O Bispo de Mindong, Vincent Guo Xijin, deixará seu posto e entregará ao "Bispo" Vincenzo Zhan Silu. Entre eles o representante do Vaticano, o arcebispo Claudio Maria Celli. (Foto: AsiaNews)
As recentes críticas aos eventos na China na diocese de Mindong, em Fujian, onde o bispo Guo Xijin pode ser impedido de celebrar os ritos da Páscoa, e a demolição de uma igreja em Shaanxi, mostram preocupação da Igreja pela aplicação do acordo entre a Santa Sé e a China. Existem profundas divisões em Roma a esse respeito. Alguns acreditam que tais incidentes devem levar a repensar o acordo de 22 de setembro de 2018. Essas divisões quanto ao acordo não são apenas unilaterais, mas também ocorrem pelo lado.
O comentário é de Francesco Strazzari e Francesco Sisci, publicado por Settimana News, 09-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há um ano, o Global Times, a filial inglesa do Cotidiano do Povo, o jornal oficial do comitê central chinês, publicava uma foto com o chefe da delegação vaticana para a China, dom Cláudio Maria Celli, em meio aos dois bispos reconciliados de Mindong, Guo, o ex-clandestino que concordava em dar um passo para trás e se tornar um auxiliar, e Zhan Silu, o ilegítimo que Roma reconhecia. Se um ano depois, por outro lado, tal reconciliação não consegue ser concluída, é certamente uma ofensa para a Igreja e um tapa na cara da comunidade católica, mas é ainda mais para Pequim, que havia mostrado publicamente como a paz havia sido alcançada. A demolição da igreja no Shaanxi é um evento similar. De fato, nos mesmos dias em que os tratores derrubavam o templo, um grupo de jornalistas chineses comparecia ao lançamento do livro do padre Antonio Spadaro sobre o futuro da Igreja na China pela Civiltà Cattolica. Este era um sinal público da aproximação com Pequim.
Torcidas opostas
Estes são dois sinais opostos, um de fechamento e outro de abertura. O que significa de novo?
Pode-se certamente pensar em uma atitude esquizofrênica ou trapaça das autoridades chinesas. Mas tais interpretações pressupõem que a China seja uma espécie de monólito maciço, com pleno controle de todos os eventos dentro e fora do país. Na realidade, por mais que Pequim busque o controle, o que é muito difícil em um país de quase 1,5 bilhão de pessoas, tão grande quanto a Europa até os Urais. É mais fácil pensar que algumas escolhas do governo central sejam diferentes daquelas do governo local.
Não é um mistério que mesmo na China existam divisões profundas sobre a assinatura do acordo com a Santa Sé. Talvez tanto o papa quanto o presidente Xi Jinping estejam lidando com oposições internas determinadas a fazer com que o acordo fracasse ou, pelo menos, não dispostas a trabalhar para seu sucesso, simplesmente porque têm outros planos para a Igreja ou para a China. Tais planos poderiam até ser legítimos, mas certamente dificultam a implementação do acordo. Hoje, precisamente porque tem uma frente dupla na oposição, na China e na Santa Sé, é preciso muita boa vontade por parte de todos para evitar atolar-se em mil armadilhas. Portanto, talvez exista também um problema pessoal: queremos promover uma maior unidade e diálogo, paz e reconciliação da comunidade católica chinesa ou queremos trabalhar contra isso? Esse é um problema que é fundamental para lidar com os muitos problemas que existem e continuarão aparecendo na implementação do acordo.
Futuro e boa vontade
Além disso, existe um multiplicador. O "partido" daqueles que se opõem ao acordo na Santa Sé ou na China, na verdade trabalha em uníssono, um usando o outro como desculpa, como costuma acontecer com os extremismos opostos em momentos revolucionários. Por exemplo, na Itália, na década de 1970, o terrorismo vermelho e o fascista se justificavam mutuamente. Os extremistas comunistas alegavam que precisavam pegar nas armas para se defender dos terroristas fascistas e do estado que os protegia; os fascistas apoiavam a mesma atitude contra os comunistas. Claro, com o acordo do Vaticano, não há um confronto entre os terroristas opostos, mas de fato as torcidas contrárias ao acordo se refletem uma na outra. Além dos problemas específicos, talvez seja necessária uma mudança de atitude mental e espiritual por parte dos grupos que torcem contra e daqueles que ficam espremidos e confusos no meio deles.
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China: quem viola o acordo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU