24 Janeiro 2023
O Papa Francisco está rodeado por um “círculo mágico”: um círculo de pessoas “despreparadas” do ponto de vista teológico e que determina também as nomeações. Quem lança esse novo e duro ato de acusação contra o Papa Francisco, após aquele vindos do padre Georg Gänswein logo após a morte de Bento XVI é o Cardeal Müller, ex-prefeito para a Doutrina da Fé, no livro In buona fede (Em boa fé, em tradução livre) com Franca Giansoldati (Solferino) em breve nas livrarias.
Livro "In buona fede". (Foto: divulgação)
A reportagem é publicada por Correio della Sera, 20-01-2023.
“Há uma espécie de círculo mágico que gravita em torno de Santa Marta”, diz Müller, referindo-se à residência do Papa no Vaticano, “formado por pessoas que, a meu ver, não estão preparadas do ponto de vista teológico. No Vaticano parece que agora as informações circulem de forma paralela, por um lado estão ativos os canais institucionais infelizmente cada vez menos consultados pelo pontífice, e pelo outro os canais pessoais utilizados até para a nomeação de bispos ou cardeais."
Müller - que já havia criticado o pontífice, explicando que muitas "pessoas feridas por Francisco" iam "para se tratarem no Mosteiro" onde residia o Papa emérito, Ratzinger - declarou também que nem todos na Igreja são tratados da mesma forma em relação à questão dos abusos. Falando em especial do caso do monsenhor Gustavo Zanchetta, Müller explicou que “ele pôde usufruir de um status privilegiado como amigo do Papa. Em regra, as amizades não podem influenciar o andamento da justiça, todos devem ser tratados igualmente”. E ainda: “Dom Mauro Inzoli, um sacerdote próximo de Comunhão e Libertação”: o tribunal vaticano “iniciou um processo contra ele, no final do qual se decidiu reduzi-lo ao estado laico por ter sido reconhecido culpado dos crimes. Infelizmente, porém, houve um cardeal da cúria que foi bater em Santa Marta, pedindo clemência. Diante desse intervencionismo, o Papa se convenceu e optou por modificar a sentença, ajustando a pena de Inzoli, estabelecendo que ele permanecesse sacerdote, mas com proibição de usar o hábito sacerdotal ou o clergyman em público e sem se apresentar às comunidades como consagrado. Ele permanecia consagrado, mas não podia se mostrar aos estranhos como tal. Isso é apenas um exemplo."
Müller volta então à questão do aperto sobre a missa em latim, decidido pelo Papa Francisco e que - segundo Gänswein - "partiu o coração de Ratzinger". Aquela decisão, para Müller, foi "um tapa" para os tradicionalistas, que "cavou fossos e causou dor": "Ao agir nessa direção, o Papa Francisco parece ter dado ouvido a um grupo de conselheiros sem levar em conta que aquela medida teria assumido os contornos de uma mera demonstração de poder”.
O ex-prefeito para a Doutrina da Fé volta então também ao caso do cardeal Becciu, criticando as decisões do Papa: “Francisco decidiu puni-lo severamente depois que alguém foi até ele, em Santa Marta, para mostrar-lhe um artigo de L' Espresso, um semanário italiano que publicou uma investigação sobre o cardeal. Mas como se pode agir em função de um artigo de imprensa? Não se pode punir alguém sem ter provas de sua culpa em mãos. Esse modo de agir tem acontecido com frequência no Vaticano e não diz respeito apenas ao caso singular de Becciu, mas também aconteceu dentro da Congregação para a Doutrina da Fé quando alguns sacerdotes foram dispensados sem motivo, de uma hora para outra. Para o cardeal Becciu a questão é macroscópica também porque é amplificada pelos meios de comunicação de massa: ele foi humilhado e punido diante do mundo sem ter lhe sido concedida nenhuma possibilidade de defesa. Agora, aguarda-se o fim do processo em curso no tribunal do Vaticano. No entanto, a presunção de inocência deveria valer para todos, um direito sacrossanto desde os tempos dos antigos romanos.
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Cardeal Müller: “Há um círculo mágico em torno do Papa Francisco que decide também as nomeações” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU