20 Abril 2018
Preocupada pela fragmentação social cada vez mais presente na sociedade uruguaia, a Conferência Episcopal do Uruguai (CEU) apresentou, nesta quarta-feira, o documento Construamos pontes de fraternidade em uma sociedade fragmentada, elaborado pela Assembleia Plenária de bispos, reunida em Florida nos primeiros dias de abril.
A reportagem é publicada por El Observador, 18-04-2018. A tradução é do Cepat.
Em coletiva de imprensa, o cardeal arcebispo de Montevidéu, Daniel Sturla, chamou a atenção sobre a “deterioração do relacionamento social” que se vive no país, quando este tradicionalmente se caracterizou pela integração social.
“É uma situação difícil, mas a própria sociedade tem ferramentas para a superar”, manifestou Sturla.
Neste sentido, enfatizou o “desequilíbrio geracional” que se ocasiona pela baixa taxa de natalidade e o alto índice de suicídios. Para os bispos, estes fenômenos têm “raízes espirituais”, dado que as pessoas “necessitam viver uma vida com sentido”, diz o documento.
Sturla também enfatizou a proporção de crianças que vivem na pobreza, a qual, em relação à totalidade da população pobre, é a mais alta de todo o continente. “De cada 1.000 crianças menores de seis anos, 174 são pobres, enquanto que de cada 1.000 pessoas entre 18 e 64 anos, 64 são pobres”, ressaltou.
“Preocupa-nos muitíssimo que uma parte importante das futuras gerações de uruguaios esteja crescendo com menos oportunidades para se desenvolver plenamente”, destaca o documento da CEU. Ao mesmo tempo, adverte que isto pode ser constatado pelos próprios bispos nas visitas que realiza aos centros do Instituto Nacional de Inclusão Social Adolescente (INISA). “Vemos com dor como a maioria dos jovens compatriotas que estão ali vem dos setores mais empobrecidos de nossa sociedade”, destacou o arcebispo.
Outro aspecto que preocupa os bispos é a dicotomia cidade - campo, um tema que esteve presente nos últimos meses com o conflito dos produtores. Sturla expressou que atualmente esta dualidade também se manifesta na proliferação de bairros privados, por um lado, e por outro, os bairros pobres na periferia.
O cardeal também demonstrou inquietação pela quantidade de pessoas que vivem na rua. Disse que embora não tenha números, tudo parece apontar que são “muitos”. Manifestou que em Montevidéu há 16 grupos pertencentes a diversas paróquias que saem para distribuir comida todos os dias da semana e sempre possuem “clientes”.
“Aqui, há um papel chave da educação, um dos elementos em que há mais dificuldade, não só pelos resultados, mas também porque as respostas são lentas”, disse Sturla.
Neste sentido, o cardeal insistiu com a ideia de criar um sistema semelhante aos Caif – onde Estado e a iniciativa privada trabalhem juntos – para a educação formal. “É uma ferramenta fantástica”, manifestou, e recordou os bons resultados que vieram de liceus como o Jubilar (Casavalle), Providencia (Casabó) e o centro educacional Los Pinos (Casavalle).
Neste sentido, o bispo auxiliar de Montevidéu, Milton Tróccoli, que também participou da conferência, expressou que não entende como um sistema assim pode funcionar para a primeira infância (Caif), para a saúde (Fonasa), mas não na educação.
Tróccoli recordou que o Estado deve velar pelo bem comum de toda a sociedade. A esse respeito, convidou a classe política a deixar de lado os interesses particulares e “buscar políticas públicas que ajudem a caminhar para uma sociedade mais fraterna e integradora”.
Também animou os cristãos a ser “construtores de pontes” na sociedade, “gerando espaços de proximidade” e promovendo “as experiências de serviço aos demais”.
O documento dos bispos destaca que assim como “a Igreja sempre buscou ter um papel ativo na reconciliação nacional, também agora quer ‘oferecer o ombro’ para contribuir com este processo de integração.
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Uruguai. Bispos preocupados com o aumento de pessoas que vivem na rua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU