09 Dezembro 2021
Há um fio que liga a rota dos Bálcãs à bielo-russa, os campos de prisioneiros da Líbia à cerca ao redor do favelas nas ilhas gregas. É um arame farpado que continua repelindo e matando.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada em Avvenire, 07-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E ultrapassá-lo não faz ninguém se sentir seguro. Como a família curda que a União Europeia conseguiu alcançar depois de semanas na floresta. Primeiro no lado de Minsk e depois, no polonês.
Escondidos por medo de serem deportados.
Pai, mãe, cinco filhos e outro a caminho aprenderam rapidamente que não haveria piedade nem mesmo para o bebê na barriga. Por isso, permaneceram no meio das árvores, esperando chegar à Alemanha ou a outro país com uma reputação diferente daquela que a Polônia das expulsões conquistou.
Até que um grupo de voluntários da organização católica Fundacia Dialog os encontrou no frio, com a mulher já exausta. Quando a levaram ao hospital, os médicos tiveram que fazer uma cesariana. O bebê estava morto há três semanas, e a septicemia não lhe deixaria escapatória. Ela foi internada no dia 11 de novembro e morreu após uma longa agonia no dia 3 de dezembro.
A emergência humanitária bate todos os dias à porta do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo. Tanto aqueles que ficam presos atrás da barreira quanto aqueles que conseguem passar por ela imploram ao tribunal que ordene a Varsóvia que não os expulse. É o que afirma o próprio tribunal em um comunicado em que explica que, atualmente, os juízes estão acompanhando 28 processos.
O tribunal recebeu um total de 47 pedidos de intervenção de um total de 198 migrantes entre os dias 20 de agosto e 3 de dezembro. A maioria (44) vem da Polônia. Apenas em três casos o pedido de medidas urgentes foi rejeitado. Nos outros casos, os governos asseguraram que não expulsarão os migrantes que estão no seu território, seja porque os migrantes não estão mais ao longo da fronteira com a Bielorrússia, seja porque é impossível contactá-los.
Porém, nem todos conseguem contratar um advogado. E o presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, o italiano Francesco Rocca, no decorrer de um encontro com Vladimir Putin, também renovou ao chefe do Kremlin, a quem não faltou o apoio ao ditador bielorrusso Lukhashenko, a preocupação pelas violações dos direitos humanos.
“Quantas mães grávidas encontraram a morte às pressas e em viagem, enquanto carregavam a vida em seus ventres!”, exclamou o Papa Francisco na Ilha de Lesbos. Como Avin Irfan Zahir, de 39 anos. A morte foi registrada na última sexta-feira, em um hospital polonês. Exposta ao frio, exausta devido às caminhadas, desidratada e com pouca comida, ela começou a se sentir mal no fim de outubro. Até que, finalmente, ela e sua família conseguiram chegar à fronteira da União Europeia.
Eles tiveram que se esconder ainda, na esperança de recuperar as forças e deixar para trás a faixa da fronteira e sair da Polônia o mais rápido possível. Não é fácil passar despercebido quando se viaja em sete pessoas. Não é fácil quando você sabe que pedir ajuda pode custar o futuro dos seus outros filhos.
Três dias após a hospitalização da mulher, o pai e os outros filhos já estavam em um cemitério islâmico enterrando o filho nascituro, que havia morrido no útero cerca de 20 dias antes, disseram os médicos. Um pequeno monte de terra ao lado dos de outros refugiados mortos pela guerra contra os direitos humanos.
Durante todo esse tempo, eles não puderam rever a mãe. Nem mesmo para uma carícia. Rezaram e esperaram até sexta-feira.
De acordo com alguns meios de comunicação poloneses, o governo de Varsóvia vai usar 25 milhões de euros [158 milhões de reais] de fundos europeus para concluir a construção do muro na fronteira com a Bielorrússia e impedir a chegada de migrantes.
Bastaria muito menos para não forçar uma mãe e seus filhos a se esconderem na floresta. Agora que há dois montinhos de terra no cemitério de Hajnówka, um para o bebê morto no ventre e outro para a mãe que não sobreviveu, o pai e os quatro filhos provavelmente nunca mais deixarão a Polônia. Obterão a proteção internacional. Tarde demais para recomeçar juntos e para mudar de opinião sobre o futuro da Europa.
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Mulher grávida morre na fronteira com a Polônia: morava na floresta para evitar a expulsão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU