22 Abril 2025
Eles começam esta manhã, sob a orientação do Cardeal Decano. As Congregações Gerais acontecem no antigo salão sinodal. Durante as reuniões são elaborados programas, alianças e candidaturas tendo em vista o Conclave.
O artigo é de Iacopo Scaramuzzi, vaticanista e autor de vários livros focados no papado de Francisco, publicado por La Repubblica, 22-04-2025.
Abre-se hoje a primeira congregação geral, ou seja, a primeira das reuniões dos cardeais que governam a Igreja durante a sede vacante e precedem o Conclave. São o penúltimo passo, a investigação que antecede a decisão, as dores do parto antes do parto. Eles são o triunfo da palavra, das discussões, até mesmo dos conflitos abertos, diante do grande silêncio. O último momento de informalidade antes de o Vaticano entrar no momento mais solene da vida da Igreja: o “extra omnes”, a escolha sob o olhar da criação de Michelangelo e, finalmente, o anúncio do novo Papa.
As congregações gerais não são envolvidas pela aura sagrada do Conclave, mas são o momento crucial durante o qual as candidaturas nascem, tomam forma ou desaparecem. Somente os cardeais que entram no Conclave elegem o Papa, livremente, mas as reuniões que antecedem a eleição são como o "congresso do partido" que define a plataforma programática, elabora o identikit do melhor candidato e já seleciona os nomes que serão comparados no ábaco da Capela Sistina.
Foi durante as congregações gerais de 2013 que os cardeais vindos de fora de Roma colocaram em julgamento a gestão inteiramente italiana do Cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado de Ratzinger. Foi então que o Arcebispo de Buenos Aires fez um discurso, curto e inspirado, que começou a atrair o interesse admirado de todo o Colégio Cardinalício. Poucos dias depois, Jorge Mario Bergoglio entrou no Conclave vestido de vermelho e saiu vestido de branco. Foi aqui que, em 2005, os cardeais da Cúria cimentaram a candidatura do decano do colégio, Joseph Ratzinger, o mais fiel e prestigioso dos colaboradores de João Paulo II. Em 1978, foi durante as congregações gerais que os cardeais francês e alemão, que retornaram a Roma depois de pouco mais de um mês, devido à morte repentina de João Paulo I, fizeram suas apostas em um confrade polonês pouco conhecido, Karol Wojtyla.
As congregações gerais acontecem nos dias (15 a 20) entre a morte do Papa e o Conclave. Elas acontecem dentro do Vaticano, no novo Salão Sinodal. Participam os cardeais eleitores, ou seja, os menores de 80 anos que entrarão na Capela Sistina, bem como os maiores de 80 anos. O debate é conduzido pelo Decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, de 91 anos. Durante esse período, os cardeais podem viver no Vaticano, mas também fora: somente quando começa o Conclave, os cardeais, isolados do mundo, vivem na Casa Santa Marta, o hotel onde em 2013 Bergoglio decidiu se instalar, no segundo andar, abandonando o palácio apostólico.
O debate das congregações gerais acontece estritamente a portas fechadas, as informações oficiais do Vaticano pouco ou nada relatam. Lá fora, circulam boatos, poucos e não raro interessados em atestar que os votos para este ou aquele candidato estão crescendo. Lá dentro, o destino da Igreja é decidido, com debates francos e muitas vezes acalorados, bem como votações, compromissos e negociações. Durante os trabalhos no salão, e depois na hora do café, os cardeais se conhecem, se conhecem, pedem esclarecimentos uns aos outros, perguntam uns aos outros sobre suas posições anteriores em temas candentes, sobre seu estado de saúde, sondam possíveis candidatos para entender sua orientação, direção, possíveis alianças. Quando as congregações gerais terminam, o Conclave começa: é o momento em que tudo é decidido – tudo, exceto o que o “congresso do partido” estabeleceu.