28 Fevereiro 2025
“Francisco derrubou muros e abriu novos caminhos na Igreja. Os pobres e os últimos encontraram nele um defensor incansável”. Os católicos já estão pensando no conclave? “Eles espalham inaceitáveis fake news, não gostam do povo de Deus”. A renúncia? “Depende do diálogo do Pontífice com o Espírito Santo”. Palavra do Cardeal Augusto Paolo Lojudice. Sua vida é sempre uma vida ao lado dos necessitados, em todos os contextos e nas várias periferias: imigrantes, ciganos, jovens prostitutas, vítimas de drogas. Sem medo de desafiar as ruas do tráfico ou os poderosos gângsteres da área de Ostia, ameaçada pela máfia. Hoje ele é arcebispo de Siena-Colle di Val d'Elsa-Montalcino e pastor de Montepulciano-Chiusi-Pienza, depois de ter sido bispo auxiliar de Roma, portanto do Papa.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 26-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em todo o mundo, rezam por Bergoglio, até mesmo os não crentes participam. De onde vem a afeição por Francisco?
Acredito que, para além da pessoa de Francisco, o próprio papa é uma figura universal. Talvez porque a humanidade, independentemente da fé, reconheça no Pontífice uma figura de autoridade inigualável.
Isso, é claro, não significa que todos o aprovem: todo papa teve seus apoiadores e detratores. O Papa Francisco não é exceção: há aqueles que o amam e aqueles que o criticam. Mas seu compromisso com a paz, a justiça e os últimos conquistaram o coração de muitos, crentes e não crentes. Seu afeto pela humanidade é evidente e é retribuído.
Por falar em opositores, no recinto católico já há aqueles que pensam no próximo conclave. O que acha?
Parece-me que não há nada de novo, nem mesmo nisso. Infelizmente, isso sempre aconteceu. Sempre que um Papa está doente, certos ambientes fomentam essas fantasias, essas inaceitáveis fake news. As pessoas que espalham boatos dessa forma não estão muito interessadas no bem da Igreja ou no bem e na saúde do Santo Padre. Nesse sentido, o fenômeno da especulação infundada também deve ser enquadrado em uma sociedade caracterizada pela "hipercomunicação compulsiva".
Foram escritos romances sobre isso, há de tudo, nem sempre material edificante. Pelo contrário.
Que significado tem para a Igreja o fato de o Papa estar no hospital?
Em primeiro lugar, acredito que seja um forte sinal da humanidade do Papa. Ele é o Sumo Pontífice, o Vigário de Cristo, mas também é um homem como todos nós, com suas fragilidades, suas fraquezas e sua idade já não mais jovem. E é exatamente nessa condição que ele continua a dar testemunho de sua fé e de seu papel, mesmo com as limitações impostas pela doença. O Papa oferece um significado profundo ao sofrimento humano, o mesmo sofrimento que ele mesmo sempre denunciou como parte da ‘cultura do descarte’. Com sua experiência, ele se torna uma testemunha do sofrimento de tantos idosos e doentes. Mas ele o faz com o mesmo espírito com que sempre viveu seu pontificado: sentindo-se parte do povo de Deus, embora seja o bispo de Roma e tenha uma grande responsabilidade sobre seus ombros. É um testemunho grande e significativo.
Falar sobre Francisco também significa falar de seu empenho pelos pobres. O quanto os últimos sentem falta dele neste momento?
Muito. Na realidade, sua ausência é sentida em todos os níveis. Mas, certamente, os últimos encontraram nele um defensor incansável. Isso, é claro, não significa que os papas anteriores não tenham dado atenção aos pobres: a encíclica de Bento XVI intitulada Deus Caritas Est, especialmente em sua segunda parte, é um texto fundamental sobre a caridade. Francisco, no entanto, acelerou um processo que eu achava levaria pelo menos cinquenta anos. Ele derrubou muros e abriu novos caminhos na Igreja. Talvez só com o tempo conseguiremos compreender plenamente a envergadura de seu pontificado.
O que o senhor acha da hipótese de renunciar ao pontificado?
É possível. Vimos isso com Bento XVI. Bento foi profético ao demonstrar que o papa pode renunciar, e acredito que Francisco tem a liberdade interior para fazer o mesmo, caso julgue necessário. Se Francisco chegasse à convicção de que não está mais em condições de continuar, poderia tomar em consideração essa escolha. Mas essa é uma decisão totalmente pessoal, que depende apenas dele e, eu diria, de seu diálogo com o Espírito Santo. Nós só podemos rezar para que ele siga em frente o máximo possível. Mas se um dia ele decidir renunciar, eu o aceitaria com grande serenidade.
O senhor diria que a Igreja de Francisco é uma Igreja próxima e aberta a todos?
Sim, mas também é muitas outras coisas. Costumo dizer isso, mesmo àqueles que o atacam: digam-me uma única coisa que o Papa Francisco tenha dito ou feito que já não esteja no Evangelho. Até agora ninguém foi capaz de responder.