Papa visita mesquita de Istambul, mas, ao contrário de seus predecessores, opta por não rezar ali

Foto: Vatican News

Mais Lidos

  • Eles se esqueceram de Jesus: o clericalismo como veneno moral

    LER MAIS
  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Estereótipos como conservador ou progressista “ocultam a heterogeneidade das trajetórias, marcadas por classe, raça, gênero, religião e território” das juventudes, afirma a psicóloga

    Jovens ativistas das direitas radicais apostam no antagonismo e se compreendem como contracultura. Entrevista especial com Beatriz Besen

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

03 Dezembro 2025

Leão XIV visitou em 29 de novembro a icônica Mesquita Azul de Istambul, mas não fez uma parada para rezar, ao iniciar um dia intenso de encontros e liturgias com líderes cristãos da Turquia, ocasião em que voltou a enfatizar a necessidade de unidade entre os cristãos.

A informação é de Nicole Winfield, publicada por National Catholic Reporter, 02-11-2025. 

O Pontífice tirou os sapatos e, de meias brancas, percorreu a mesquita do século XVII, olhando para as suas cúpulas revestidas de azulejos e para as inscrições em árabe nas colunas, enquanto um imã as apontava para ele.

O Vaticano havia informado que Leão faria um breve momento de oração silenciosa na mesquita, mas isso não aconteceu. O imã da mesquita, Asgın Tunca, disse que havia convidado o papa para rezar, já que a mesquita era a casa de Alá, mas o pontífice recusou.

Mais tarde, o porta-voz atteo Bruni declarou: O papa viveu sua visita à mesquita em silêncio, em espírito de contemplação e escuta, com profundo respeito pelo lugar e pela fé daqueles que ali se reúnem em oração.

O Vaticano então enviou uma versão corrigida de seu boletim sobre a viagem, retirando a referência ao planejado momento de oração silenciosa, sem explicações adicionais.

Leão, o primeiro papa nascido nos EUA, seguiu os passos de seus predecessores recentes, que realizaram visitas de grande destaque à Mesquita Sultanahmet, seu nome oficial, como gesto de respeito à maioria muçulmana do país.

Visitas papais à Mesquita Azul costumam gerar dúvidas

Essas visitas sempre levantam a questão sobre se o papa rezaria numa casa de culto muçulmana ou, pelo menos, faria uma pausa meditativa em silêncio.

Quando Bento XVI visitou a Turquia em 2006, as tensões estavam altas, pois ele havia ofendido muitos no mundo muçulmano alguns meses antes com um discurso em Ratisbona, na Alemanha, amplamente interpretado como uma associação entre Islã e violência.

O Vaticano acrescentou a visita à Mesquita Azul de última hora, numa tentativa de aproximação, e Bento foi calorosamente acolhido. Ele fez um momento de oração silenciosa, com a cabeça inclinada, enquanto o imã rezava ao seu lado voltado para o leste.

Bento agradeceu depois por aquele momento de oração, que representou apenas a segunda vez na história em que um papa visitava uma mesquita; a primeira havia sido São João Paulo II, na Síria, em 2001.

Em 2014, não houve dúvidas sobre o gesto durante a visita do Papa Francisco: ele permaneceu por dois minutos em oração silenciosa voltado para o leste, cabeça inclinada, olhos fechados e mãos unidas. O Grão-Mufti de Istambul, Rahmi Yaran, comentou depois: Que Deus aceite.

Com Leão, no entanto, até mesmo o Vaticano pareceu pego de surpresa com sua decisão de não rezar. A Santa Sé precisou corrigir o registro oficial da visita depois de inicialmente manter a referência ao momento de oração planejado.

Após a visita, o imã Tunca disse aos jornalistas que havia dito ao papa: não é minha casa, nem sua casa, é a casa de Alá. Ele contou que disse a Leão: se quiser, pode rezar aqui. Mas ele respondeu: tudo bem.

Segundo o imã, Leão queria ver e sentir a atmosfera da mesquita, e ficou muito contente.

Houve outra mudança no programa oficial: o Vaticano havia informado que o chefe da Diretoria de Assuntos Religiosos da Turquia (Diyanet) acompanharia o papa na visita, mas ele não apareceu. Um porta-voz do Diyanet disse que isso não estava previsto, pois ele já havia recebido o papa em Ancara.

Hagia Sophia fica fora do itinerário

Papas anteriores também visitaram a Hagia Sophia, um dos marcos históricos mais importantes do cristianismo e patrimônio mundial da UNESCO.

Mas Leão deixou a Hagia Sophia fora de sua agenda. Em julho de 2020, a Turquia a reconverteu de museu para mesquita, o que gerou ampla crítica internacional, incluindo do Vaticano.

Após a visita à mesquita, Leão se encontrou em privado com líderes cristãos da Turquia na Igreja Ortodoxa Siríaca de Mor Ephrem. À tarde, era esperado que ele rezasse com o líder espiritual dos cristãos ortodoxos do mundo, o Patriarca Bartolomeu, na igreja patriarcal de São Jorge.

Ali, eles deveriam assinar uma declaração conjunta. Segundo o Vaticano, em sua fala aos patriarcas, Leão recordou que a divisão entre os cristãos é um obstáculo ao testemunho cristão.

Ele também fez referência ao próximo Ano Santo, que será celebrado em 2033, aniversário da crucificação de Cristo, e os convidou a ir juntos a Jerusalém numa jornada que conduza à plena unidade.

Leão encerraria o dia com uma missa na Volkswagen Arena de Istambul para a comunidade católica do país, composta por cerca de 33 mil fiéis em uma nação de mais de 85 milhões de habitantes, em sua maioria muçulmanos sunitas.

Atualização da Airbus afeta viagem do papa

Enquanto Leão se dedicava a aprofundar relações com ortodoxos e muçulmanos, os organizadores da viagem lidavam com questões práticas.

O avião Airbus A320neo fretado pela ITA Airways, que transporta o papa, foi um dos afetados por uma atualização global de software ordenada pela Agência Europeia de Segurança da Aviação. A medida veio após análise indicar que um problema no código pode ter contribuído para uma queda repentina de altitude de um avião da JetBlue no mês anterior.

O porta-voz do Vaticano, Bruni, disse que a ITA estava trabalhando na questão. Segundo ele, o componente necessário para a atualização estava a caminho de Istambul com o técnico responsável pela instalação.

Leão deve voar de Istambul para Beirute, no Líbano, em 30 de novembro, para a segunda etapa de sua primeira viagem como papa.

Leia mais