Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 12 Dezembro 2018
Em 2019 o jogo eleitoral na América Latina tende a definir um cenário com novos atores políticos na região. O Uruguai, um dos “redutos” da esquerda progressista, entra no rol dos países com uma agenda de extrema-direita na disputa. O seu representante é Edgardo Novick, segundo colocado na última eleição para intendente de Montevidéu. Sua campanha para presidente já está pelo país, enquanto os partidos tradicionais sequer definiram candidaturas.
Edgardo Novick é um empresário milionário, começou como feirante, abriu uma loja de artigos esportivos, investiu em restaurantes e então entrou na política. Novick diz que não possui escritório porque “a chave do seu trabalho está nas ruas”. Na política e no setor privado.
Assim como criou empresas, Novick criou um partido: o Partido de la Gente, ou uma tradução literal, para Partido do Povo. A fundação aconteceu em 2016, depois de um certo êxito da sua candidatura para a prefeitura de Montevidéu, em 2015. Conquistou 24% dos votos, perdendo para Daniel Martinez, do Frente Amplio, por 70 mil votos.
Ademais da sua carreira no setor privado, Novick cresceu em cima justamente do Frente Amplio. Na capital uruguaia, o partido que é formado por uma coalizão de grupos de esquerda, governa desde as eleições de 1990, iniciando um ciclo de 28 anos, justamente com o atual presidente do país, Tabaré Vázquez. Dado o fortalecimento do FA no cenário nacional, os tradicionais partidos Nacional e Colorado perderam força. Foram mais de 150 anos de hegemonia compartilhada, um sistema político quase bipartidário.
Tabaré Vázquez e Pepe Mujica são dois símbolos da ruptura com as oligarquias uruguaias. Para Novick, esses fazem parte do sistema. Os governos de esquerda, para Novick, foram os motivos que o fizeram entrar na política. Sua primeira eleição em 2015, foi pelo Partido de la Concertación, uma coalizão entre Blancos e Colorados. Mas para Novick uma mera aliança eleitoral não é o suficiente para “atender o que o povo pede nas ruas”.
Depois de 2015, Novick compreendeu que Luís Lacalle, Julio Maria Sanguinetti e Jorge Battle, os últimos presidentes blancos e colorados antes do Frente Amplio assumir em 2005, “estavam muito apegados à política”, não compreendiam mais as demandas populares. Era preciso ir às ruas, escutar sobre a insegurança e a educação.
Assim, no final de novembro de 2018, já em campanha, seu novo partido apresentou um documento de 50 propostas para a segurança, intitulado “Tolerância zero para a delinquência”. Uma delas é a construção de cárceres para pequenos delitos, como “para quem urina na rua ou causa distúrbios contra a polícia”. Robert Parrado, assessor do partido para segurança, disse em entrevista ao jornal El Observador que “a ideia é que quando a pessoa ingresse na cela, escute que se fechou uma porta atrás, que sinta o cadeado, que efetivamente ficou alojado numa cela, em privação de liberdade”.
Novick esteve no Brasil em 2018, mais precisamente em Santana do Livramento, no dia 29 de outubro. Uma viagem para comemorar junto com os brasileiros a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições. “O PT é o mesmo que o Frente Amplio. Mujica e o Frente Amplio defendem a corrupção, Lula, Maduro e os Kirchners, isso agora termina. Eu acredito que no Uruguai haverá uma mudança de verdade, o povo está cansado”, afirmou ao canal Subrayado. Em suas declarações segue constantemente atacando o ciclo progressista no continente. Semelhante ao discurso da direita brasileira, acusa que "se Frente Amplio vencer novamente, seremos [Uruguai] uma nova Venezuela"
Aviso en el diario El País de Uruguay: "Hoy se termina el PT y el año que viene se termina el FRENTE AMPLIO" pic.twitter.com/lBfOINdD1Z
— Edgardo Novick (@EdgardoNovick) 28 de outubro de 2018
Nessa semana a campanha de Novick lançou seus jingles. Em ritmo de cumbia e murga, as letras são contra o Frente Amplio, contra os Kirchners, o PT, a Venezuela, Nicarágua, “tudo bandidagem”. Uma linguagem popular, em ritmo popular, com discursos diretos a um inimigo.
Do outro lado, Frente Amplio, Partido Nacional e Partido Colorado ainda definirão suas candidaturas. O FA, por votação interna, decidirá até junho de 2019. Blancos e Colorados estudam uma nova coalizão, entretanto não há consenso interno em ambos os partidos. As eleições estão marcadas para 27 de outubro de 2019.
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Uruguai. Edgardo Novick, o ultradireitista em campanha adiantada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU