18 Março 2024
"Em nenhum momento, desde que a primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, a humanidade esteve tão perto do impensável. Todas as salvaguardas da era da Guerra Fria que classificavam a bomba nuclear como “uma arma de último recurso” foram eliminadas". A reflexão é de Michel Chossudovsky, economista canadense, publicada por Observatorio de la Crisis, 08-03-2024. A tradução é do Cepat.
A história da doutrina dos Estados Unidos relativa a uma guerra nuclear é assustadora: apenas seis semanas após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, o Departamento de Guerra dos EUA decidiu lançar um plano secreto para bombardear 66 cidades da União Soviética com 204 bombas atômicas.
Segundo documentos desclassificados pelo governo estadunidense, o plano elaborado em 15 de setembro de 1945 tinha como objetivo “varrer a União Soviética do mapa” num momento em que os Estados Unidos e a URSS eram aliados. Hiroshima e Nagasaki foram apenas um “ensaio geral”.
A declaração de Vladimir Putin de 21 de fevereiro de 2022 foi uma resposta às ameaças dos EUA de usar preventivamente armas nucleares contra a Rússia, apesar da “garantia” Joe Biden de que “os Estados Unidos não recorreriam a um primeiro ataque nuclear contra um inimigo da América”:
“Deixe-me, disse Putin, explicar-lhes que os documentos de planejamento estratégico dos EUA contêm a possibilidade de um ‘ataque preventivo’ contra sistemas de mísseis inimigos. E quem é o principal inimigo dos Estados Unidos e da OTAN? Nós sabemos isso. É a Rússia. Nos documentos da OTAN, o nosso país é declarado oficial e diretamente como a principal ameaça à segurança do Atlântico Norte. E a Ucrânia é considerada um trampolim para o ataque” (Discurso de Putin, 21 de fevereiro de 2022).
Em julho de 2021, a administração Biden lançou a sua Revisão da Postura Nuclear (NPR), que foi formalmente anunciada em outubro de 2022. A NPR de 2022 inclui o que é descrito como uma “nova política nuclear dos Estados Unidos”.
A NPR de 2022 confirma as opções nucleares desenvolvidas pelas administrações de Obama e Bush baseadas na noção de guerra nuclear preventiva denunciada no discurso do presidente Putin.
A doutrina nuclear estadunidense subjacente é apresentar as armas nucleares como um meio de “autodefesa” e não como uma “arma de destruição em massa”. A NPR não descarta a possibilidade de um “primeiro ataque” nuclear contra a Rússia.
De acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA:
A NPR [2022] sugere que os Estados Unidos podem usar armas nucleares em circunstâncias que não envolvam o uso de armas nucleares por parte de potenciais adversários. A análise também afirma que ‘uma dissuasão nuclear eficaz é fundamental para uma estratégia mais ampla de defesa dos EUA (…)’.
Se a dissuasão fracassar, ‘os Estados Unidos procurarão pôr fim ao conflito com o nível de dano mais baixo possível e nos melhores termos possíveis’, linguagem que implica que os Estados Unidos poderiam usar armas nucleares para outros fins que não a dissuasão (Relatórios CRS. Congresso dos EUA 2022 NPR).
Deve-se entender que por trás da NPR estão poderosos interesses financeiros que estão vinculados ao programa de armas nucleares de 1,3 bilhão de dólares iniciado durante a presidência de Obama.
Embora o conflito na Ucrânia tenha sido até agora limitado a armas convencionais combinadas com “guerra econômica”, a utilização de uma ampla variedade de sofisticadas armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares, “está sobre a mesa do Pentágono”.
Uma narrativa muito perigosa: a NPR propõe “maior integração do planejamento nuclear e convencional”, que consiste em classificar as armas nucleares táticas (B61-11 e 12) como armas convencionais, para serem utilizadas preventivamente num teatro de guerra convencional.
Segundo a Federação de Cientistas Estadunidenses, o número total de ogivas nucleares em todo o mundo é da ordem de 13.000. A Rússia e os Estados Unidos “têm, cada um, cerca de 4.000 ogivas nos seus arsenais militares”.
O governo de Joe Biden planeja aumentar os recursos públicos destinados às armas nucleares para 2 trilhões de dólares até 2030, supostamente como um meio de salvaguardar a paz e a segurança nacional, tudo à custa dos contribuintes estadunidenses. (Quantas escolas e hospitais poderiam ser financiados com 2 trilhões de dólares?)
Os Estados Unidos mantêm um arsenal de cerca de 1.700 ogivas nucleares estratégicas implantadas em mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) e mísseis balísticos lançados a partir de submarinos (SLBMs) e de bases de bombardeiros estratégicos.
Existem outras 100 armas nucleares táticas em bases de cinco países europeus e cerca de 2.000 ogivas nucleares armazenadas. O Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO) estimou em maio de 2021 que os Estados Unidos gastarão um total de 634 bilhões de dólares nos próximos 10 anos para manter e modernizar o seu arsenal nuclear.
A maioria das pessoas nos Estados Unidos não sabe que o Projeto Manhattan, imediatamente após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, pretendia lançar um ataque nuclear contra a URSS, num momento em que a União Soviética e os Estados Unidos ainda eram aliados.
De acordo com documentos desclassificados em 1975, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos desenvolveu um programa, em 15 de setembro de 1945, para lançar mais de 200 bombas atômicas sobre 66 cidades da União Soviética. Silenciado durante décadas pelos livros de história e pela imprensa, agora pode ser visto clicando aqui.
Os Estados Unidos e seus aliados ameaçam a Rússia há mais de 104 anos, tendo começado durante a Primeira Guerra Mundial com o envio de forças estadunidenses e aliadas contra a Rússia soviética em 12 de janeiro de 1918 para apoiar o exército czarista (apenas dois meses depois da tomada do poder pela revolução de 7 de novembro de 1917).
A invasão da Rússia pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, entre outros países ocidentais, em 1918, é um marco na história russa, muitas vezes retratada erroneamente como parte de uma Guerra Civil. Durou mais de dois anos e envolveu o envio de mais de 200 mil soldados, dos quais 11 mil eram dos Estados Unidos e 59 mil do Reino Unido. O Japão, que foi aliado da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial, enviou 70 mil soldados.
A ameaça estadunidense de uma guerra nuclear contra a Rússia foi feita há mais de 78 anos, em setembro de 1945, quando os Estados Unidos e a União Soviética eram aliados. Consistia num “Plano de Guerra Nuclear” que visava 66 cidades soviéticas com mais de 200 bombas atômicas.
Este diabólico projeto, parte do Projeto Manhattan, foi decisivo para desencadear a Guerra Fria e a corrida armamentista nuclear.
• 1918-1920: as primeiras forças estadunidenses e aliadas lideraram a guerra contra a Rússia soviética, e mais de 10 países enviaram tropas para lutar ao lado do Exército Imperial contra o Exército Vermelho. Isto ocorreu exatamente dois meses após a Revolução de Outubro, em 12 de janeiro de 1918, e durou até o início da década de 1920.
• O Projeto Manhattan teve início em 1939, com a participação do Reino Unido e do Canadá. Seu objetivo: desenvolver a bomba atômica.
• Operação Barbarossa, junho de 1941. Invasão nazista da União Soviética. A Standard Oil de Nova Jersey forneceu petróleo para a Alemanha nazista até 1945.
• Fevereiro de 1945: Conferência de Yalta. Encontro de Roosevelt, Churchill e Stalin.
• A Operação Impensável: o plano de ataque secreto contra a União Soviética formulado por Winston Churchill imediatamente após a Conferência de Yalta foi descartado em junho de 1945.
• 12 de abril de 1945: Conferência de Potsdam. O presidente Harry Truman e o primeiro-ministro Winston Churchill aprovam o bombardeio atômico do Japão.
• 15 de setembro de 1945: num cenário de Terceira Guerra Mundial formulado pelo Departamento de Guerra dos Estados Unidos, propõe um plano para bombardear 66 cidades na União Soviética com 204 bombas atômicas. Isto apesar de os Estados Unidos e a URSS serem aliados. Este plano secreto (desclassificado em 1975) foi formulado duas semanas após o fim oficial da Segunda Guerra Mundial, em 2 de setembro de 1945.
• 1949: a União Soviética anuncia o teste da sua bomba nuclear.
A doutrina de Mútua Destruição Assegurada (MAD) da época da Guerra Fria já não existe mais. Foi substituída no início da administração George W. Bush pela Doutrina da Guerra Nuclear Preventiva, ou seja, o uso de armas nucleares como meio de “autodefesa” contra Estados nucleares ou não nucleares.
No início de 2002, o texto da Revisão da Postura Nuclear de George W. Bush já havia vazado, vários meses antes da publicação da Estratégia de Segurança Nacional (NSS), e definia “prevenção” como “o uso antecipado da força diante de um ataque iminente”.
A doutrina MAD foi descartada. A Revisão da Postura Nuclear de 2001 não apenas redefiniu o uso de armas nucleares, mas a partir desse momento as chamadas armas nucleares táticas ou bombas de destruição de bunkers (mininucleares) poderiam ser usadas no palco de guerra convencional sem a autorização do Comandante em Chefe, ou seja, o presidente dos Estados Unidos.
Sete países foram identificados na NPR como alvos potenciais para um ataque nuclear preventivo. Ao analisar os “requisitos de capacidade de ataque nuclear”, o relatório lista o Irã, o Iraque, a Líbia, a Coreia do Norte e a Síria como “países que poderiam estar envolvidos em contingências imediatas, potenciais ou inesperadas”.
Desde então, três destes países (Iraque, Líbia e Síria) foram sujeitos a guerras lideradas pelos EUA. A NPR de 2001 também confirmou a continuação dos preparativos para a guerra nuclear contra a China e a Rússia.
A análise de Bush também indica que os Estados Unidos deveriam estar preparados para usar armas nucleares contra a China, citando “a combinação dos objetivos estratégicos ainda em desenvolvimento da China e a modernização das suas forças nucleares e não nucleares’.
Finalmente, embora a revisão repita as afirmações da administração Bush (a Rússia já não é um inimigo), diz que os Estados Unidos devem estar preparados para contingências nucleares com a Rússia e observa que, se “as relações com a Rússia piorarem no futuro”, os Estados Unidos devem “rever os níveis e a postura da sua força nuclear”. Em última análise, o documento conclui que um conflito nuclear com a Rússia é “plausível”, mas “não esperado” [isto foi em 2002].
À medida que as tensões aumentavam nas principais regiões do mundo, estava sendo desenvolvida uma nova geração de tecnologia de armas nucleares que tornava a guerra nuclear uma perspectiva muito real.
Com muito pouco alarde, os Estados Unidos embarcaram na privatização da guerra nuclear sob a doutrina “preventiva” do primeiro ataque. Este processo entrou em pleno apogeu imediatamente após a Revisão da Postura Nuclear adotada pelo Senado em 2002.
Em 6 de agosto de 2003, Dia de Hiroshima, em comemoração ao lançamento da primeira bomba atômica sobre Hiroshima (6 de agosto de 1945), foi realizada uma reunião secreta a portas fechadas no Quartel-General do Comando Estratégico na Base da Força Aérea Offutt, em Nebraska. Estiveram presentes altos executivos da indústria nuclear e do complexo industrial militar.
Esta mistura de empreiteiros de defesa, cientistas e políticos não se destinava a comemorar Hiroshima. O objetivo da reunião era lançar as bases para o desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares “menores”, “mais seguras” e “mais utilizáveis”, a serem lançadas nas “guerras nucleares do século XXI”.
A guerra nuclear tornou-se um empreendimento multibilionário que enche os bolsos dos empreiteiros de defesa dos Estados Unidos. O que está em jogo hoje é a absoluta “privatização da guerra nuclear”.
Não está descartada uma guerra nuclear contra a China e a Rússia. A guerra com a Rússia foi rotulada como “plausível”, mas “não esperada” em 2002.
Hoje, no auge da guerra na Ucrânia, o Pentágono planeja um ataque nuclear preventivo contra a Rússia. No entanto, isso não significa que será implementado.
Lembramos a histórica declaração de Reagan: “Uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada. O único valor das nações que possuem armas nucleares é garantir que elas nunca serão utilizadas”.
No entanto, existem vozes poderosas e grupos de pressão dentro do establishment dos EUA e na administração Biden que estão convencidos de que “uma guerra nuclear pode ser vencida”.
De acordo com o historiador Yuri Robsov, Wall Street e os Rockefeller financiaram a máquina de guerra alemã e a campanha eleitoral de Adolf Hitler:
A cooperação estadunidense com o complexo militar-industrial alemão foi tão intensa e generalizada que em 1933 setores-chave da indústria alemã e grandes bancos como o Deutsche Bank, o Dresdner Bank, o Danat-Bank (Darmstädter und Nationalbank), etc. estavam parcialmente sob o controle do capital financeiro americano.
Simultaneamente, preparava-se a força política que iria desempenhar um papel crucial nos planos anglo-americanos. Estamos falando do financiamento do partido nazista e de Adolf Hitler pessoalmente.
No dia 4 de janeiro de 1932, foi realizada uma reunião entre o financista britânico Montagu Norman (governador do Banco da Inglaterra), Adolf Hitler e Franz von Papen (que se tornaria chanceler alguns meses depois). Nesta reunião, chegou-se a um acordo sobre o financiamento do Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP ou Partido Nazista).
Esta reunião contou também com a presença de líderes políticos estadunidenses e dos irmãos Dulles, fato que os seus biógrafos não gostam de mencionar.
Um ano depois, em 14 de janeiro de 1933, ocorreu outra reunião entre Adolf Hitler, o barão financeiro alemão Kurt von Schroeder, o chanceler Franz von Papen e o conselheiro econômico de Hitler, Wilhelm Keppler, na qual o plano foi aprovado na sua totalidade.
Foi aqui que finalmente resolveram a questão da transferência do poder para os nazistas, e no dia 30 de janeiro de 1933 Hitler tornou-se chanceler. Assim começou a implementação da quarta fase da estratégia.
Há amplas evidências de que tanto os Estados Unidos como o seu aliado britânico pretendiam que a Alemanha nazista ganhasse a guerra na Frente Oriental com o objetivo de destruir a União Soviética.
As suspeitas de Stalin e de seu entorno de que as potências anglo-americanas esperavam que a guerra nazista contra a União Soviética durasse anos baseavam-se em dados bem fundamentados. Este desejo foi expresso em parte por Harry S. Truman, futuro presidente dos Estados Unidos, horas depois de a Wehrmacht invadir a União Soviética.
Truman, então senador dos EUA, disse que queria ver os soviéticos e os alemães “se matarem e o maior número possível”. Sua declaração foi descrita pelo New York Times como “uma política firme”. O Times já havia publicado os comentários de Truman e, consequentemente, suas opiniões provavelmente não teriam escapado à atenção dos soviéticos.
A Operação Barbarossa de Hitler, lançada em junho de 1941, teria fracassado desde o início se não fosse o apoio da Standard Oil de Nova Jersey (propriedade dos Rockefeller), que entregava rotineiramente grandes quantidades de petróleo ao Terceiro Reich.
Embora a Alemanha tenha conseguido transformar carvão em combustível, esta produção sintética era insuficiente. Além disso, os recursos petrolíferos da Romênia em Ploesti (sob o controle dos nazistas até 1944) eram mínimos. A Alemanha nazista dependia dos embarques de petróleo da Standard Oil estadunidense.
A Lei de Comércio com o Inimigo (1917), implementada oficialmente após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, não impediu a Standard Oil de vender petróleo à Alemanha nazista. Isto apesar da investigação do Senado de 1942 sobre esta empresa.
Embora os embarques diretos de petróleo fossem restritos, a Standard Oil conseguiu vender petróleo através de países terceiros: “O petróleo foi enviado para a França ocupada e da França foi enviado para a Alemanha… os embarques também passavam pela Espanha, pelas colônias da França de Vichy e pela Suíça”.
Sem estes fornecimentos de petróleo da Standard Oil e dos Rockefeller, a Alemanha nazista não teria sido capaz de implementar a sua invasão militar da União Soviética. Sem combustível, a Frente Oriental do Terceiro Reich provavelmente não teria acontecido, e milhões de vidas teriam sido salvas. Não há dúvida de que a Frente Ocidental, que incluiu a ocupação militar da França, Bélgica e Países Baixos, também teria sido afetada.
Na verdade, a URSS venceu a guerra contra a Alemanha nazista, com 27 milhões de mortes, o que foi em parte resultado da flagrante violação do comércio com o inimigo por parte da Standard Oil.
Um cenário da Terceira Guerra Mundial contra a União Soviética já havia sido planejado no início de 1945, no âmbito da chamada Operação Impensável, que seria lançada antes do fim oficial da Segunda Guerra Mundial.
Roosevelt, Churchill e Stalin reuniram-se em Yalta no início de fevereiro de 1945, em grande parte com o objetivo de negociar a ocupação da Alemanha e do Japão no pós-guerra.
Entretanto, depois da Conferência de Yalta, Winston Churchill havia contemplado um plano secreto para travar uma guerra contra a União Soviética: se você pensou que a Guerra Fria entre o Oriente e o Ocidente atingiu o seu pico nas décadas de 1950 e 1960, deve repensar o assunto. 1945 foi o ano em que a Europa foi o cadinho da Terceira Guerra Mundial.
O plano previa um ataque massivo dos Aliados em 1º de julho de 1945 pelas forças britânicas, americanas, polonesas e alemãs (sim, alemãs) contra o Exército Vermelho. O seu objetivo era expulsá-los da Alemanha Oriental e da Polônia ocupadas pelos soviéticos, desferir um golpe sangrento em Stalin e forçá-lo a reconsiderar o seu domínio da Europa Oriental. Finalmente, em junho de 1945, os conselheiros militares de Churchill alertaram-no para não implementar o plano, mas este continuou a ser “o modelo para uma Terceira Guerra Mundial”. Os estadunidenses tinham acabado de testar com sucesso uma bomba atômica e isso despertou a tentação de destruir os centros populacionais soviéticos.
A “Operação Impensável” de Churchill contra as forças soviéticas na Europa Oriental foi abandonada em junho de 1945.
Durante o seu mandato como primeiro-ministro (1940-45), Churchill apoiou o Projeto Manhattan. Foi o protagonista do planejamento de uma guerra nuclear contra a União Soviética, contemplada no âmbito do Projeto Manhattan já em 1942, quando os Estados Unidos e a União Soviética ainda eram aliados contra a Alemanha nazista.
No dia 15 de setembro de 1945, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos formulou oficialmente um plano para uma Terceira Guerra Mundial utilizando armas nucleares contra 66 grandes áreas urbanas da União Soviética.
O vice-presidente Harry S. Truman foi empossado como presidente dos Estados Unidos em 12 de abril de 1945, após a morte de Franklin D. Roosevelt, que morreu inesperadamente de uma hemorragia cerebral.
Nas reuniões de Potsdam, o presidente Truman manteve conversas (julho de 1945) com Stalin e Churchill. As discussões foram de natureza diferente das de Yalta, especificamente Truman e Churchill, que eram a favor de uma guerra nuclear.
“O primeiro-ministro britânico e eu comemos sozinhos. Manhattan foi considerada um sucesso e decidiu-se notificar Stalin. Stalin já havia comentado com Churchill sobre um telegrama do imperador japonês pedindo paz. Stalin também leu sua resposta para mim. Pareceu-me satisfatória. Penso que os japoneses se renderão antes que a Rússia entre na guerra contra os japoneses. Eles farão isso quando Manhattan aparecer em suas terras. Informarei Stalin sobre isso no momento apropriado” (Diário de Truman, 17 de julho de 1945).
O que o Diário de Truman confirma é que o Japão “se renderia” e se renderia aos Estados Unidos “antes da entrada da Rússia”. Em última análise, este foi o objetivo das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Embora Truman tenha informado Stalin sobre o Projeto Manhattan em julho de 1945, não se sabe ao certo, mas fontes sugerem que a União Soviética estava ciente do Projeto Manhattan já em 1942. Truman disse a Stalin que a bomba atômica se destinava apenas ao Japão?
Truman escreve em seu diário:
Reunimo-nos hoje às 11h00. [Stalin, Churchill e Truman]. Mas antes disso tive uma sessão muito importante [sem Stalin] com o Lord Mountbatten e o General Marshall [Chefes do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos. [Esta reunião não fazia parte da agenda oficial.] Era para falar sobre o fato de termos desenvolvido a bomba mais terrível da história do mundo. É capaz de uma destruição pelo fogo profetizada pela Bíblia.
De qualquer forma, descobrimos uma maneira de provocar a desintegração do átomo. A experiência no deserto do Novo México foi surpreendente, para dizer o mínimo. Treze quilos de explosivo causaram uma cratera com duzentos metros de profundidade e mil e duzentos metros de diâmetro, derrubando uma torre de aço a oitocentos metros de distância e derrubando homens a dez mil metros de distância. A explosão podia ser vista a mais de trezentos quilômetros e podia-se ouvi-la a sessenta quilômetros ou mais.
Esta arma será usada contra o Japão a partir de 10 de agosto. Eu disse ao secretário da Guerra, Sr. Stimson, para usá-la de uma forma que vise alvos militares, soldados e marinheiros, e não mulheres e crianças. Embora os japoneses sejam selvagens, implacáveis e fanáticos, nós, como líderes mundiais, não podemos lançar esta terrível bomba sobre a velha capital.
Ele e eu concordamos. O objetivo será puramente militar e emitiremos uma declaração de advertência pedindo aos japoneses que se rendam e salvem as suas vidas. Tenho certeza que não, mas teremos dado a eles a chance. É, certamente, uma coisa boa para o mundo que Hitler ou Stalin não tenham descoberto esta bomba atômica antes de nós. Parece ser a coisa mais terrível já descoberta, mas pode se tornar a mais útil (Diário de Truman, reunião em Potsdam em 18 de julho de 1945).
A discussão sobre o Projeto Manhattan não consta das atas oficiais destas reuniões.
Apenas duas semanas após o fim oficial da Segunda Guerra Mundial (2 de setembro de 1945), o Departamento de Guerra dos Estados Unidos emitiu uma diretriz (15 de setembro de 1945) para “varrer a União Soviética do mapa” quando os Estados Unidos e a URSS eram aliados, fato confirmado por documentos desclassificados. (Para mais detalhes ver Chossudovsky, 2017.)
De acordo com o documento secreto desclassificado datado de 1975, o Pentágono tinha planejado explodir a União Soviética com um ataque nuclear coordenado dirigido contra importantes áreas urbanas.
Todas as principais cidades da União Soviética foram incluídas na lista de 66 objetivos “estratégicos”. Cada cidade foi classificada em termos de quilômetros quadrados e do número correspondente de bombas atômicas necessárias para aniquilar e matar os habitantes das áreas urbanas selecionadas.
Seis bombas atômicas seriam usadas para destruir as maiores cidades, incluindo Moscou, Leningrado, Tashkent, Kiev, Kharkov e Odessa. O Pentágono estimou que seriam necessárias 204 bombas atômicas para “varrer a União Soviética do mapa”.
Uma única bomba atômica lançada sobre Hiroshima causou a morte imediata de 100 mil pessoas nos primeiros sete segundos. Imagine o que teria acontecido se 204 bombas atômicas tivessem sido lançadas sobre as principais cidades da União Soviética, como descreve em detalhe o plano secreto dos EUA.
O documento delineava uma agenda militar diabólica que pretendia ser posta em ação um mês após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto de 1945) e dois anos antes do início da Guerra Fria (1947).
O plano secreto (duas semanas após a rendição do Japão em 2 de setembro de 1945) havia sido formulado num período anterior, especificamente no auge da Segunda Guerra Mundial, numa época em que os Estados Unidos e a União Soviética eram aliados próximos.
O Projeto Manhattan foi lançado em 1939, dois anos antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em dezembro de 1941. O Kremlin estava plenamente consciente do projeto secreto Manhattan já em 1942.
Os ataques de Hiroshima e Nagasaki de agosto de 1945 foram usados pelo Pentágono para avaliar a viabilidade de um ataque muito maior à União Soviética?
Os documentos-chave para o bombardeio de 66 cidades da União Soviética foram finalizados 5 a 6 semanas após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto de 1945).
No dia 15 de setembro de 1945, pouco menos de duas semanas após a rendição formal do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial, Norstad enviou uma cópia do orçamento ao general Leslie Groves, chefe do Projeto Manhattan, o alto funcionário que ficaria encarregado de produzir as bombas que a USAF [Força Aérea dos Estados Unidos] precisava.
Como se pode imaginar, a classificação deste documento era: “TOP SECRET LIMITED”. (Alex Wellerstein, Os Primeiros Requisitos de Reserva Atômica). Apesar do sigilo, o Kremlin estava a par dos planos nucleares dos americanos.
Agora, documentos desclassificados confirmam que os Estados Unidos “planejaram um genocídio contra a União Soviética”.
Mas, vamos aos fatos. Quantas bombas a USAF solicitou ao general encarregado das bombas atômicas, quando havia talvez uma, talvez duas bombas de material físsil em mãos? Queriam pelo menos 123. O ideal é que fossem 466. Isso aconteceu pouco mais de um mês depois dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.
Portanto, para compreender a Guerra Fria (que começou oficialmente em 1947), é preciso conhecer o plano de Washington de setembro de 1945. Este plano do Pentágono desempenhou um papel fundamental no desencadeamento da corrida armamentista nuclear.
Os relatórios da inteligência soviética sobre o Projeto Manhattan forçaram a União Soviética a desenvolver a sua própria bomba atômica em 1949, em resposta à ameaça estadunidense. E embora o Kremlin soubesse dos planos para “acabar” com a URSS, a população americana não foi informada sobre esses planos. Os documentos de guerra foram desclassificados 30 anos depois, em setembro de 1975.
Os meios de comunicação ocidentais nunca mencionaram o plano de aniquilar a União Soviética que remonta à Segunda Guerra Mundial e ao próprio Projeto Manhattan.
Os planos nucleares de Washington para a Guerra Fria sempre foram invariavelmente apresentados como uma resposta às chamadas “ameaças soviéticas”, quando na realidade foi o plano americano de setembro de 1945 que motivou Moscou a desenvolver capacidades de armas nucleares.
A manipulação foi tão bem-sucedida que até o Boletim de Cientistas Atômicos culpou injustamente a União Soviética por ter iniciado a corrida às armas nucleares em 1949, quatro anos depois do plano secreto para atacar 66 grandes cidades soviéticas com 204 bombas nucleares.
No outono de 1949, o presidente Harry Truman revelou ao público estadunidense que os soviéticos testaram o seu primeiro dispositivo nuclear, iniciando oficialmente a corrida armamentista nuclear: “Não dizemos aos estadunidenses que o fim do mundo está próximo, mas acreditamos que há razões para estarmos profundamente alarmados e preparados para decisões sérias (Linha do tempo do Relógio do Juízo Final, Boletim dos Cientistas Atômicos, 2017).
Importante: Se os Estados Unidos tivessem decidido NÃO desenvolver armas nucleares para uso contra a União Soviética, a corrida armamentista nuclear NUNCA teria ocorrido.
Nem a União Soviética nem a República Popular da China teriam desenvolvido armas nucleares como meio de “dissuasão” contra os Estados Unidos, que já tinham formulado planos para aniquilar a União Soviética.
A corrida armamentista nuclear foi resultado direto do plano estadunidense de “explodir a União Soviética”, formulado pelo Departamento de Guerra que planejou o cenário da Terceira Guerra Mundial contra a Rússia e a China.
A lista inicial de sessenta e seis cidades bombardeadas foi atualizada durante a Guerra Fria (1956) para incluir cerca de 1.200 cidades na URSS e em países da Europa Oriental. As bombas planejadas para uso eram mais poderosas em termos de capacidade explosiva do que as lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
“De acordo com o plano de 1956, as bombas H deveriam ser usadas contra alvos prioritários na União Soviética, na China e na Europa Oriental. As principais cidades do bloco soviético, incluindo Berlim Oriental, eram altas prioridades para uma “destruição sistemática” por bombardeios atômicos”. (William Burr, Lista de alvos de ataque nuclear da Guerra Fria dos EUA de 1.200 cidades do bloco soviético “da Alemanha Oriental à China”)
Portanto, defender as armas de destruição em massa como instrumentos de paz é um truque perigoso. Ao longo da história, os “erros” desempenharam um papel fundamental. Estamos numa encruzilhada perigosa. Não há nenhum movimento antiguerra real à vista. Por quê? Porque a guerra é boa para os negócios!
As grandes potências empresariais por trás das guerras lideradas pelos EUA e a OTAN controlam tanto o movimento antiguerra como a cobertura midiática das guerras lideradas pelos EUA. Isso não é novidade. Remonta à chamada guerra soviético-afegã (1979-), liderada pelo conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Zbigniew Brzezinski.
Através de fundações “filantrópicas” (Ford, Rockefeller, Soros e outras), as elites financeiras canalizaram milhões de dólares ao longo dos anos para financiar os chamados “movimentos progressistas”, incluindo setores do Fórum Social Mundial (na verdade, desdenhosamente, a elite financeira chama-os de “dissidência fabricada”). Estas corporações também mobilizam grandes somas de dinheiro para levar a cabo numerosos golpes de Estado e revoluções coloridas.
Estas políticas devem ser entendidas como parte integrante de um “arsenal mais amplo” da elite financeira. São instrumentos de submissão e tirania. O Grande Reinício do Fórum Econômico Mundial é parte integrante do cenário da Terceira Guerra Mundial de estabelecer, por meios militares e não militares, um sistema imperial de “governança global”.
Os próprios poderosos interesses financeiros (Rockefeller, Rothschild, BlackRock) que hoje apoiam a agenda dos EUA e da OTAN estão solidamente por trás da preparação da opinião pública para aceitar a Terceira Guerra Mundial sem questionar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky - Instituto Humanitas Unisinos - IHU