15 Março 2018
Nativo de espanhol, tendo crescido com parentes falantes de italiano na Argentina, o Papa Francisco tem um toque impressionante com as palavras.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, 13-03-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Com um histórico na área da literatura e trazendo consigo inúmeros conselhos para o papado cinco anos atrás, Francisco tem se mostrado um mestre das metáforas e alegorias.
O seu conhecimento transcultural e eclético em literatura e cinema lhe deu muitos elementos visuais que ele mistura e combina com uma mensagem religiosa, criando expressões como a “Igreja babá” para descrever uma paróquia que não incentiva a evangelização ativa, mas somente se preocupa em manter os paroquianos seguros, longe das preocupações.
Os “católicos de poltronas”, enquanto isso, não deixam que o Espírito Santo conduza as suas vidas. Em vez disso, preferem ficar parados, recitando com segurança uma “moral fria” sem permitir que o Espírito empurre-os para fora da casa a levar Jesus aos outros.
A espiritualidade inaciana que o formou como jesuíta também se apresenta em várias das expressões que cria. Assim como um jesuíta que busca usar todos os cinco sentidos para encontrar e experienciar Deus, o papa não hesita em usar a linguagem que envolva visão, som, gosto, toque e cheiro.
Ele também exorta os padres do mundo a serem “pastores com cheiro de ovelha”, vivendo com e entre o povo a fim de compartilhar Cristo com eles, e diz a seus cardeais que todos os católicos mais velhos precisam dividir com os jovens as suas convicções e sabedoria, que são como “vinho fino que melhora o gosto com a idade”.
Nenhum coro é tão maravilhoso quanto os gritos, as vozes, as brincadeiras das crianças, disse ele certa vez antes de batizar 32 bebês na Capela Cistina, assegurando os pais de que a comoção e o caos da vida nova não só era bem-vinda como também maravilhosa.
O vocabulário visual do papa mergulha no dia a dia com ditados e cenários bem familiares: como o pecado sendo mais do que uma mancha; ele é um ato de rebeldia contra Deus que requer mais do que uma simples ida “à lavanderia e lavar”.
Até mesmo a vida no campo possui algumas lições. Certa vez ele pediu que os paroquianos incomodassem os padres como um bezerro incomoda sua mãe por leite. Sempre “batam às suas portas, a fim de que lhes deem o leite da graça e da doutrina”.
Os alimentos e as bebidas têm numerosas lições. Por exemplo, para falar da atmosfera corrosiva que um padre amargo, furioso pode trazer à comunidade, o papa falou que esse tipo de padre tem o seguinte pensamento: “Bebe vinagre no café. Então, para o almoço, recolhe vegetais. E, na manhã, toma um belo copo de suco de limão”.
Os cristãos não devem ser fanfarrões e superficiais como um doce especial que a sua avó italiana costumava preparar, disse ele.
Explicando como é feito com uma tira muito fina de massa, a sobremesa fica crocante quando cozida numa panela de azeite quente. Chamamos esses doces de “bugie”, ou mentirinhas”, segundo o papa, porque “parecem grande, mas não têm nada dentro, nenhuma verdade, nenhuma substância”.
Um foco frequente de Francisco nos malefícios de viver uma vida de hipocrisia ou superficial significou empregar descrições como tão vistosas quanto os pavões, frívolos como uma estrela exageradamente enfeitada e fugaz como as bolhas de sabão. “É bonita a bolha de sabão! Tem todas as cores! Mas dura um segundo e depois?”
Para explicar o tipo de “ansiedade terrível” que resulta de uma vida de vaidades construída sobre mentiras e fantasia, o papa disse: “É como aquelas pessoas que põem maquiagem demais e então ficam com medo de sair na chuva e a maquiagem toda escorrer pelo rosto”.
Francisco não se esquiva de assuntos espinhosos, chamando o dinheiro – quando este se transforma em ídolo – de “o esterco do diabo” e dizendo que a vida dos corruptos é a “putrefação envernizada” porque, como túmulos caiados, parecem bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos mortos.
Para o papa, que vê Cristo como um “verdadeiro médico do corpo e da alma”, não há escassez de metáforas médicas.
Numa das mais conhecidas, o papa diz da “Igreja como um hospital de campanha depois da batalha. É inútil perguntar a um ferido se ele tem níveis elevados de colesterol ou açúcar! Há que se curar as feridas”.
Falando das pessoas que praticam o mal e o sabem, Francisco disse que elas vivem “numa coceira contínua, numa urticária que não as deixa em paz.”.
A consequência do orgulho ou da vaidade, advertiu ele noutra ocasião, “é como uma osteoporose da alma: os ossos parecem bons de fora, mas por dentro estão todos arruinados”.
Um outro problema médico a afligir as almas diagnosticadas por Francisco é o “Alzheimer espiritual”, transtorno que incapacita algumas pessoas de se lembrarem do amor e da misericórdia divinas por elas e, portanto, são incapazes de demonstrar misericórdia aos demais.
Se as pessoas tivessem um “eletrocardiograma espiritual”, perguntou certa vez o papa, ele seria achatado porque o coração está endurecido, imóvel e sem emoção, ou estaria pulsante com os impulsos do Espírito Santo?
Quer as pessoas reconheçam ou não, Deus é o verdadeiro pai, disse ele. “Antes de tudo, nos deu o DNA, isto é, nos fez filhos, nos criou à Sua imagem, à Sua imagem e semelhança, como Ele”.
Num encontro com os cardeais e chefes de dicastérios vaticanos na época de Natal, o papa explicou a reforma da Cúria Romana como algo mais do que um rejuvenescimento ou embelezamento dum corpo a envelhecer. Disse se tratar de um processo profundo de conversão pessoal.
Às vezes, disse ele, “fazer as reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes”.
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Inteligência e sagacidade: cinco anos de frases marcantes do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU