25 Novembro 2015
Os muçulmanos identificados como os perpetradores dos ataques terroristas de 13 de novembro em Paris provinham de algumas das partes mais seculares do norte da Europa, onde o cristianismo, em particular o catolicismo, é fraco.
A pergunta que se apresenta é: Até que ponto o secularismo e um catolicismo fraco possivelmente desempenharam um papel na radicalização dessas pessoas? Nesta entrevista, concedida no dia 17 de novembro, o padre jesuíta Samir Khalil Samir, estudioso do Islã e pró-reitor do Pontifício Instituto Oriental em Roma, discute alguns dos problemas inerentes ao Islã, assim como as tendências secularistas que têm influenciado a difusão da violência muçulmana fundamentalista.
O Pe. Samir, nascido no Cairo, igualmente explica que o Islã dos séculos XII e XIII era “muito mais mente aberta” do que o Islã seguido por muitos muçulmanos hoje. “Retrocedemos em mil anos”, diz ele, porque o ensino das faculdades de teologia islâmica “não se baseia na razão”, conforme era “em algumas escolas da Idade Média”.
A entrevista é de Edward Pentin, publicada por National Catholic Register, 19-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis a entrevista.
Por que o senhor acha que Paris foi o foco do ataque na semana passada?
Primeiro, temos de lembrar que a França tem a mais alta proporção de muçulmanos nos países ocidentais: pelo menos 6 milhões – quase 10% da população – e eles são, em sua maioria, muçulmanos árabes os quais são mais fanáticos do que os demais, digamos, são mais fanáticos do que os indonésios ou os malaios.
Um outro aspecto é o pretexto do Charlie Hebdo e que o secularismo, na França, é verdadeiramente radical. Não se encontra isso na Itália ou na Alemanha. Na Alemanha, você pode ter a sua mesquita; na Itália, a atmosfera é mais cristã. A França e a Bélgica estão, enormemente, secularizadas e isso faz as pessoas pensarem que tais elementos são a fonte do mal.
Um terceiro motivo pode dever-se ao que a França fez na Líbia com Gaddafi, o que foi inaceitável. Também, o erro que o Ocidente está fazendo, livrando-se de ditadores, como os EUA fizeram com Saddam Hussein no Iraque, está tornando a situação ainda pior. O que a França fez com a Líbia foi deixar o país muito pior do que anteriormente. O que eles tentaram fazer com Assad [na Síria] provoca o que vemos agora.
A visão simplista – aquela de que, se destituirmos o ditador, iremos ter uma nova sociedade – é absurda. Primeiro temos de estudar a situação. Ditadores estão em todos os lugares. A questão é: Como garantir democracia, liberdade e segurança? Infelizmente, os ditadores garantem a segurança de todos, então as pessoas dizem: “Ok, nós não temos liberdade de expressão em uma ditadura, mas onde temos isso no Oriente Médio? Nós os defendemos por causa do dinheiro deles!” Isto é algo que ouvimos diariamente em nossa imprensa árabe: que tudo o que eles [os países ocidentais] querem é o nosso dinheiro.
A impressão é que o Ocidente é materialista e que a laicidade [ou secularismo] é mais materialista, e há algo de verdade aqui. Em outubro de 2010, os Estados Unidos anunciaram um contrato entre eles e a Arábia Saudita para o fornecimento de aviões de guerra na casa dos 60 bilhões de dólares, distribuídos ao longo de 10 anos. Em março de 2015, a Arábia Saudita comprou material militar na casa dos 6.4 bilhões de dólares e se tornou o maior comprador de armas no mundo. Ontem, eles decidiram comprar mais materiais bélicos, incluindo 13 mil bombas “inteligentes”, por U$ 1.29 bilhão. Enquanto isso, 8 milhões de imigrantes sírios estão tentando sobreviver.
Será que isso é, realmente, inocente? As pessoas leem estas manchetes e dizem: “Sim, este é o motivo daquelas coisas que estão acontecendo no mundo árabe”.
Muitos islâmicos radicais parecem vir de países europeus onde o secularismo está mais presente. Até que ponto um tal ambiente ajuda a alimentar a violência islâmica?
Parece claro que boa parte dos terroristas estão vindo da Europa. Há pouco li algo publicado pela Universidade de Al-Azhar [principal universidade do Islã no Cairo], dizendo que existem, no mínimo, 4 mil muçulmanos vindos da Europa. Entre eles, estão muitos cristãos – e da Bélgica, especialmente – que se converteram ao Islã. Em algumas regiões de Bruxelas (em particular, Molenbeek) ou outros lugares, existe uma concentração de jihadistas. Têm lugares aí onde a polícia nem mesmo entra. Eles são defendidos por jihadistas que impedem a polícia.
Então, a situação é bem estranha: são pessoas que não são mais cristãs, que certa vez foram cristãs e que se atraem por este comportamento violento em nome de Deus. Isso significa uma profunda crise religiosa nas igrejas cristãs, na Igreja Católica – e, ao mesmo tempo, significa uma propaganda dura, fanática por parte de entidades islâmicas. A maioria dos muçulmanos consideram esta abordagem como não sendo a certa, especialmente em nossa época. E, para os cristãos, obviamente, pensar que alguém está se tornando religioso porque ele está lutando por Deus é absurdo.
Dessa forma, existe um monte de pessoas que estão perdidas, milhares delas, na Europa, em Bruxelas e alhures, e a Igreja precisa fazer algo. A Igreja está fazendo coisas aqui e ali, mas é o começo de um movimento – trazer de volta o verdadeiro sentido da fé, de Deus, o sentido do nosso papel no mundo de hoje. Podemos ajudar mais sendo fiéis ao Evangelho, em lugar de adotar soluções feudais tiradas de alguns versos do Alcorão.
Alguns dizem que uma falta de acompanhamento moral em ajudar a orientar estes fundamentalistas para longe da violência parece ser um problema significativo – que não existe uma alternativa para o que eles estão ouvindo nas mesquitas, e que não existe uma voz forte de razão moral. Até que ponto isto deveria ser uma preocupação central?
Com certeza existe uma carência na formação cristã. Vemos isso em todos os lugares, na Europa especialmente. Nota-se esta carência nos seminários, em primeiro lugar. Estes não são a metade, nem mesmo um terço, do que eram 40 anos atrás – em todos os lugares. Talvez na Polônia ou na Europa oriental as coisas não sejam bem assim, mas certamente, na Europa ocidental, esta escassez está bem generalizada.
Numa diocese em que vou, em Hildersheim (na Alemanha), encontramos um ou dois [seminaristas] a cada ano se preparando para o sacerdócio, o que é, obviamente, muito pouco e não compensa o número de sacerdotes que morrem anualmente. Estou chegando a recém da França, onde estive numa diocese católica bem forte, em Toulon; mas, em Avignon ou em outras, é preciso três ou quatro dioceses para se ter um pequeno seminário. Na igreja onde eu servia na Alemanha 10 anos atrás, tínhamos o dobro do número de pessoas que vinham à missa aos domingos [em comparação com hoje].
Assim, temos que reagir, e percebo que há uma reação vindo das famílias, dos grupos que são um pouquinho tradicionais. Eles dizem: “Precisamos manter a fé em nossas famílias, assim como era antigamente”. Eles não são “conservadores extremos”; são cristãos muito bons, com muitos filhos em geral. Nesta semana eu convivi com uma família de seis filhos, e orávamos todas as manhãs e noites, uma pequena oração antes de comer – coisas que são bem simples, que eram feitas anos atrás, mas que se perderam [hoje em muitos casos]. Obviamente, no domingo toda a família foi à missa junto.
O senhor diria, portanto, que existe uma correlação entre aqueles países como a Bélgica e os do norte da Europa, onde a Igreja e a família são estão fracas, em termos de deixar um terreno fértil para este tipo de violência?
Acho que sim. Dou um outro exemplo: na França, existem grupos tentando ter contato com os muçulmanos, e mesmo para ter alguns muçulmanos que estão em busca de algo mais. Estive em Toulon ontem com um grupo onde havia 12 muçulmanos que se tornaram cristãos; eles estavam dando os seus testemunhos. Estavam bastante entusiasmados e possuíam uma profunda fé cristã. Dois deles não eram batizados ainda, mas já se consideravam cristãos em seus corações. Estes neófitos são muçulmanos de mente aberta. Não é que este movimento seja contrário ao islamismo, mas existem pessoas que descobriram o Evangelho como algo que as libertou e que as fez amigas de todas as pessoas.
Infelizmente, este movimento é, em geral, considerado por nossas igrejas, e mesmo pelos bispos, como indesejável. Fui a três congressos antes desse e, em todas as vezes, o bispo dizia: “Se vocês fizerem isso, não façam em nome da Igreja; façam em privado”. Desta vez, pela quarta vez, o presidente [do congresso] era o próprio bispo. Ele não é conhecido como alguém tradicional, mas falou: “Temos uma responsabilidade pelos muçulmanos, por toda a população – não somente pelos que vêm à Igreja”. Eis a nossa missão: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Marcos 16,15; ver Mateus 28,19). Então, quando vemos a violência de algumas pessoas que se convertem ao Islã, é, muitas vezes, um sinal de as pessoas terem perdido todo o sentimento religioso e estarem tentando encontrar algo novo.
Até que ponto este problema é inerente ao Islã? Até que ponto o Islã fomenta este tipo de mentalidade?
Com certeza há um grande problema no Islã hoje, e ele é reconhecido pelos próprios muçulmanos. Os muçulmanos estão em crise. Dizem isso regularmente, mas não sabem como mudar ou ousar.
Para mim, o problema está, em primeiro lugar, na mente. Ele é ideológico. O problema é como interpretar o Alcorão, a tradição maometana e o hadith (registro dos ensinamentos, dizeres e ações de Maomé).
Se o interpretamos como uma abordagem política – converter o mundo inteiro ao Islã, porque esta é a última religião revelada, a melhor religião, e Maomé é o melhor modelo para todos –, concluímos que devemos aplicar o jihad, combater todos os demais.
E, assim, empregam-se todos os meios; olha-se para o Alcorão e para a tradição muçulmana, os versos e ensinamentos, falando aos seguidores: “Vocês precisam combatê-los até os converter ao Islã”. Podemos encontrar alguns versos assim. Podemos encontrar esta atitude no próprio Maomé – uma atitude agressiva, seja porque ele teve de se defender, seja porque quis difundir a sua crença no Deus único. Mas, conforme disse o Papa Francisco anteontem: “Não podemos servir a Deus com violência. Isso é contra Deus. Não podemos fingir que estamos fazendo algo positivo”.
Até que ponto a formação influi?
A formação [para o jihad] é difundida em muitas mesquitas, em inúmeros livros e em escolas. Vi, num livro para crianças – em uma apologia ao jihad –, dizendo ser este o passo final para um bom muçulmano. Isso é inaceitável; e se se difunde esta abordagem, eliminando uma interpretação do Alcorão para a nossa época, então estamos retrocedendo. Em certo sentido, na Idade Média eles eram muito mais mente aberta do que o são hoje.
Se retrocedêssemos mil anos e lêssemos numa cartilha sobre o que os muçulmanos esperam no paraíso, o resultado seria diferente do de hoje: as virgens, os frutos e as águas de então não eram vistos como materiais, porque não há corpo. Esta interpretação não mais é difundida; em vez disso, há uma interpretação literal do Alcorão. Então, eu acho que retrocedemos mil anos, porque o ensino nas faculdades de teologia islâmica, até mesmo na Al-Azhar, não se baseia na razão. A interpretação do Alcorão e da tradição islâmica não está baseada na razão, conforme era em algumas escolas na Idade Média. Para muitos teólogos muçulmanos, a razão é vista como contrária à revelação. A propósito, esta é exatamente a crítica do Papa Bento XVI em sua famosa palestra na Universidade de Regensburg (Ratisbona), em 12 de setembro de 2006, a qual provocou uma reação muçulmana violenta.
O senhor também diria que este desafio se torna ainda maior devido a um Ocidente que é a antítese de suas crenças cristãs tradicionais – a respeito do qual Bento XVI advertiu em Ratisbona se tratar de um choque entre, essencialmente, um laicismo “frio” versus um Islã “superquente”?
Sim, mas Bento estava distinguindo claramente entre aquilo que vivemos no Ocidente e o laicismo certo (o “laicismo saudável”, como ele diz). Em sua exortação apostólica depois do Sínodo sobre o Oriente Médio, no parágrafo 29, ele afirma existir uma falta interpretação da laïcité [outra palavra para o secularismo] e uma boa interpretação. Você está certo quando diz que a Europa, muitas vezes, teve uma abordagem ruim à modernidade.
Os muçulmanos sabem que a modernidade vem do Ocidente; isso é um fato. Agora, eles veem o Ocidente como tendo perdido a sua ética, especialmente em questões sexuais. Ficam muito chocados com o que veem ou ouvem. Então, dizem que estas coisas decorrem da modernidade. Querem rejeitar os excessos e abusos de alguns princípios, mas acabam rejeitando a coisa toda. O problema é que o Ocidente é o responsável, sem saber, pela reação do mundo islâmico.
Poder-se-ia dizer que o Ocidente, em particular a Europa, tendo virado suas costas a Deus, está levando o Estado Islâmico (ISIS) a essencialmente completar a lacuna?
Sim. A questão é: Como nos confrontamos com a modernidade? Quando a Europa ainda era cristã em seu estilo e em sua prática, a modernidade era vista como um acréscimo. Hoje, ela é vista [pelos muçulmanos fundamentalistas] como a causa de uma tradição infiel, laica – e, portanto, eles a rejeitam dizendo: “Nós vamos voltar para a época do Profeta”. Isso se chama salafismo, do árabe “salaf”, termo para referir os companheiros de Maomé, ou a primeira geração depois dele. Então, a solução para a maioria dos intelectuais religiosos, hoje, é voltar ao “salaf”, reproduzindo exatamente o que foi feito pelo Profeta, como eles o chamam, até com sua barba, mesmo eles não sabem como ela era ou como ele costumava comer, etc.
Existe um princípio no Islã que poderia ser usado para libertar as pessoas, que é o de não olhar para a sharia [a lei islâmica] literalmente, mas, pelo contrário, olhar para a chamada Maqāsid al-Sharia – quer dizer, as metas e os objetivos da sharia, empregando a pergunta “Por que…?” – perguntando: Por que temos esta decisão no Islã?
Um exemplo com os alunos que tive, metade muçulmanos e metade cristãos. Digo que a lei islâmica afirma que alguém é ladrão: o Alcorão diz que devemos cortar a sua mão fora, e se ele voltar a roubar, então devemos cortar o seu pé, e assim por diante. Na Arábia Saudita, eles estão fazendo isso e pensam que estão sendo fiéis ao Alcorão. Agora, se nos perguntarmos: “Qual o objetivo desta lei? É fazê-lo não ser capaz de furtar”. Então, temos que nos focar no objetivo.
Hoje, pergunto aos meus alunos: Não existem outros meios de ajudar um ladrão? Talvez ele esteja numa situação de fome, não tendo formação e, portanto, nunca vai conseguir um emprego. Desse modo, a solução é educar para que ele possa ter um trabalho ao invés de roubar. Mas essa forma de pensar é muito rara. O modelo predominante é: tomam-se literalmente o Alcorão e os dizeres do Profeta – milhares de dizeres, reunidos em grandes volumes –, tome-os literalmente e, em seguida, aplique-os.
O senhor diria que, essencialmente, o que temos é um choque entre heresias do Islã, as quais Hilaire Belloc certa vez chamou de uma heresia cristã, e as heresias da modernidade e do modernismo?
Sim. Elas resultam ou da aplicação literal do Alcorão ou caem naquilo que eles enxergam no Ocidente. As pessoas não encontram um caminho mediano, para dizer: “Nós recusamos isto e aquilo do Ocidente, e nós também recusamos a aplicação material desta e daquela tradição islâmica”, o que significa que foi feito um discernimento. Isso é o emprego da razão em teologia, na interpretação do Alcorão, a “tafsīr” [exegese]. É isso o que não se consegue hoje.
O problema é, primeiramente, teológico, e então ele move-se para a guerra, o terrorismo... Para mim, a solução é a educação dos imãs moderados, imãs de mente aberta, não somente os que estudaram religião, como fazem na Universidade de Al-Azhar e alhures, mas também aquelas pessoas que se formam em matemática, física, filosofia, história, estudos culturais comparados, e assim por diante; além desses, o Alcorão, os estudos tradicionais e do hadith, com o que se vai fazer uma ponte entre ambos e reinterpretar o Islã de acordo com o nosso conhecimento diário de hoje, o conhecimento moderno. Mas nós estamos aplicando o Alcorão como ele foi dito às pessoas no século VII no deserto. Hoje, nós não mais estamos no deserto, e já se passaram 14 séculos.
Até quando o senhor acha que vai continuar esta violência? Até que ponto a vê difundindo-se pelo Ocidente?
Pode levar décadas. A violência é tal e, se não fizermos nada, eles irão vencer. Se deixarmos a Síria lutar sozinha, eles lutarão usando métodos militares e destruirão todo o país para salvar o seu próprio povo, em ambos os lados. Os terroristas não estão cientes do desastre que estão fazendo. Mas o governo está também reagindo com todos os meios. E mesmo que [esta resposta governamental] não queira matar pessoas inocentes, inocentes são também mortos diariamente. Li que houve, até hoje, 230 mil mortes na Síria. É enorme.
O que o senhor gostaria de ver a Igreja fazer? Talvez trazer de volta um senso de moralidade para dentro do Ocidente, um renascimento da Igreja na Europa, para neutralizar esta força?
Sim, penso que precisamos fazer uma grande renovação no Ocidente e na abordagem cristã à vida. Porém a tendência secular é tão forte que, se você fala como um verdadeiro cristão, dizem: “Ah, você é tão antiquado”.
Por exemplo, tomemos a liberdade ao divórcio ou viver juntos sem se casar, e então quando você se casa daí pode se separar quando quiser, etc. Agora se está ensinando que existem tipos [diferentes] de famílias. Vi isto num livro escolar na França: temos uma família com um homem, uma mulher; com dois homens juntos; duas mulheres juntas; e então a família tradicional, com um homem e uma mulher. Está-se destruindo a sociedade e a ética. Isso não é algo exclusivamente cristão...
Quando os muçulmanos veem tais coisas, imediatamente lembram que a homossexualidade é absolutamente condenada no Alcorão, com referência ao personagem bíblico Ló. (Ver os capítulos 7, 80-81; 11, 77-82; 15, 58-74; 21, 74; 26, 165-166; 27, 54-55; 29, 28-30; 54, 33-34.) Em alguns casos, pessoas foram queimadas vivas. Então os muçulmanos dizem: “Ok, o Ocidente é cristão, o cristianismo permite isso, e então o cristianismo não é a verdadeira religião; é uma falsa religião. E nós queremos ser verdadeiros, queremos ficar com o Alcorão e a tradição”.
O que significa que somos, em parte, indiretamente responsáveis pelo fanatismo que está se difundindo cada vez mais no Islã como uma reação ao Ocidente – não só, mas isso também – e desempenhando um papel na radicalização desta religião.
O que mais a Igreja pode fazer?
No geral, nós temos uma grande responsabilidade. Independentemente do que aconteceu, nós cristãos temos uma bela e importante responsabilidade. Temos de ajudar os muçulmanos a superar esta realidade. Podemos ajudá-los mais do que eles próprios, porque fomos até o fim em todas as novas interpretações da Bíblia e porque estamos lutando dentro da Igreja, por exemplo, dentro da Igreja Católica, contra algumas tendências de um secularismo rígido. Assim, temos o mesmo objetivo, mas possuímos mais experiência.
Nós também temos a oportunidade de ter uma autoridade iluminada na pessoa do papa; e este repetiu dias atrás, a antes ainda, que “a “violência jamais pode ser uma solução divina. Eu jamais posso brigar fisicamente por Deus. A luta é espiritual”. Era este o significado da palestra de Bento XVI em Ratisbona e que foi mal interpretado.
Portanto, uma resposta é construir uma verdadeira amizade com os muçulmanos, para dizer que nós estamos juntos contra a laicidade extrema. Concordamos com vocês em algumas questões, vamos nos ajudar para sermos mais espirituais e ter uma abordagem mais espiritual a Deus e à religião.
E, no fim, se tornar católicos?
Sim, certamente. As últimas palavras de Mateus: “Vão e proclamem o Evangelho a todo o mundo” são uma obrigação de amor para cada cristão. Não é propaganda política; é permitir a liberdade espiritual que o Evangelho, que Cristo trouxe ao mundo. Então, não é simplesmente opcional; é uma ordem, mas uma ordem para a liberdade, para a vida e para a alegria. Com os muçulmanos, assim como com os cristãos, nós temos de reevangelizar os cristãos, os muçulmanos e os ateus, e pregar a Boa Notícia.
Se o Evangelho é o tesouro mais belo que temos, como podemos nos recusar em partilhá-lo com os outros, especialmente se eles estão em crise?
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O Islã precisa de uma renovação da razão, diz estudioso do Oriente Médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU