Juan Carlos Cruz, José Andrés Murillo e James Hamilton, vítimas dos abusos sexuais cometidos por Karadima, estão na capital italiana para encontros com o Papa Francisco.
A reportagem é de F. Aste, publicada por La Tercera, 24-04-2018. A tradução é de André Langer.
Juan Carlos Cruz desembarcou em Roma no sábado. Ele disse que tomou essa decisão para “ficar mais relaxado”. É que um dos encontros que tem marcado para esta semana é, provavelmente, um dos mais importantes: na quinta-feira irá à residência do Papa Francisco em Santa Marta e no domingo se encontrará com ele durante toda a tarde.
José Andrés Murillo e James Hamilton, também vítimas dos abusos sexuais cometidos por Fernando Karadima, também participarão dos encontros. “Eu chego na quinta-feira na Residência Santa Marta; os outros chegam na sexta-feira. O Papa vai se reunir em separado conosco, mas não sei a que horas. Segundo me disseram, ele reservou toda a agenda para se encontrar comigo na tarde do domingo. Na segunda-feira, ele vai se reunir com os três juntos”, revelou Cruz à Rádio Duna.
O convite do Sumo Pontífice aos denunciantes de Karadima acontece após a investigação realizada pelo arcebispo de Malta, Charles Scicluna, no nosso país (Chile) em fevereiro, depois do que reconheceu, através de uma carta, que incorreu em “graves erros de avaliação” em relação aos abusos cometidos pelo sacerdote e pároco da Igreja de El Bosque e ao acobertamento do bispo de Osorno, Juan Barros, a quem defendeu durante a sua visita ao Chile em janeiro.
“As expectativas que tenho são de falar com ele [o Papa] respeitosamente e contar-lhe que o horror não acontece apenas no Chile; essa cultura de abusos e acobertamentos não pode continuar”, disse Cruz. “Eu acredito que o Papa está disposto, quero ouvi-lo e estou muito emocionado por poder me encontrar com ele. Mas este não é um exercício de Relações Públicas, é uma conversa muito séria”, acrescentou.
Um encontro inesperado
Juan Carlos Cruz teve que ir, na manhã desta terça-feira, à Embaixada do Chile na capital italiana. Mas, chegando lá, não sabia que iria se encontrar com o cardeal Francisco Javier Errázuriz, vinculado ao acobertamento dos abusos cometidos por Karadima.
“Eu disse a ele: ‘olha, onde viemos nos encontrar’”. De acordo com Cruz, Errázuriz se virou, o viu, deu-lhe a mão, ficou bravo e estendeu-lhe a mão. Perguntou-lhe se também ia à embaixada, ao que o cardeal lhe respondeu afirmativamente. “Eu vou quando você tiver saído”, respondeu-lhe Cruz.
“Ele está furioso e parece ter metido o pau em nós. Ele está fazendo lobby, está em um momento desesperador; o homem não sabe mais o que fazer, porque a casa caiu”, contou Cruz. “Ele não estava muito contente”, acrescentou.
Na carta enviada à Conferência Episcopal, o próprio Papa Francisco pediu que os 32 bispos também fossem a Roma para reunir-se com ele após ouvir o relato de Scicluna.
“A Conferência Episcopal do Chile vive como na 'Luna de Valencia'. Se observar atentamente, eles estão se culpando uns aos outros (...) eles não se dão conta da dureza da carta, não percebem que não vêm para ensinar o Papa como mudar a Igreja, não captam o tsunami que está se abatendo sobre eles”, disse Cruz.
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Chile. O inesperado encontro entre Juan Carlos Cruz e o cardeal Errázuriz em Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU