O médico James Hamilton reuniu-se neste sábado, no Vaticano, com o Papa Francisco, a convite deste último, para testemunhar sobre os casos de abusos que sofreu por parte do padre Fernando Karadima e como a Igreja chilena ajudou a acobertá-lo.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 29-04-2018. A tradução é de André Langer.
Antes dele, Bergoglio já havia recebido outra vítima do sacerdote de El Bosque, José Andrés Murillo, que pediu à mais alta autoridade eclesiástica uma mudança na Igreja Católica.
Hamilton, em sua conta no Twitter, ressaltou que saiu do encontro – que durou cerca de duas horas – “muito feliz e satisfeito”.
No domingo, na parte da tarde, será a vez de Juan Carlos Cruz dar seu testemunho em um encontro privado com Francisco.
As vítimas de Karadima foram convocadas pelo próprio líder da Igreja Católica, que – após ler as conclusões do relatório do arcebispo Charles Scicluna – reconheceu que tinha incorrido em “graves erros de avaliação” sobre os abusos dentro da Igreja chilena, que inclusive expressou durante a sua recente visita ao país.
Enquanto isso, Juan Carlos Cruz, no Twitter, disse que estava “muito feliz” ao ver seus amigos saírem dos encontros com o Santo Padre.
Por outro lado, o presidente da Conferência Episcopal do Chile, dom Santiago Silva, afirmou que o próximo encontro do episcopado com o Santo Padre os ajudará a discernir como acompanhar as vítimas, reparar o mal causado e tomar medidas que ajudem a reconstruir a comunhão eclesial.
“A primeira e urgente tarefa para a qual o episcopado chileno é convocado é ouvir humildemente a voz de Cristo, que fala pelo Papa, e depois liderar o diálogo no Povo de Deus, e um diálogo em todos os níveis, inclusive com aqueles que não pertencem à Igreja”, disse dom Santiago Silva, bispo castrense, em seu editorial, publicado neste sábado, 28 de abril.
O presidente do episcopado também afirma que “a intensidade e a progressiva consciência de que os abusos de poder e os abusos sexuais na Igreja não podem acontecer nunca mais é uma tarefa que aprendemos com dor”. E acrescenta que “o sofrimento profundo causado por esses atos deploráveis, difícil de curar, nos foi mostrado pelas vítimas com seu testemunho”.
“Os problemas de fundo não são apenas a manipulação de consciências e os abusos de crianças, embora muito graves, mas um estilo de ser Igreja e de evangelizar que temos que repensar, porque não estão contribuindo para a identidade cristã e o compromisso com a sociedade”, é a convicção à qual chegou o bispo castrense.
Dom Silva afirma que “o caminho, que se apresenta como muito longo, deve ter tanto em sua origem como em seu desenvolvimento aquela permanente renovação interior que toque as consciências e vontades e que, por exigência evangélica, se expresse em um testemunho credível, não apenas ao nível das intenções, mas sobretudo com obras”.
Termina esta reflexão com o reconhecimento de que “nunca como hoje necessitamos da ‘tranquilidade interior’ (J. Hamilton) e da sabedoria para não nos perdermos nas pós-verdades que mancham a identidade da crise e entorpecem suas possíveis soluções. Nunca como hoje temos necessidade de humildade e respeito para reconstruir as relações e trazer um novo modo de vida a partir da certeza que fundamenta a nossa fé: que Cristo ressuscitou e nos oferece misericórdia e vida nova”.
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