13 Abril 2022
Ontem, várias fontes, incluindo a Reuters, garantiram que na situação atual Jerusalém é a cidade com maior probabilidade de ser a sede do segundo encontro ecumênico entre o Papa Francisco e o Patriarca Kirill. No dia 8 de abril, citamos Jerusalém como um possível local junto com Amã, capital da Jordânia, e dois outros países: Emirados Árabes Unidos e Líbano. No domingo, 10 de março, o metropolita ortodoxo Hilarion Alfeev, chefe do Departamento de Relações Eclesiásticas Externas (DECR) do Patriarcado de Moscou, deixou claro em um programa de TV 'Russia24', sem citar nomes, que se estava falando da Cidade Santa.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 12-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ora, a essas primeiras indiscrições acrescentam-se outras mais específicas: o nome da cidade do Oriente Médio, Jerusalém, e a data mais provável, meados de junho. O Papa Francisco deveria chegar de helicóptero vindo de Amã (Jordânia), mas partindo de Beirute (Líbano), país para o qual o Vaticano ainda não confirmou a visita, mas falou de uma hipótese em estudo [1]. De sua parte, o Patriarca Kirill deveria obviamente chegar vindo de Moscou. Com toda a probabilidade, mas teremos que aguardar por notícias oficiais, ambos vão ficar por algumas horas na cidade do Oriente Médio. No caso do Papa, as viagens plausíveis, Beirute - Amã e Jerusalém, deveriam, portanto, ser inseridas antes da peregrinação apostólica oficial ao Congo Democrático (2 a 5 de julho) e ao Sudão do Sul (5 a 7 de julho). A este respeito, fala-se em quarta-feira, 15 de junho.
Em essência, as próximas serão semanas em que serão testadas a imagem do pontificado de Bergoglio, os desafios ecumênicos (e não apenas para católicos ou ortodoxos russos), bem como a manutenção da compactação intra-eclesial das diferentes igrejas, que são questões delicadas e críticas. Não se trata apenas de fotografias ou abraços. O Papa Francisco junto com o Patriarca Kirill em Jerusalém, cidade que oferece garantias logísticas e de segurança aos dois líderes religiosos e que, além disso, é também o lugar mais simbólico da terra para as três religiões monoteístas abraâmicas, é um evento que não pode ser sinônimo de fracasso e menos ainda sinônimo de uma passarela midiática chamativa.
Muito do que pode acontecer nos próximos meses dependerá da situação no campo de batalha.
A guerra terá terminado ou ainda estará em curso? Como terá sido o fim ou como esse horrendo conflito bélico continuará a se desenvolver? Haverá vencedores ou vencidos? Quem e como? As acusações de crimes de guerra contra Moscou permanecerão de pé e quem tratará dos processos e quem serão os réus?
De acordo com algumas agências internacionais, estamos falando de uma data precisa como já mencionado: 15 de junho. Assim, para chegar a este novo abraço ecumênico Francisco-Kirill ainda faltariam dois meses. É um período de tempo em que tudo pode acontecer, para melhor, mas também para pior.
O primeiro encontro histórico Francisco-Kirill - anunciado de surpresa - aconteceu em 12 de fevereiro de 2016 em Havana, Cuba. Este segundo abraço está sendo negociado há mais de um ano e agora, após a agressão do governo de Vladimir Putin contra a Ucrânia, apoiado e abençoado por Kirill, a relação entre as duas Igrejas mudou muito porque as divergências são muitas e sérias. O comportamento geral dos ortodoxos russos em relação ao Vaticano foi falso e conivente, particularmente durante a conversa do metropolita Hilarion com o papa Francisco em 22 de dezembro de 2021, 64 dias antes do início da guerra "suja e repulsiva".
Hoje, para o Papa Francisco reencontrar Kirill não é uma continuação do evento histórico em Havana. Tudo mudou radicalmente e, acima de tudo, parece dramático que o Patriarca russo tenha apagado com o cotovelo o que havia assinado com a mão seis anos antes. Os quatro pontos sobre a chamada questão ucraniana contidos na Declaração Conjunta de Havana são obsoletos e o próprio líder ortodoxo russo aparece para outras confissões religiosas como uma pessoa pouco confiável e bastante questionável. É por isso que muitos pensam que no encontro de Jerusalém é Kirill quem procura obter alguma vantagem, pelo menos em termos de imagem.
Neste episódio, ainda que indiretamente, outros cristãos também têm voz no tema e a complexa situação causada pela agressão contra a Ucrânia não pode ser reduzida à relação católico-ortodoxos russos.
O Papa Francisco e os católicos em geral devem levar em conta as reações e os estados de ânimo de outros cristãos, que também são protagonistas do movimento ecumênico hoje em grande dificuldade e que deve sempre ser salvo e defendido. É preciso buscar e identificar pontos de encontro relevantes neste momento, evitando qualquer espetacularização, sem jamais abrir mão da transparência e da verdade e sem usar o ecumenismo como sabão para lavar o rosto. Neste campo, as táticas, as conveniências, as imagens, os cálculos, não se sustentam muito.
Um possível tema - por enquanto quase o único - dessas possíveis convergências entre Kirill e o Pontífice é a questão das armas nucleares e do conflito atômico, mas Putin certamente não pensa em desarmamento e na abolição da posse e uso de armas atômicas. Só resta almejar que Kirill esteja próximo do Papa neste assunto sobre o qual o Patriarca nada fala. Na famosa Declaração de Havana não há as palavras "atômica" e "nuclear", nem mesmo "guerra nuclear ou atômica". A palavra "guerra" aparece três vezes: sozinha e depois associada a "mundial” ou "civil".
A Declaração Conjunta de Havana - apresentada como a moldura do abraço histórico - a cada dia que passa se mostra não apenas obsoleta, mas também negociada com o conta-gotas para não irritar Kirill. Em várias passagens, o Vaticano não "concedeu" como em toda negociação. Ele cedeu, o que é bem diferente. Sobre isso seria importante refletir, lembrando as palavras do próprio Papa Francisco informado sobre as críticas ucranianas ao documento. O Pontífice disse: "A declaração assinada com Kirill é questionável sobre esta questão da Ucrânia. Saí do encontro feliz. E Kirill também". (12 de fevereiro de 2016, no avião de Havana para a Cidade do México)
Resta outro problema muito importante, aliás importantíssimo: como terminará o encontro Francisco-Kirill? Com duas declarações separadas, como no caso de 16 de março passado, após a videoconferência entre as delegações católica e ortodoxa-russa na qual as partes fizeram um resumo de suas posições? Ou terminará com uma declaração conjunta como a de Havana, mas que hoje, depois da guerra de Moscou contra a Ucrânia, não desfruta de grande confiabilidade em relação à assinatura de Kirill?
É claro e certo que as partes, Francisco e Kirill, manterão suas posições, mas então como se expressará o desejo de diálogo, justo e necessário, com declarações em que as diferenças entre um e outro são objetivas, radicais e públicas?
Basta mencionar, por exemplo, a famosa questão da guerra justa ou aquela do Ocidente decadente, ou a sujeição do Patriarcado de Moscou ao Kremlin de Vladimir Putin.
No final, porém, o verdadeiro gigantesco problema, que esperamos seja apenas nossa confabulação, sem sentido e desprovida de qualquer fundamento, é este: assinar um documento que seja bom para o momento, mas para ser arquivado quando Putin quiser.
[1] Segundo indiscrições libanesas, o Papa visitará o país de 12 a 15 de junho. Depois, no dia 15, de avião, chegará a Amã, Jordânia, e de lá, de helicóptero, se transferirá para Jerusalém. Por que não vai diretamente de Beirute a Jerusalém? Porque são dois países formalmente em guerra sem qualquer tipo de relação. Esses detalhes já evidenciam a situação internacional da região.
[2] Diálogo ecumênico com a Ortodoxia Russa após a guerra do Kremlin contra a Ucrânia. Papa Francisco e Kirill: uma foto inoportuna (da redação "Il sismografo").
[3] Hilarion: "O Oriente Médio é a principal região onde o encontro Kirill-Francisco poderia ocorrer. Questões de logística e segurança devem serem definidas" (redação de “Il sismografo”).
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Encontro Francisco-Kirill talvez em junho na Cidade Santa. O caminho mais difícil do Papa e as armadilhas para o ecumenismo. O problema da “declaração” final: um documento comum ou duas declarações separadas? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU