09 Setembro 2022
"Os missionários e as missionárias vivem nas fronteiras do sofrimento humano. E muitas vezes pagam isso com a vida”. A Irmã Maria De Coppi, a comboniana morta em Moçambique, foi vítima de um "atentado, que poderia ter terminado em massacre, de matriz jihadista". Mas num contexto que vai além da religião: “Naquela zona de África, a violência jihadista mistura-se com a raiva social das pessoas, vítimas na luta pelo gás. De fato, a população não tira nenhum benefício das enormes jazidas, exploradas por alguns potentados, especialmente estrangeiros”. Quem afirma isso com força é Alessandro Zanotelli, para todos Padre Alex, missionário comboniano e indômito ativista pela paz e justiça.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 08-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que ideias formou da história e do cenário?
Bateram à porta, a Irmã Maria abriu a porta e atiraram nela à queima-roupa. Esta é a dinâmica do assassinato que me contaram. A missão está localizada numa área não muito distante de Cabo Delgado, onde há um retorno massivo do jihadismo. Mas, além disso, ali cresceu uma perigosa raiva popular.
Por quais motivos?
As famílias não conseguem nem ligar o fogão para cozinhar. Sentem-se roubados, porque a atividade extrativista nas costas moçambicanas, onde existem gigantescas jazidas de gás, não traz retorno econômico para a população local: os lucros tomam outros rumos. Existem cumplicidades criminosas internas na luta pelos proventos. Tudo isso enquanto outros países do mundo, inclusive a Itália, continuam explorando a situação e se ajoelhando diante do business.
O que quer dizer?
O problema essencial é que as pessoas veem as várias multinacionais enriquecer-se enquanto não chegam benefícios de utilidade pública: não se constroem escolas, morre-se pobreza e doenças na total indiferença dos responsáveis políticos locais e internacionais. A consequência é a rebelião, alimentada pela sensação de não ter nada a perder: terreno fértil para a estratégia jihadista, que quando se move ataca e faz terra arrasada, como aconteceu na comunidade da Irmã Maria. Esta enésima tragédia recordou-me um aspecto que gostaria de ressaltar.
Qual?
A preciosa presença de missionários e missionárias, que estão próximos dos últimos da terra, arriscando-se a morrer todos os dias.
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Moçambique. "Aqui o islamismo se funde com a raiva social, a população é vítima da luta pelo gás". Entrevista com Alex Zanotelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU