09 Julho 2020
“O mundo está em uma encruzilhada existencial que envolve uma pandemia, uma profunda crise econômica, mudança climática devastadora, desigualdade extrema e um movimento que desafia a prevalência do racismo em muitos países”. Com estas palavras, o relator especial sobre pobreza extrema da ONU, Philip Alston, destaca o seu relatório "O lamentável estado da erradicação da pobreza".
A reportagem é publicada por El Salto, 08-07-2020. A tradução é do Cepat.
Alston, que nos próximos dias apresenta em Genebra suas conclusões e seu relatório sobre a Espanha, fala sobre o descaso de longa data na abordagem da pobreza por governos, economistas e defensores dos direitos humanos. E destaca a “escandalosa falta de ambição” para erradicar a pobreza.
Para Alston, a autocomplacência das instituições internacionais, especialmente acentuada pelas fórmulas do Banco Mundial para medir a redução da pobreza, levou a uma década perdida, já antes da covid-19, na luta contra a desigualdade. O resultado nítido, sugere Alston, é que a redução da pobreza nominal se deve apenas à diminuição das carências materiais em um único país: a China.
Estima-se que a pandemia some 70 milhões de pessoas aos números atuais de extrema pobreza. Mais de 250 milhões de pessoas correm o risco de fome aguda, observa o relatório. Para Alston, a resposta, longe de enfrentar o problema, está aumentando-o, na medida em que os governos continuam investindo dinheiro em práticas repressivas e sistemas penitenciários, “ao mesmo tempo em que privam comunidades pobres de direitos básicos, como assistência médica decente, habitação e educação”.
“Se tivessem sido estabelecidas bases de proteção social, as centenas de milhões de pessoas que ficaram sem assistência médica, comida e abrigo adequados e segurança básica teriam sido poupadas de algumas das piores consequências”, explica Alston, em seu relatório. Em vez disso, o que chama de “as pressões infinitas para promover a consolidação fiscal”, ou seja, o controle do déficit, dívida e cortes de impostos para os mais abastados, conduziram os sistemas de proteção social para “mais próximos dos modelos do século XIX, em vez das aspirações do final do século XX”, explica o já ex-relator da ONU.
Quando isso se combina com “a próxima geração de políticas de austeridade posterior à covid-19, a transferência dramática do poder econômico e político às elites ricas, que caracterizou os últimos quarenta anos, será acelerada, em um momento em que o alcance e a profundidade da pobreza global serão até mais politicamente insustentáveis e explosivos”, conclui Alston.
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A ONU alerta que a covid-19 acelerará a transferência do poder econômico e político para as elites ricas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU