17 Agosto 2024
”A noite se aproxima, da floresta vem um barulho de galhos quebrados à distância. Pessoas que gostariam de passar despercebidas, mas também de receber toda a ajuda possível. Poupam a bateria (do celular) como se fosse água, porque sem ela não sobreviveriam”, escreveu on-line há algum tempo Mateusz Rybak, um jovem polonês de 17 anos. Sua floresta, a poucos passos de casa, é uma das maiores áreas de floresta primária mista que sobreviveram na Europa: carvalhos, pinheiros, amieiros, tílias, um patrimônio da humanidade da Polônia oriental, do outro lado da fronteira, da Bielorrússia ocidental. Do outro lado da fronteira e além da barreira de aço construída para barrar aqueles que, em 2021, começavam a percorrer essa nova rota de migração, a floresta continua inalterada, a mesma em ambos os lados.
A reportagem é de Francesca Ghirardelli, publicada por Avvenire, 09-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do vilarejo de Bialowieza, uma estrada de terra leva a trilhas mais tortuosas. É ali que a vegetação rasteira ganha espaço e, depois, o controle, dando vigor à infinita variedade de verde que se eleva até o céu. “Como começou? Fui para a floresta para ver a situação. Queria verificar se realmente havia criminosos e terroristas como a mídia e o governo diziam. Eu tinha 14 anos e fui para lá com meu pai Michal e minha mãe Agnieszka. O primeiro grupo que encontramos era uma família, com 11 membros. Eram pessoas, seres humanos”, conta Mateusz à mesa de um café em Bialowieza, onde mora, a dois quilômetros da fronteira. “Nós os ajudamos com comida.
Desde então, desde 2021, tenho ido à floresta para levar ajuda quase todos os dias.” Desde aquele ano, começaram a chegar sírios, iraquianos, iemenitas, afegãos, somalis, depois etíopes e eritreus. Na mata interminável, depois de terem cruzado secretamente a fronteira (que também é a fronteira externa da UE), ainda hoje ficam bloqueados, ficam sem água e comida, perdem o rumo, as forças, as esperanças, alguns até mesmo a vida. Eles são detidos pelas autoridades e, muitas vezes, mandados de volta para a Bielorrússia, rejeitados coletivamente, de forma violenta. “É impossível estar preparado para essa rota, porque não se pode saber quantos dias se passará na floresta. Normalmente, uma, duas ou três semanas”, explica o jovem.
Entre 2021 e 2022, Bialowieza ficou isolada por dez meses, zona vermelha militarizada, com 2.500 agentes destacados para a “guerra híbrida” que Minsk e Moscou foram acusados de travar contra a União Europeia, facilitando os migrantes, aproveitando-se de suas esperanças e de seu dinheiro.
Ainda agora, há um vaivém de veículos da polícia, do exército e da guarda de fronteira. “Sempre há pessoas chegando, exceto no inverno. A barreira de 2022 não segura ninguém, eles a escalam ou abrem brechas”, afirma Mateusz. “Eles entram em contato comigo pelo Messenger ou pelo telefone, nós levamos água, comida, roupas e carregadores portáteis. Eu me desloco com ativistas de ONGs como Poph e Grupa Granica”. Tanta dedicação não passou despercebida: o jovem está entre os candidatos à Medalha da Liberdade de Expressão, um prêmio nacional, e no dia 30 de agosto saberemos se ele ganhou. Após o término do verão, ele voltará a seus estudos de informática. “Nenhum dos meus colegas vem comigo para a floresta. Eles são racistas. Muitas pessoas no Instagram me ameaçam pelo que eu faço”. Ele não se intimida. Em um post, junto com a foto de uma família com filhos pequenos, escreve: “O que essas crianças fizeram para merecer ficar sentadas, com fome, na floresta? Sr. Duszczyk (subsecretário do Interior, ndr.), por favor, ajude-as! Sabe onde estão, porque as patrulhas estão lá na frente delas”.
Como outros ativistas, confirma que os migrantes continuam chegando da mesma forma que em 2021. “De avião até a Turquia, depois voam para Moscou (no passado, diretamente para Minsk), depois para a Bielorrússia”, declara. “Se há três anos os guardas poloneses o mandavam embora imediatamente, recentemente os pedidos de proteção internacional apresentadas com os ativistas começaram a ser respeitados. Esse foi o caso até a morte de um soldado (esfaqueado em maio perto do muro, ndr.) e agora as rejeições foram retomadas, mesmo daqueles que pedem proteção. É uma loteria”. Na floresta nesses meses, Mateusz tem ajudado ao lado de “Mariusz” Czlowiek Lasu, um especialista em primeiros socorros da ONG Poph. “Ele ajudou cerca de três mil pessoas. E encontrou sete cadáveres”, conta o jovem.
Também nos encontramos com Mariusz, que é muito esquivo, mas que confirma: “Ao longo dos anos, vi todos os tipos de emergências, ossos quebrados e cortes causados por quedas da barreira e espancamentos por policiais poloneses e bielorrussos”. Esses são dias de poucas chegadas em Bialowieza, quase suspensas devido a um exercício militar com soldados chineses no lado bielorrusso. O vento sopra tão forte que um rugido prolongado vem da floresta. “Há apenas alguns dias, contudo, o silêncio era absoluto”, aponta Grazyna Chyra, guia florestal que em 2021 era uma das ‘lanternas verdes’, os moradores que colocavam luzes em suas janelas para sinalizar sua disposição de ajudar os estrangeiros em trânsito. Mesmo agora, os migrantes se aproximam das casas para pedir água e comida.
“A população os sustenta, eu acho, mas prefere não falar nada. Tem medo do que os outros pensam. Mas não conheço ninguém que tenha dito não a um pedido de ajuda”. Há três meses, enquanto acompanhava turistas na floresta, ela se deparou com um grupo em dificuldades. “Uma garota árabe gritava desesperada que estava perdida, ela nos mostrou seu celular destruído pelos guardas poloneses. Os companheiros estavam falando sobre rejeições”. Em seguida, acrescenta: “Os veículos militares, o barulho, as luzes das patrulhas, até mesmo o impacto sobre o ecossistema é grave, não era assim desde a época do czar ou da Primeira Guerra Mundial. Há uma grande mobilização de forças, porque agora dizem que os que chegam estão mais armados e agressivos. Mas essa fronteira é mais para os políticos, cada um a usa como quer”. Mateusz também pensa assim. Antes de nos despedirmos, perguntamos se ele sente orgulho do que faz. “Quando uma emergência termina, não me sinto nem um pouco especial. Faço o que me parece normal, como sempre deveria ser”.
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“Eu, na floresta polonesa das rejeições, procurava terroristas, encontrei pessoas desesperadas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU