06 Janeiro 2025
Desta vez ele ficou de pé. O Papa Francisco tinha ficado na cadeira de rodas na véspera de Natal, quando abriu o Ano Santo no átrio da Basílica de São Pedro em transmissão mundial ao vivo. Ele tem 88 anos e caminha com dificuldade. Mas ontem, para abrir a segunda porta santa do “Jubileu da Esperança”, ele se levantou e, com passos instáveis, apoiando-se no padre Benoni Ambarus, bispo auxiliar de Roma para a caridade, bateu à porta de bronze da capela da prisão romana de Rebibbia, e silenciosamente cruzou a soleira a pé. Um esforço proporcional à excepcionalidade do evento: é a primeira vez na história que um pontífice abre uma porta santa em uma prisão.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 27-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se em 2015 ele havia antecipado o início do Jubileu extraordinário abrindo uma Porta Santa na catedral de Bangui, na República Centro-Africana, agora o pontífice argentino escolheu uma prisão - “catedral da dor e da esperança”, como ele a definiu mais tarde no Angelus - para mostrar plasticamente a sua ideia de uma Igreja próxima aos abandonados, descentralizada em relação ao Vaticano. Ele deixou para seus colaboradores a tarefa de abrir as portas santas das outras basílicas papais nos próximos dias.
“Não percam a esperança, esta é a mensagem que gostaria de lhes transmitir”, disse Francisco na breve homilia que proferiu de improviso durante a missa: ”Nos momentos ruins, pensamos, inclusive eu, que tudo acabou, nada se resolve, mas a esperança nunca decepciona. Gosto de pensar na esperança como a âncora que está na beira e nós com a corda ficamos ali, seguros. Às vezes a corda é dura e machuca as nossas mãos... mas com a corda na mão, olhando para a beira, a âncora nos leva adiante. Sempre há algo bom, algo que nos faz seguir em frente”.
O Papa Francisco está ciente do paradoxo: em uma prisão, as portas para os detentos permanecem fechadas.
“É um belo gesto abrir as portas, mas o mais importante é o que isso significa: abrir o coração”, explica ele. “Quando o coração está fechado, ele se torna duro como pedra e se esquece da ternura. Mesmo nas situações mais difíceis - cada um de nós tem a sua, mais fácil, mais difícil, eu penso em vocês - sempre o coração aberto. O coração é exatamente o que nos torna irmãos. Abram as portas do coração. Todos sabem como fazer isso. Todo mundo sabe onde a porta está fechada ou meio fechada”. O Papa se mantém afastado de temas explicitamente políticos. Na bula que anunciou o jubileu, Spes non confundit (a esperança não decepciona), ele apelou para “formas de anistia ou perdão da pena” para os detentos e “percursos de reintegração” dedicados a eles. Mas com o Ministro da Justiça Carlo Nordio, que o recebe na prisão, ele não fala sobre isso. A visita em si, no entanto, é um holofote sobre a situação carcerária italiana e provoca comentários. “A decisão do Papa de abrir a porta santa em Rebibbia empenha todos nós a abordar a questão das prisões”, comenta Antonio Tajani.
É preciso “intervir sobre a prisão preventiva, penas comunitárias para dependentes químicos, mais juízes de vigilância e agentes penitenciários”, diz o secretário de Forza Italia, “a pena é a privação da liberdade, não da dignidade’. Da Liga, o ex-general Roberto Vannacci não perde a oportunidade e expressa solidariedade com as “vítimas da delinquência” e “não com os prisioneiros que estão cumprindo a justa pena por seus delitos”. Para Riccardo Magi, secretário de +Europa, “diante da superlotação e recordes de suicídios, uma negação do sentido constitucional da pena, o governo Meloni não fez nada além de agravar a situação com a invenção contínua e compulsiva de novos crimes e aumentos de pena”.
Francisco usa a chave da proximidade pessoal. Durante seu pontificado, visitou mais de vinte prisões em todo o mundo: “Toda vez”, repete também em Rebibbia, “a primeira pergunta que faço a mim mesmo é por que eles e não eu”. Esperando por ele está o Cardeal José Tolentino de Mendonça, seu Ministro da Cultura, que lhe mostra uma obra de seis metros criada pela artista Marinella Senatore com frases em diferentes idiomas e dialetos escritas pelos prisioneiros. No final, Bergoglio cumprimenta um a um trezentos prisioneiros e agentes da polícia penitenciária. Ele envia uma saudação àqueles que permaneceram em suas celas e assegura aos presentes: “Todos os dias eu rezo por vocês: realmente, não é uma figura de linguagem”. Aqui, ele comenta em sua saída, “não há peixes grandes, mas peixes pequenos”. Hoje, ele sorri, “a prisão se tornou uma basílica como qualquer outra”. Afinal, “no dia do julgamento, seremos julgados por isto: eu estava na prisão e você me visitou”.