27 Agosto 2020
"Todo o livro permite, assim, raciocinar, receber sugestões e também bases teóricas que permitem repensar a economia, fazendo-a progredir no que diz respeito à sua imagem de 'ciência triste' e aproximar-se mais daquela que é a origem e o sentido do seu nome, o cuidado da casa, mas também do nosso mundo e de todos os que dele fazem parte. Por fim, vamos voltar ao título do livro: Donna Economia. Parece que quer significar que não se trata de um livro que aborda instâncias feministas, mas sim de uma cuidadosa análise econômica", escreve Sergio Massironi, filósofo e padre italiano da Arquidiocese de Milão, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 26-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem conhece a história do pensamento econômico depara-se com o fato de que todos os economistas mais importantes são homens: Smith, Ricardo, Marshall, Keynes, Friedman. A partir dessa evidência mantive uma conversa com Tommaso Scotti, jovem com menos de trinta anos, formado pela Faculdade de Economia da Universidade Católica de Milão e agora Sturtup Analyst em uma empresa que trata do impacto econômico das novas iniciativas empresariais.
Donna Economia.
Dalla crisi una nuova stagione di speranza
Alessandra Smerilli
(Cinisello Balsamo, Edizioni San Paolo, 2020, p.192, €16)
Como costumo fazer muitas vezes com os jovens, sugeri a leitura de um livro que acabou de sair, o último de Alessandra Smerilli, Donna Economia. Dalla crisi una nuova stagione di speranza (Mulher Economia. Da crise, uma nova temporada de esperança, em tradução livre, Cinisello Balsamo, Edizioni San Paolo, 2020, p.192, €16).
Acho muito interessantes as impressões de jovens recém-saídos das universidades e não muito prisioneiros de paradigmas do passado. É uma geração que vai direto ao ponto e isso ajuda muito. Também eu começo de modo bem direto: “Tommaso, que efeito provoca segurar nas mãos um livro que combina os termos ‘mulher’ e ‘economia’, ainda por cima escrito por uma freira? Como você acha que a proposta dela pode repercutir no mundo de seus estudos e de seu trabalho?”.
Podemos começar por uma constatação. No panteão da ciência econômica não há sequer uma mulher e parece que nenhuma mulher tenha podido contribuir para moldar a forma como se pensa a economia, que, portanto, alicerça-se em temas e avaliações puramente masculinas. O resultado disso gerou uma representação precisa do homo oeconomicus: um ser hipotético, racional e desprovido de sentimentos, que se move para maximizar seu próprio interesse e nada mais.
Pois bem, apesar do que o título possa sugerir, o livro da irmã Smerilli não quer povoar o céu econômico com novas divindades femininas, embora não deixe de apresentar algumas estudiosas e suas geniais intuições. Pelo contrário, em sentido diferente, a autora quer explorar a outra metade do céu, aquela de uma economia baseada na cooperação, no interesse coletivo, na proteção do meio ambiente e no consumo responsável, que possam levar a uma visão de ciência econômica mais próxima da etimologia da palavra. Economia, sabemos, deriva da oikonomía, literalmente “gestão da casa”, uma arte que durante séculos, nas sociedades patriarcais, foi prerrogativa da mulher. Uma casa que hoje podemos, no entanto, entender tanto como as quatro paredes domésticas, quanto como a criação, a nossa casa comum.
“Como está estruturado o volume? – pergunto a Tommaso – Quanto o considerou aproveitável para o leitor médio, que talvez não seja tão expert em economia, mas percebe que se encontra em um mundo onde a compreensão é essencial para não ser dominado por processos indecifráveis?”. A primeira metade do livro faz um mergulho em profundidade na fria racionalidade da teoria econômica e isso é realizado com uma precisa análise da teoria dos jogos e, em particular, do dilema do prisioneiro. Sem entrar em detalhes sobre jogos e dilemas, a teoria quer que o indivíduo se comporte de forma egoísta e não cooperativa, pensando no seu próprio benefício e não confiando nos outros. No entanto, descobrimos que a prática mostra algo bem diferente, ou seja, que em metade dos casos os jogadores não se comportam de forma racional (de acordo com a definição econômica), mas optam por cooperar.
A seguir, a autora continua dando destaque a uma série de teorias válidas para explicar esse desnível entre hipótese e realidade, teorias que não querem substituir o que foi postulado anteriormente, mas sim ampliar o conceito de racionalidade, inserindo elementos até então não considerados, como a cooperação entre os indivíduos e, sobretudo, o pensamento de grupo, ou seja, que o indivíduo pode tomar decisões não só com base no seu ganho pessoal, mas também com base no que é melhor para a comunidade a que pertence.
Com esse panorama teórico, ao que me parece, Smerilli, nos leva a considerar não só o indivíduo, mas também as relações entre os indivíduos, um tema-chave não tanto para a sensibilidade católica, mas evidentemente para o próprio fundamento da economia ... Isso mesmo e na segunda parte do livro, começam a ser considerados aspectos que surgem justamente da relação entre as pessoas. A seguir, a autora acompanha por meio de reflexões, teorias e novas ideias sobre a ligação entre economia e vida: em primeiro plano aparecem temas como a nossa relação com a terra, a fome contínua de bens, as transformações do trabalho, o nosso impacto como indivíduos sobre o todo, a natureza e a vocação das finanças.
Todo o livro permite, assim, raciocinar, receber sugestões e também bases teóricas que permitem repensar a economia, fazendo-a progredir no que diz respeito à sua imagem de "ciência triste" e aproximar-se mais daquela que é a origem e o sentido do seu nome, o cuidado da casa, mas também do nosso mundo e de todos os que dele fazem parte. Por fim, vamos voltar ao título do livro: Donna Economia. Parece que quer significar que não se trata de um livro que aborda instâncias feministas, mas sim de uma cuidadosa análise econômica. Sim, uma análise que, porém, se concentra sobre tudo o que não é frio cálculo, mero individualismo e busca de interesse. É a análise de uma economia diferente daquela que herdamos dos grandes pensadores do nosso panteão econômico e que amplia a visão da ciência econômica a um mundo feito de relações e atenção pelos outros, de felicidade e de dignidade. E então vemos uma economia que não é mais fria ciência calculista, madrasta, mas Mulher, com instâncias maternas que, descansem em paz, grandes pensadores como Smith, Keynes ou Mill não tiveram, ou talvez não puderam manifestar plenamente.
Permanece o fato de que, também graças a Alessandra Smerilli, quando as mulheres tomam a palavra, pode acontecer uma importante mudança de registros que, muito além do livro e da própria economia, recomenda uma forma de pensar e de fazer em que diferentes formas de ser dão forma a novos equilíbrios. “Homem e mulher os criou”, dá vontade de dizer, porque não só a casa, mas o trabalho, a pesquisa, a convivência humana, a própria Igreja, poderiam trazer o sinal dessa evidência. Os jovens gostam de um mundo assim e, se tantos valores parecem perdidos, a capacidade de cooperar e o desejo de novos modelos de referência, uma vez que as ideologias se desvanecem, dão ao evangelho espaço para liberar sua doce carga revolucionária.
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Economia. Não é uma ciência triste - Instituto Humanitas Unisinos - IHU