17 Janeiro 2025
"Quanto ao motivo pelo qual foram necessários mais 250 dias para concluir uma negociação, circulam várias hipóteses. A começar pela iminente chegada de Trump à Casa Branca. Nesse meio tempo, a crise militar com o Líbano havia sido aberta, houve pelo menos dois confrontos militares a distância com o Irã, as operações de inteligência israelense contra o Hezbollah, o Hamas e o Irã e, finalmente, a derrubada de Assad na Síria", escreve Nello Scavo repórter internacional, em artigo publicado por Avvenire, 16-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Com exceção de alguns detalhes, o acordo entre Israel e o Hamas não parece muito diferente do “quase entendimento” de oito meses atrás, quando os milicianos alegavam ter aceitado a proposta estadunidense, acusando Tel Aviv de primeiro tergiversar e depois dar as costas aos mediadores. A liderança israelense havia respondido fazendo as mesmas acusações contra o Hamas: “Os terroristas não cumprem a palavra e sempre apresentam novas e não acordadas condições”.
Além de perguntar quem teria sabotado os acordos, é preciso perguntar o que mudou nesses longos meses de guerra? Os reféns permaneceram nas mãos dos terroristas, e é provável que alguns deles tenham sido deliberadamente mortos nesse meio tempo, enquanto outros perderam a vida devido às duras condições do cativeiro e aos bombardeios incessantes que já haviam dizimado o número original de civis e militares mantidos pelo Hamas e por outras facções em luta na Faixa. O número de mortos em Gaza não conheceu nenhuma trégua.
De acordo com as autoridades do Hamas, que ainda controlam o que resta das instituições palestinas na Faixa, estamos próximos dos 50.000 mortos, em boa parte civis desarmados, entre eles milhares de mulheres e crianças.
Muitos mais são os mutilados, enquanto quase ninguém em Gaza ficou em sua casa durante todo o conflito, transformando a língua de terra palestina entre Israel e o Egito em um enorme campo de refugiados sem áreas realmente seguras onde encontrar abrigo longe do fogo cruzado.
Organizações humanitárias e centros de estudo para análise forense, com base em imagens de satélite e informações no local, preconizam um massacre maior do que os números ainda assim contestados (por Israel) fornecidos pelo Hamas. Na mídia, circulam as vozes dos indefectíveis retrógrados, que se perguntam se por acaso não havia há tempo um acordo por baixo dos panos entre Netanyahu e Trump, para que Israel pudesse continuar a combater sem muitas restrições. Quanto ao motivo pelo qual foram necessários mais 250 dias para concluir uma negociação, circulam várias hipóteses. A começar pela iminente chegada de Trump à Casa Branca. Nesse meio tempo, a crise militar com o Líbano havia sido aberta, houve pelo menos dois confrontos militares a distância com o Irã, as operações de inteligência israelense contra o Hezbollah, o Hamas e o Irã e, finalmente, a derrubada de Assad na Síria.
Há, no entanto, uma voz não desmentida vinda de dentro do governo israelense que reivindica ter sabotado o acordo por muito tempo. É aquela do ministro da Segurança Nacional, Ben Gvir, membro da extrema direita israelense. “No último ano, por meio de nosso poder político, conseguimos impedir repetidamente que esse acordo fosse finalizado”. Ben Gvir, que também não aprovou o acordo desta vez, permaneceu no governo durante todo esse tempo. Quem foi afastado é Yoav Gallant, até alguns meses atrás ministro da defesa e coacusado com Netanyahu na investigação por supostos crimes israelenses (separada, mas paralela à investigação sobre os crimes do Hamas) conduzida pelo Tribunal Penal Internacional. Após ser afastado, Gallant havia declarado que Israel havia alcançado todos os seus objetivos em Gaza já em julho, repreendendo a obstinação de Netanyahu.
Meses de detenção para os reféns e de massacres para os palestinos de Gaza que poderiam ter sido evitados.
Não é coincidência que, nessas horas em Haia, também estejam analisando o que está acontecendo na Itália. Onde o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa'ar, se reuniu, entre outros, com o Ministro da Justiça Carlo Nordio, supostamente pedir um salvo-conduto para Netanyahu, procurado internacionalmente, caso ele fosse para a cidade que deu nome ao ato fundador do tribunal internacional: o “Estatuto de Roma”.
Segundo informa o jornal Repubblica, 17-01-2025, “Netanyahu retomará a guerra após a primeira fase do acordo”.
Segundo o jornal, as exigências do Ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, ao Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu para que Israel continue a guerra contra o Hamas em Gaza assim que a primeira fase do acordo esteja concluída e tenha controle sobre a distribuição da ajuda humanitária, foram aceites. A mídia judaica noticiou isso, acrescentando que Smotrich e seu partido, o Sionismo Religioso, votarão contra o acordo, mas permanecerão no governo. Ontem à noite, Itamar Ben Gvir, membro da coligação de extrema-direita de Smotrich, disse que o seu partido Otzma Yehudit deixaria o governo se o acordo fosse aprovado!.