O Capital Improdutivo

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27 Setembro 2017

"A intermediação financeira drena em volumes impressionantes recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento do país. O mercado financeiro impõe suas exigências e qualquer decisão em direção contrária provoca pressões políticas fortes e um bombardeio da mídia para amedrontar a população. Não é mais a mais-valia salarial que importa, mas a mais valia-financeira", escreve Manfredo Araújo de Oliveira, doutor em Filosofia pela Universität München Ludwig Maximilian de Munique, Alemanha, e professor da Universidade Federal do Ceará – UFC.

Eis o artigo.

Em seu último livro, “A Era do Capital Improdutivo”, L. Dowbor elabora um quadro teórico com a pretensão de compreender a forma como o capitalismo se configura em nossos dias. A tese fundamental é que o centro da economia hoje é o “capital financeiro”. Está em curso um processo de globalização financeira que torna difícil ao país adotar políticas macroeconômicas independentes e as reformas financeiras que são necessárias. Isto gerou uma espécie de elite que vive de juros e não da produção. Quando se cobra nos crediários mais de 100% de juros, a intermediação financeira está se apropriando da metade da capacidade produtiva da população. Isto porque de algum lugar têm que vir os recursos para a apropriação financeira e no Brasil eles vêm precisamente da taxa de juros sobre as famílias. As instituições de crédito sugaram a capacidade de compra da população, e dessa forma esterilizaram a dinamização da economia pelo lado da demanda.

Numa palavra, os recursos são conseguidos por meio dos juros bancários:40% dos adultos não conseguem pagar as prestações com os juros de suas compras. Assim, o principal motor da economia, o consumo das famílias, fica paralisado. O bem-estar das famílias depende do salário direto e indireto (creche, escola, saúde, transporte, etc.). O salário indireto na medida em que é público gratuito, universal e de qualidade gera equilíbrio social. Por esta razão, ao invés de diminuir gastos, uma política pública sensata é aumentar o salario indireto das famílias como a reforma tributária que é igualmente instrumento indispensável para o avanço do combate às desigualdades. Na situação atual, o rentismo fatura muito, mas seus dividendos não são tributados.

Esta situação exige mudanças radicais na atuação política na sociedade. Assim, por exemplo, os sindicatos normalmente ainda pensam que é necessário lutar basicamente pelo salário porque é aqui que se concentra a exploração. No entanto, hoje o trabalhador é muito mais explorado pelo capital financeiro, pela taxa de juros: ele paga proporcionalmente o dobro ou mais pelo que compra. Neste caso, é como ele dividisse o salario pela metade, ou seja, os pobres não somente pagam mais imposto como também pagam o dobro do que consomem porque não têm condição de pagar à vista. Quem ganha dinheiro hoje são aqueles que podem fazer aplicações financeiras o que não é o caso dos pobres que precisam trabalhar e produzir para ganhar seus salários.

A intermediação financeira drena em volumes impressionantes recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento do país. O mercado financeiro impõe suas exigências e qualquer decisão em direção contrária provoca pressões políticas fortes e um bombardeio da mídia para amedrontar a população. Não é mais a mais-valia salarial que importa, mas a mais valia-financeira. Hoje são os gigantes financeiros que fazem a regulação da economia. Não existem razões plausíveis para a economia não funcionar. É indispensável que se compreenda que a generalização da inclusão social e a redução dos desequilíbrios internos esbarram em razões estruturais.

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