07 Janeiro 2025
"Em um contexto histórico de grave escassez de médicos, enfermeiros e agentes de saúde, ter amigos e parentes no hospital não só não custaria nada, como também ajudaria com a assistência básica, como dar uma bebida a alguém que está com sede, ajudá-lo a sair da cama ou a se alimentar. Na Itália, ao contrário, milhões de hospitalizações são acompanhadas por políticas de isolamento que têm efeitos devastadores sobre os idosos", escreve Vincenzo Paglia, presidente da Comissão para a Reorganização da Assistência à População Idosa, em artigo publicado por La Stampa, 04-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A tragédia do Covid, que consumiu a vida de centenas e centenas de milhares de idosos na Itália e em todo o mundo, falou-nos com eloquência sobre dois problemas de nosso tempo: a incapacidade de cuidar adequadamente dos idosos em suas casas e a alastrada pandemia da solidão. Vivi, com meus amigos e com muitos cidadãos de todas as partes da Itália, um sentimento de revolta contra essa situação. Não era e não é justo que os 30 anos de vida conquistados nos últimos dois séculos com a transição demográfica sejam “queimados” no isolamento, na marginalização e na mais humilhante das reclusões, exilados de casa, o lugar da memória e da identidade, privados até mesmo dos mínimos contatos de parentesco, convivência e pertencimento com nossa vizinhança e território.
A Lei 33 oferece não apenas uma abordagem holística para os problemas da terceira idade, mas também, e acima de tudo, uma ideia, uma visão dessa importante época da vida. Aos 65 anos, ainda se pode fazer muita coisa, pode-se estudar, trabalhar, aprender, manter relações humanas, fazer turismo, aproveitar a vida e, acima de tudo, ser útil aos outros e não desprezar nem mesmo a fragilidade que avança. Ainda me surpreendo ao ver idosos empreendedores, profissionais, artistas, cineastas, que descobriram que, depois de uma juventude e uma vida adulta vivida em nome do trabalho, competindo com outros, talvez até disputando posições, abriram-se anos de liberdade e generosidade. Anos vividos livremente para ajudar não apenas filhos e netos, mas também novas empresas ou iniciativas para os jovens, o meio ambiente, o trabalho e a paz. Depende do empenho dos idosos grande parte do mundo do voluntariado e da sociedade civil, do terceiro setor e do sindicato, da cultura e do mundo científico. Nada de idade do declínio e da doença! Nada de naufrágio e perda de si mesmo! Existe uma alternativa, mas sinto o dever de construí-la para todos, não apenas para aqueles particularmente afortunados ou talentosos.
A Lei 33 se preocupa com a condição dos idosos, que não é, em sua certamente dramática extensão, a não autossuficiência, mas a fragilidade. O risco de “romper-se”, de “quebrar-se” sem um apoio adequado, sem uma vida ativa, sem as condições econômicas e de bem-estar necessárias, é universal, é de todos e deve ser controlado e prevenido.
Paradoxalmente, nos “quebramos” com mais frequência e mais severidade nos locais de cuidados residenciais, nas casas de repouso, nos hospitais. Os geriatras confirmam que há uma deficiência que é adquirida precisamente no hospital. Uma análise recente mede em 30% a chamada incapacidade associada à hospitalização. É paradoxal: o local de cuidado por excelência, por um lado, salva as vidas, mas, por outro, produz idosos que saem incapazes de se levantar, incontinentes, confusos e assim por diante. O que pode ser feito?
Em primeiro lugar, repensar o hospital a partir de uma perspectiva “higienista”, ou seja, que seja uma instalação na qual também se dá atenção à companhia, à nutrição, à reabilitação física, colocando o paciente realmente no centro, e não seu prontuário médico, sua patologia. O que a Sociedade de Geriatria e Gerontologia vem dizendo há algum tempo deve ser motivo de reflexão: deve ser dada a oportunidade a parentes e ao voluntariado de ficar com os pacientes idosos pelo tempo que desejarem. As instalações devem ser abertas.
Infelizmente, isso não acontece. Pelo contrário, durante as festas, o triste e cruel hábito de levar os idosos para o hospital para que se possa sair livremente nas férias continua!
No espírito da Lei 33, o cuidado - entendido como um processo terapêutico e holístico - não é prerrogativa apenas dos profissionais de saúde - médicos e enfermeiros - mas de todos. Sim, todos temos o direito e o dever de cuidar e permanecer perto dos doentes. E se há algo que as pesquisas já estabeleceram, é o valor terapêutico da visita. Muitos estudos comprovam abundantemente que visitas mais frequentes e mais longas melhoram a saúde do paciente. Também foi constatado que os visitantes podem reduzir o risco de danos ao paciente, por exemplo, alertando a equipe de saúde sobre a deterioração das condições clínicas, ajudando a evitar quedas, identificando erros de medicação, prevenindo reações alérgicas e melhorando a rapidez de resposta da equipe em casos de emergências. As políticas de visitantes em muitos países do norte da Europa estabelecem regras simples de entrada (sem doenças respiratórias com sintomas aparentes, lavar as mãos etc.) e permitem que mais pessoas tenham acesso aos quartos por 10 a 12 horas por dia.
Um estudo que relata o acesso aberto e possível em unidades de terapia intensiva relata o nível mais alto na Suécia, com 70% das instalações abertas a visitantes, e o mais baixo - adivinhe onde? - na Itália, com 1%.
Em um contexto histórico de grave escassez de médicos, enfermeiros e agentes de saúde, ter amigos e parentes no hospital não só não custaria nada, como também ajudaria com a assistência básica, como dar uma bebida a alguém que está com sede, ajudá-lo a sair da cama ou a se alimentar. Na Itália, ao contrário, milhões de hospitalizações são acompanhadas por políticas de isolamento que têm efeitos devastadores sobre os idosos. A “Carta dos Direitos dos Idosos e dos Deveres da Comunidade” - elaborada pela Comissão para a Reforma no início dos nossos trabalhos - é eloquente: a proteção contra a solidão é um direito, um dever que deve ser cumprido também e sobretudo em situações de maior fragilidade, como a hospitalização ou a institucionalização. A solidão e o isolamento social são, de fato, uma nova pandemia e não podemos pretender enfrentá-la com uma mentalidade ultrapassada que acha que os problemas se resolvem medicalizando-os. Pelo contrário, lembremo-nos de que o cuidado começa com uma visita, um gesto de amizade, um telefonema, uma lembrança compartilhada. Isso é verdade para os idosos, mas também para os jovens, o fato de estar sozinho muitas vezes é o verdadeiro drama. Voltemos a nos preocupar com os outros, especialmente com os mais fracos, e teremos mudado a face desumana de nossa sociedade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Não deixemos nossos idosos sozinhos. Cuidados mais eficazes com os familiares mais próximos. Artigo de Vincenzo Paglia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU