30 Julho 2020
Há sete anos, não se tem notícias sobre o fundador da Comunidade de Mar Musa, que desapareceu em Raqqa no dia 29 de julho de 2013. Para o cardeal Mario Zenari, o sacerdote, assim como muitos desaparecidos, foi usado como “carta” a ser jogada no jogo sírio. Segundo ele, os presos “devem ser libertados ou algumas notícias devem ser dadas às famílias”. São necessários “gestos de boa vontade”.
A reportagem é publicada por AsiaNews, 29-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“De vez em quando, surgem alguns rumores. Nos últimos anos, todas as pistas foram tentadas e, inevitavelmente, todas elas deram em nada. Nada foi deixado de fora, mas não há nada que permita que se façam afirmações sólidas sobre o seu destino, se ele está vivo ou morto hoje.” É o que enfatiza à AsiaNews o cardeal Mario Zenari, núncio apostólico na Síria, sete anos após o misterioso desaparecimento do sacerdote jesuíta romano Paolo Dall’Oglio, fundador da Comunidade de Deir Mar Musa al-Habashio, no norte, a cerca de 80 quilômetros de Damasco.
Em muitas ocasiões, no passado recente, multiplicaram-se boatos sobre a sua condição, mas nenhum deles jamais se mostrou confiável. Os últimos vestígios levam a Raqqa, a antiga fortaleza do “Califado” na Síria.
Figura carismática do diálogo inter-religioso islâmico-cristão, o Pe. Dall’Oglio desapareceu na noite entre 28 e 29 de julho de 2013, após ter penetrado no quartel general do Estado Islâmico (IS, ex-ISIS). Ele queria defender os valores do diálogo e do debate, pedindo, ao mesmo tempo, a libertação de vários reféns que estavam nas mãos do grupo jihadista.
Desde a noite do seu sequestro, passaram-se anos marcados por rumores de morte e de avistamentos, nunca confirmados por provas, intercalados com longos períodos de esquecimento. No passado, os órgãos de imprensa haviam relatados rumores de que ele ainda estivesse vivo, imediatamente desfeitos por falta de elementos.
Até hoje, as informações mais confiáveis são as de um ex-miliciano do ISIS, segundo o qual o Pe. Dall’Oglio foi torturado e assassinado poucos dias após seu sequestro. Outras fontes também confirmaram essa hipótese, mas, mesmo neste caso, não há provas que deem sustentação.
“Segundo as estatísticas das Nações Unidas – lembra o cardeal Zenari – são cerca de 100 mil as pessoas desaparecidas na Síria, das quais não se têm mais notícias. O próprio enviado especial da ONU, Geir Pedersen, assim como seu antecessor Staffan de Mistura, se dirigiu várias vezes ao Conselho de Segurança, enfatizando que essa questão humanitária deve ser reforçada e que respostas confiáveis devem ser fossem fornecidas”.
Para o cardeal, “as partes que têm responsabilidade” nesse caso dos sequestros devem “fazer gestos de boa vontade” e fornecer informações confiáveis.
Os presos e os desaparecidos “devem ser libertados, ou algumas notícias devem ser dadas às famílias. Repito, são quase 100 mil, e cada uma delas tem o direito de saber o que aconteceu com o seu parente. Isso vale para o Pe. Dall’Oglio assim como para os dois metropolitas ortodoxos, e para os outros dois jovens padres, mas infelizmente não há nada”.
No ano passado, o Ministério da Justiça dos EUA ofereceu uma recompensa de até 5 milhões de dólares para quem pudesse fornecer informações úteis sobre os religiosos desaparecidos: são eles o padre greco-ortodoxo Maher Mahfouz, o arcebispo sírio-ortodoxo Gregorios Ibrahim, o arcebispo greco-ortodoxo Boulos Yazigi e Michael Kayyal, um padre católico armênio. No entanto, não surgiu nenhuma novidade, e o destino deles permanece envolto no mistério.
As pessoas sequestradas “não devem ser libertadas em conta-gotas, e se um grupo não as têm mais em mãos deve comunicar o que aconteceu”.
Sobre as razões por trás do sequestro, para o purpurado, a pista mais provável é a da “troca por outros prisioneiros. Eles os pegaram para jogar essa carta, sejam eles dignitários religiosos, cristãos, ou um militar do alto escalão. Com toda a probabilidade – conclui – o Pe. Paolo também era uma carta a se jogar” no complicado jogo sírio.
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O silêncio sobre o Pe. Dall’Oglio e os 100 mil desaparecidos no conflito sírio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU