23 Junho 2018
"Antes os países coloniais dividiam o território em áreas de influência, agora tudo é fragmentado, sai-se à caça de todos os tipos de recursos e bens do subsolo, aonde quer que eles estejam", explica Giulio Albanese, missionário comboniano fundador da Agência Misna, em entrevista editada por Alberto Simoni, publicada por "La Stampa", 19-06-2018. A tradução é de Luísa Rabolini.
Eis a entrevista.
O que estão fazendo os turcos na África?
Eles colonizam o continente.
Eles não são os únicos: por que tanta atenção?
Sua capilaridade é impressionante, a presença de projetos e empresas turcas assumiu formas quase hegemônicas em algumas áreas. Na África, Ancara tem 44 embaixadas, três vezes mais que a Itália. E o interesse por essa parte do mundo, também é demonstrado pelas viagens de Erdogan: três em 2017, com várias etapas, e uma até agora neste ano, em fevereiro. Na África subsaariana, estamos assistindo a um expansionismo neo-otomano que poderia condicionar significativamente os destinos da África Oriental.
Quais são as características da penetração da Turquia na África?
Primeiramente, são portadores de uma nova face do Islã, mas não apenas. Os turcos estão se movendo na esteira do pragmatismo e são orientados principalmente pelos negócios. Eles estão interessados nas matérias-primas, nas commodities em geral. Trazem trabalho e exportam a própria mão-de-obra. Eles fazem acordos bilaterais com os Estados e chegam com suas empresas.
Então não são movidos pela tentativa de exportar sua visão do Islã?
Esse é um efeito colateral; Ancara financia a construção de mesquitas, mas não há nos turcos a falta de escrúpulos dos salafistas.
Quem são os aliados dos turcos na área?
Há um interesse dos russos, mas Putin não mostra a cara, mesmo que alguns projetos possuam decididamente financiamentos russos.
E quem são os rivais?
Os chineses. Eles estão agora em toda parte, e sua presença é um sinal de que a geografia política da África mudou nos últimos anos.
Como?
Antes os países coloniais dividiam o território em áreas de influência, agora tudo é fragmentado, sai-se à caça de todos os tipos de recursos e bens do subsolo, aonde quer que eles estejam. E o efeito é que a África empobrece cada vez mais. Depois não nos perguntemos por que o fenômeno migratório é incontrolável.
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África. "Colonialismo econômico turco com a ajuda da Rússia" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU