liturgia da vida.
Outros preciosos colaboradores juntaram-se na obra de realização para o atendimento da seção dedicada às crianças (Morena Baldacci), na edição (Federico Manicardi) e nas ilustrações e desenhos (Luca Palazzi).
Em breve, será publicado um e-book, sob a coordenação de Vittorio Berti e Marco Giovannoni, que reunirá vários ensaios sobre algumas palavras-chave deste tempo de pandemia.
Serão abordados sob diferentes ângulos e com olhares plurais alguns temas sintetizados em dez palavras que descrevem os traços da experiência de ler o presente e orientar-se para o futuro: tempo suspenso (Enzo Biemmi), proximidade (Vittorio Berti), terra (Simone Morandini), corpo (Riccardo Saccenti), futuro (Alessandro Cortesi), público (Marco Giovannoni), saberes (Riccardo Saccenti), coparticipação / Igreja (Serena Noceti), periferias (Fabrizio Mandreoli), autoridade/liberdade (Andrea Grillo).
O desejo compartilhado no grupo - que viveu esse compromisso com espírito de amizade e compartilhamento - é despertar uma reflexão que se amplie em diferentes âmbitos.
De fato, parece urgente acolher e pensar sobre os desafios postos neste momento, em vista de uma ação destinada a construir uma sociedade mais solidária e provocar os processos de reforma da Igreja à luz da experiência de dor e repensamento que estamos vivenciando.
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Igreja após o vírus: futuro plural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU