09 Janeiro 2018
O que vem a seguir para a religião nos próximos 12 meses?
Pediu-se para que alguns dos principais líderes, estudiosos e ativistas religiosos dos Estados Unidos fizessem previsões sobre que mudanças haverá no cenário religioso depois do Ano Novo.
Do Vaticano ao Supremo Tribunal, seguem os aspectos para os quais, segundo eles, devemos nos manter atentos.
A reportagem é de Aysha Khan, publicada por Religion News Service, 03-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Há quatro anos, eu fiz parte de uma troca de e-mails que daria início ao lançamento do Muslim Anti-Racism Collaborative (MuslimARC), uma organização de educação sobre os direitos humanos. Eu tuitei para centenas de pessoas participarem de uma conversa usando a hashtag #BeingBlackAndMuslim (Ser negro e muçulmano) durante o Mês da História Negra e juntos começamos um movimento de discussão sobre raça e fé. Desde que co-fundei a MuslimARC, para abordar interseções de racismo sistêmico, xenofobia e islamofobia, trabalhei de perto com organizações religiosas como IMAN, Bend the Arc e PICO. Líderes como William Barber II, Rami Nashashibi, Stosh Cotler, Kameelah Mu’min Rashad e Valarie Kaur têm levado a sua teologia da libertação para as ruas.
Eles são apenas alguns exemplos de líderes religiosos que continuarão cada vez mais em evidência em 2018. É importante notar que 2018 será uma época em que mais religiosos vão se unir para construir poder coletivo. 2018 será um ano em que o trabalho inter-religioso vai recalibrar a agenda social ética e moral dos Estados Unidos.
2018 será o ano em que igrejas, mesquitas, templos, sinagogas, Gurdwaras e espaços sagrados vão trabalhar em conjunto para proteger os mais vulneráveis. Vejo mais pessoas religiosas caminhando juntas, motivadas para curar as divisões e o feio não apenas na sua sociedade, mas no seu bairro. 2018 será o ano organizações religiosas deixarão de ser uma aberração. Vejo líderes religiosos chegando a um consenso, recusando-se a aceitar o nativismo, a xenofobia e o partidarismo. 2018 trará mais investimento em organizações religiosas, movimentando políticas, promovendo cura em níveis municipal, estadual, nacional. Câmaras municipais, governantes estaduais e autoridades governamentais receberão mais ligações e visitas de pessoas em congregações.
Ouviremos mais sobre as vitórias de meios alternativos de imprensa e de redes sociais. Portanto, ainda que a grande mídia não cubra o movimento multirreligioso, ele está acontecendo.
Margari Aziza Hill é o co-fundadora e co-diretora da Muslim Anti-Racism Collaborative (MuslimARC), uma organização de educação sobre os direitos humanos.
Acredito que virá a #MeTooJew, uma versão judia da #MeToo (em português, “Eu também”). Acredito que vai haver acusações e que histórias de assédio sexual vão envolver sinagogas, organizações, seminários e instituições judaicas. As mulheres — e, sim, os homens — vão trazer histórias de abuso, atingindo os níveis mais elevados da liderança comunitária judaica. Teremos demissões de importantes autoridades da comunidade judaica.
Além disso, esta nova onda de acusações vai impulsionar uma discussão maior na comunidade judaica — uma discussão que esperamos que migre para a cultura mais ampla. Precisamos discutir as linhas borradas entre assédio sexual, que tem uma definição legal, e o fato de os homens fazerem o que sempre fizeram desde, digamos, Adão. Os homens — e não apenas eles — às vezes agem de forma idiota. Isso é verdade até mesmo e principalmente em situações em que não houve nenhuma coerção, jogos de poder e jogos sexuais, ou algo do gênero. Em última análise, a guerra contra o yetzer ha-ra, a inclinação para o profano, é uma guerra fracassada.
Portanto, os Estados Unidos também precisam de uma meditação mais expansiva sobre o significado da confissão e do perdão. O que significa confessar os erros? O que significa fazer a teshuvá, ou arrependimento? Qual é o estatuto de limitações para tais erros? Quais são as implicações éticas e comunitárias de acusar aqueles que não estão mais vivos e não podem se defender? Sem repercussões legais, quais são as sanções adequadas para tais falhas morais?
Afirmo que o Judaísmo tem uma rica tradição textual, que poderia alimentar essas reflexões.
Finalmente, o movimento #MeTooJew vai estimular que mulheres judias que ocupam cargos importantes, incluindo o rabinato, iniciem um novo movimento — #PayMeRight (em português, “Me pague direito”). Elas vão responder ao fato de que as mulheres judias têm recebido salários mais baixos do que os homens nos mesmos tipos de cargos. Posso até prever, e adoraria que acontecessem, demonstrações de protestos na Assembleia Geral de 2018, assim como nos encontros nacionais de cada organização judaica.
Porque é uma forma de os líderes judeus estadunidenses lamentarem o horrendo tratamento que as mulheres receberam no Kotel em Jerusalém. Muito melhor para nós é mudar o comportamento em relação às mulheres nas salas de diretoria e nos gabinetes executivos do judaísmo estadunidense.
O rabino Jeffrey Salkin escreve a premiada coluna "Martini Judaism" no RNS. Ele também atua como rabino sênior do templo Solel em Hollywood, Flórida.
Em 2018, evangélicos latinos e evangélicos de outras raças vão se juntar aos mais jovens para levar os evangélicos dos EUA para além da política partidária.
Haverá uma nova manifestação tecnicolor evangélica ampliando o compromisso público do evangelicalismo estadunidense com um enfoque tanto sobre o evangelismo como sobre o bem comum.
O Rev. Gabriel Salguero é presidente da Coalizão Evangélica Latina dos Estados Unidos e atua como pastor na Calvario City Church, uma grande congregação de Assembleias de Deus, em Orlando, na Flórida.
Acredito que em 2018 raça e pobreza estarão em primeiro plano no diálogo nacional à medida que líderes religiosos aparecem em praça pública para apelar por justiça. Esse apelo vai estimular as pessoas dos Estados Unidos com a verdade que a pobreza e o racismo são estruturais na sociedade estadunidense e Nós, o Povo, podemos e vamos mudar essa realidade.
Simone Campbell (Foto: Gerald R. Ford School of Public Policy, University of Michigan | Flickr CC)
No ciclo da eleição, vamos falar sobre a verdade da pobreza do século XXI, em que as famílias dos EUA são pobres por terem salários tão baixos. Vamos falar sobre o vale-alimentação e o Medicaid para as famílias trabalhadoras porque os salários pagos pelos empregadores não são suficientes e eles também não dão benefícios aos trabalhadores. Nessa conversa, poderemos lançar luz a políticas aprovadas pelo Congresso que criaram a lacuna racial da riqueza. Essas políticas incluem redlining (exclusão de clientes potenciais por motivos discriminatórios), o G.I. bill (lei que beneficiava veteranos de guerra), empréstimos estudantis, entre outras. Quando reconhecermos esse racismo estrutural, conseguiremos promover a mudança.
Líderes religiosos vão revelar aos brados a mentira dos políticos, que dizem que "não temos dinheiro para programas como o vale-alimentação e o Medicaid". Vamos demonstrar que esses programas tornaram-se os subsídios de negócios para compensar o fato de que nossos trabalhadores não recebem o suficiente e, portanto, usam programas para sobreviver. Vamos chamar os EUA a serem a sua melhor versão e mudar a retórica.... e as políticas.
Nem tudo vai mudar em 2018, mas será um passo em direção ao engajamento público à verdade sobre raça e pobreza nos Estados Unidos. Quando tomarmos consciência, vamos nos comprometer a mudar. Isso requer um passo longe do hiperindividualismo e do medo, em direção à comunidade.
Não sei se temos coragem de dar este passo, mas acredito que 2018 nos dará esta clara escolha. Quando falarmos sobre a verdade das questões de raça e de pobreza nos Estados Unidos, estaremos dispostos a nos comprometer com a mudança? Para responder sim, acredito que líderes religiosos terão de se levantar e liderar o caminho através de uma nova selva, a caminho da cura e da esperança.
Irmã Simone Campbell é diretora-executiva da NETWORK, um grupo de lobby católico a favor da justiça social e líder do movimento de "Freiras no Ônibus", da NETWORK.
Este é o ano em que a Igreja Católica vai levar a sério a discussão sobre a possibilidade de haver padres casados.
A Igreja tem vivido uma escassez de sacerdotes em todo o mundo, principalmente nos países desenvolvidos. Não há sacerdotes o suficiente para fazer sacramentos, rezar a missa ou dar assistência pastoral ao povo católico.
Tom Reese (Foto: Reprodução YouTube)
Quando bispos pediram para que houvesse padres casados, o Papa Francisco disse para voltarem aos seus países e fazerem com que a Conferência Episcopal solicitasse, que ele pensaria sobre o caso. Este ano, haverá um Sínodo dos Bispos sobre a juventude e as vocações, que trará uma oportunidade para discutir o celibato opcional. Em 2019, haverá um sínodo para a Amazônia, onde os bispos estão desesperados por sacerdotes. Há uma boa chance que este sínodo vai pedir por padres casados.
A exigência do celibato para padres católicos é uma questão de lei canônica, não de doutrina, e pode ser alterada. Na verdade, nos primeiros 1.000 anos de existência, a Igreja tinha sacerdotes casados. As Igrejas orientais, como a Igreja Católica Ucraniana, em união com Roma, têm um clero casado. Alguns ministros protestantes que se tornaram católicos também foram autorizados a ser ordenados sacerdotes mesmo sendo casados. Se a mudança acontecer, deve começar por áreas do mundo que a solicitem, mas depois vai se espalhar rapidamente.
Pe. Thomas J. Reese, padre jesuíta, é um analista sênior do RNS e escreve a coluna "Signs of the Times".
Em 5 de dezembro, eu assisti a sustentação oral no STF do caso Masterpiece Cakeshop contra a Comissão de Direitos Civis do Colorado. Primeiro grande caso de direitos LGBT que o Supremo Tribunal assumiu desde o caso “Obergefell vs. Hodges” — a decisão de 2015 foi um marco a favor da igualdade de casamento — , o caso “Masterpiece Cakeshop” coloca um padeiro do Colorado, Jack Phillips, contra o casal homossexual cujo bolo de casamento personalizado ele se recusou a fazer por motivos religiosos.
A sustentação oral animada e às vezes engraçada revelou um tribunal dividido, como era de se prever. Os quatro juízes tipicamente progressistas encheram os advogados de Jack Phillips com hipóteses sobre que outros tipos de conduta discriminatória podem se tornar admissíveis se o tribunal decidir a favor do padeiro.
Os juízes conservadores, por outro lado, estão preocupados que uma decisão a favor do casal obrigaria Jack Phillips e, por extensão, outros proprietários de negócios com fortes convicções religiosas, a expressar pontos de vista que eles consideram repugnantes. O juiz Anthony Kennedy, que escreveu as principais decisões do tribunal sobre os direitos homossexuais, mas também é o maior defensor da liberdade de expressão, como sempre, surgiu como o voto de Minerva.
Ele estava preocupado com a dignidade pública das pessoas LGBT, mas também criticou de forma severa as autoridades do Colorado que haviam se desfeito das crenças de Jack Phillips em fases anteriores do processo.
Jack Phillips (Foto: Reprodução YouTube)
Uma decisão sobre o mérito do caso provavelmente resultaria em alguns dos danos que um ou o outro bloco de juízes temia. Uma decisão a favor de Phillips confirmaria que as empresas podem usar crenças religiosas para protegê-las das leis contra a discriminação; uma decisão a favor do casal colocaria os empresários religiosos em posição de ter que realizar alguns serviços que não gostariam.
Mas esta é a minha previsão. Há uma outra opção de que o Tribunal pode lançar mão — dado que a animosidade das autoridades do Colorado em relação às visões cristãs e conservadoras de Jack Phillips contaminaram de maneira incontornável os processos contra ele e apontam para uma nova audiência para o caso. É provável que o resultado ainda iria contra Jack Phillips e quase certamente haveria novo recurso, mas ele poderia pedir uma justificação. E o tribunal, que não parece disposto a contrariar a lógica das decisões de casos anteriores como o de Obergefell de que a discriminação contra pessoas LGBT merece maior controle judicial, poderia adiar essa pergunta mais ampla.
Patrick Hornbeck é professor de teologia na Universidade de Fordham. Ele tem analisado o caso “Masterpiece Cakeshop” em uma série de artigos na Religion Dispatches.
A liberdade religiosa, em essência, trata de viver e deixar viver. Florescer em sua própria expressão religiosa e proteger o direito dos outros de fazê-lo também — independentemente de concordar ou até mesmo entender suas práticas religiosas.
Do meu ponto de vista de quem há décadas é ativista pela liberdade religiosa, essa ideia de viver e deixar viver foi fácil o suficiente por algum tempo. Porém, está mudando rapidamente. Mesmo no decorrer de minha carreira quando ainda era jovem, meu trabalho social com a liberdade religiosa foi desde cobrir tópicos amplamente incontroversos, como o uso da terra e os direitos dos presos, até casos no centro das guerras culturais.
Esta mudança reflete o estado da liberdade religiosa hoje — não mais incontroverso e em grande parte incontestado, mas de repente altamente politizado. E em 2018 espero que essa trajetória em direção à politização crescente continue.
Existem duas vertentes deste fenômeno. Por um lado, a politização baseia-se em profundas divergências sobre as questões de moralidade sexual. Como explica o professor Doug Laycock, "nas questões do aborto, da contracepção, dos direitos dos homossexuais e do casamento homossexual, os líderes religiosos conservadores condenam como graves males o que muitos outros estadunidenses consideram direitos humanos fundamentais".
Por outro lado, o ponto crucial da divergência na liberdade religiosa está nos muçulmanos e no Islã. Mais especificamente, muitos defensores francos da liberdade religiosa acham perfeitamente coerente simultaneamente negar tal proteção aos muçulmanos. Segundo seu raciocínio, o Islã não é uma religião (aparentemente, é outra coisa — como uma “ideologia política") e, portanto, não se qualifica para receber proteções de liberdade religiosa. O argumento é falso e alarmante, mas o fato de que é cada vez mais relevante no discurso público sugere que pode ganhar terreno em 2018.
Asma T. Uddin faz parte da Initiative on Security and Religious Freedom, no Centro Burkle de Relações Internacionais da UCLA e do Centro de Berkley para Religião, Paz e Assuntos Mundiais da Universidade de Georgetown.
Acredito que, em 2018, haverá algum evento envolvendo o presidente Donald Trump que vai colocar um teste moral decisivo em sua base mais forte de apoiadores evangélicos brancos.
Talvez seja novas provas contra ele relacionadas com acusações de abuso sexual ou uma acusação do diretor do FBI, Robert Mueller, a membros de sua família ou até mesmo ao presidente e uma demissão presidencial de Mueller ou o perdão do indiciado.
Infelizmente, acho que já sabemos o que vai acontecer. Um núcleo de #Trumpvangelicals (em português, “Trumpvangélicos”) permanecerá leal, aconteça o que acontecer. Vão basear suas opiniões no Fox News. Sua incapacidade de oferecer qualquer coisa que se pareça com razões morais bíblicas para sua opinião será dolorosamente óbvia. E ficará ainda mais claro que o que quer que aconteça com Donald Trump vai acontecer com esses evangélicos, pois eles tornaram-se indistinguíveis.
O Rev. David P. Gushee, que escreveu a conhecida coluna do RNS “Christians, Conflict & Change” (Cristãos, conflito e mudança), é diretor do Centro de Teologia e Vida Pública da Universidade de Mercer.
Minha previsão para 2018 é que os mórmons vão romper em massa com Trump e, em maior medida, com o partido republicano.
Como eu e outros já havíamos escrito, os mórmons nunca gostaram de Trump. Como disse o mais famoso mórmon antiTrump, Mitt Romney, os mórmons, no geral, veem Trump como um "impostor, uma fraude". Trump tem apenas 14% da votação primária republicana em Utah, estado dominado pelos mórmons. E, naquele breve período em outubro de 2016 quando uma presidência de Trump parecia impossível após o lançamento da fita do Access Hollywood, os políticos mórmons lideraram o início da "revolta de todos" contra a candidatura de Trump.
Sim, 61% dos mórmons dos Estados Unidos votaram em Trump (os mórmons têm sido os eleitores mais confiáveis do Partido Republicano em comparação a qualquer grupo religioso). E sim, Trump ganhou com folga em Utah, mas só teve 45% dos votos (Hillary Clinton e o candidato independente conservador - e mórmon -, Evan McMullin, totalizaram 49%). Finalmente, sim, os números favoráveis para Trump em Utah — que giraram em torno de 50%— superaram outros estados “vermelhos”.
No entanto, há vários sinais de que o desdém mórmon a Trump atingiu um ponto de inflexão.
Primeiro, há políticos mórmons (e republicanos), como Jeff Flake, do Arizona, que estão chamando Trump do que ele é: uma ameaça à democracia dos EUA.
Em segundo lugar, ainda que Trump tenha sido graciosamente recebido pelas autoridades da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias quando visitou Utah no início no mês, esses mesmos líderes da Igreja denunciaram consistentemente o discurso e as políticas islamofóbicas de Trump e, sem nomear o presidente de forma explícita, têm chamado o “racismo, sexismo e nationalismo” do trumpismo intolerante e não cristão.
E, em terceiro lugar, há os mórmons do cotidiano e outros cidadãos de Utah, muitos dos quais foram às ruas de Salt Lake City durante a recente visita de Trump para protestar contra o presidente em geral e contra sua decisão de reduzir monumentos nacionais em Utah, especificamente.
Cuidado com este último grupo. Eles não apenas estão pegando nojo de Trump, como também do partido republicano. A presença do mórmon Evan McMullin na chapa teve um grande impacto, mas a começar pela eleição de 2016, o número de votos do Partido Republicano em Utah despencou de 72,6% em 2012 para 45,9% em 2016. Assim como o resto do país, Utah também está caminhando rumo ao favoritismo dos democratas antes das eleições de meio de mandato de 2018.
Para um número significativo de mórmons que conheço, a eleição do prefeito de Provo, John Curtis, extremamente popular, para substituir Jason Chaffetz na Câmara provou que, na era de Trump, não há bons republicanos — nem mesmo os republicanos mórmons.
O republicano John Curtis teve o apoio de alguns democratas liberais que o admiravam por ser um funcionário público eficaz e íntegro. Mas com um recorde de votação pró-Trump de 100%, ele tem mostrado que os mórmons anti-Trump não podem contar com nenhum republicano contra Trump. Em 2018, os mórmons em Utah podem contribuir para “azular” o rubi vermelho das zona eleitorais de Utah. Talvez ainda mais importante seja que o efeito duradouro para jovens eleitores mórmons que se tornam adultos durante o governo Trump poderia representar uma quebra geracional entre o partido republicano e seu bloco eleitor religioso mais leal.
Também vale observar que o estranho caso de amor do senador Orrin Hatch, de Utah, com Trump, que se reacendeu depois da votação sobre a questão fiscal nesta semana, pode reforçar ou anular estas previsões.
Max Perry Mueller é o autor de "Race and the Making of the Mormon People" e professor da Universidade de Nebraska-Lincoln.
Os testemunhos dos Quaker nos chamam a viver com integridade e simplicidade, a trabalhar pela paz e pela igualdade e a procurar uma terra restaurada. Queremos que nossas vidas conversem com a crença de que há Deus em todas as pessoas.
Em 2017, houve uma onda de aumento no ativismo de milhões de pessoas nos Estados Unidos, que fizeram suas vozes serem ouvidas em níveis sem precedentes. Elas apareceram nos gabinetes do Congresso, nas prefeituras, enviaram e-mails e congestionaram linhas telefônicas. As pessoas foram levadas a agir por preocupações morais e crenças profundamente arraigadas sobre os valores e a visão do que o país deveria ser.
Comunidades religiosas uniram de formas poderosas para amplificar os ensinamentos das escrituras que informam essas questões críticas sobre o bem comum, o papel do governo, como tratarmos uns aos outros e a nossa Terra — desde receber imigrantes e refugiados até assegurar que as pessoas tenham assistência à saúde e proteger o ar que respiramos e a água que bebemos. O compromisso com a justiça econômica e racial, os direitos humanos, a diplomacia e a paz são essenciais para os Quaker. Esta paixão despertada pela justiça social vai crescer em 2018.
Estamos em um momento em que o poder do testemunho profético é extremamente necessário. Como vamos amar ao próximo sem exceções? Desde prevenindo que haja guerra com a Coreia do Norte até acabando com o apoio militar dos EUA que aumenta a crise humanitária no Iêmen, vamos nos pronunciar pela paz e pelos direitos humanos. Desde pressionar por soluções permanentes e justas para os “Dreamers”, até assegurar o apoio do governo federal na assistência a famílias que têm dificuldades para pagar por cuidados de saúde, moradia e colocar comida na mesa, vamos defender as pessoas pobres. O público está procurando líderes que articulem uma direção para os EUA que seja justa e compassiva.
Isso significa que vamos falar a verdade com amor. Em uma atmosfera de raiva e ódio retórico, procuramos preencher o vazio do discurso produtivo e civil pelo qual as pessoas de todo o país estão sedentas. Nossos valores e objetivos permanecem os mesmos, independentemente de quem esteja no poder ou do clima político.
Diane Randall é secretária executiva do Friends Committee on National Legislation.
Em 2018 provavelmente os protestantes evangélicos brancos vão ficar bloqueados a favor de candidatos republicanos nas eleições de meio de mandato. De acordo com as pesquisas de boca de urna, 81% dos eleitores protestantes evangélicos brancos votaram em Donald Trump na eleição presidencial de 2016 e apoiaram fortemente o presidente durante o primeiro ano de mandato.
Enquanto a taxa de aprovação de Trump entre a população em geral girava em torno de 4 a cada 10 (e às vezes caía para a faixa dos 30) em grande parte de 2017, 72% dos evangélicos brancos aprovaram seu desempenho no cargo no outono, incluindo 3 a cada 10 que diziam que não havia praticamente nada que Trump fizesse que colocasse em risco seu apoio. Na eleição especial do Senado do Alabama no final de 2017, apesar das várias alegações de que Roy Moore teve relações sexuais inapropriadas com algumas adolescentes, nenhum grande pastor evangélico do Alabama falou publicamente contra ele e, da mesma forma, os protestantes evangélicos brancos se manifestaram a seu respeito, com uma votação de 80% a seu favor sobre seu adversário democrata.
De forma simplificada, em 2016 e 2017, os eleitores evangélicos brancos demonstraram que a maioria valorizou o partidarismo e os objetivos políticos, acima do caráter dos candidatos.
Mesmo que as eleições de meio de mandato de 2018 sejam dos democratas, como os melhores barômetros atualmente sugerem, os evangélicos brancos provavelmente permanecerão amarrados à lealdade tribal republicana, ou pelo menos à antipatia ao partido democrata, não importa quem esteja na cédula de votação.
Robert P. Jones é CEO do Public Religion Research Institute e autor de "The End of White Christian America".
Acredito que 2018 marcará um período em que as católicas leigas e as mulheres religiosas continuarão sendo um modelo de forte liderança colaborativa, não apenas para a Igreja institucional, mas também em questões fundamentais de política social.
As católicas estão liderando paróquias e chamando a atenção dos EUA para questões como pobreza, imigração e saúde. Relatórios demonstram que quase 50% das equipes paroquiais católicas dos EUA são constituídas por mulheres e 80% dos 30.000 ministros eclesiais da Igreja estadunidense são do sexo feminino.
Além disso, as religiosas continuam impactando ao chamar a atenção sobre questões sociais do país — o que se evidencia pelo trabalho da NETWORK, do movimento Freiras no Ônibus, entre outros grupos afiliados. As irmãs católicas estadunidenses foram mais uma vez uma força influente durante os debates do Congresso de 2017 a respeito do Affordable Care Act — ao enviar uma carta ao Congresso assinada por mais de 7,000 religiosas defendendo a manutenção dos ganhos em cobertura garantidos pela legislação. Muitas dessas irmãs católicas também trabalharam para pressionar o Congresso a fazer um projeto de lei de tributação equitativa que melhor sirva aos pobres, reunindo forças com mais de 2.200 líderes inter-religiosas. Em 2018, acredito que as irmãs católicas continuarão sendo uma voz forte na política social.
Além disso, em 2017 a comissão que estuda o diaconato feminino prosseguiu com os trabalhos. Acredito que seus esforços também continuarão em 2018, ao explorarem a história e a função das diaconisas. Prevejo que em um momento em que a Igreja está vendo mais paróquias compostas por mulheres e o Papa Francisco está expressando abertura à possibilidade de ter certos homens casados no sacerdócio, a Igreja sabe que precisa elevar a liderança feminina à função do diaconato.
No entanto, permanecem questões, como, por exemplo, como seria um diaconato feminino? Seria igual ao diaconato permanente para os homens? A Igreja está se preparando para seu próximo sínodo em 2018 sobre os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, e, ainda que nada tenha sido dito sobre padres casados ou o diaconato feminino, alguns sugerem que algo nos escritos do documento da assembleia preparatória poderia abrir esse diálogo, particularmente a discussão sobre novas estruturas para o cuidado pastoral.
Ao entrar mais um ano enfrentando escassez de clero, com dados mostrando que mais mulheres católicas estão administrando o cotidiano das paróquias, 2018 apresenta uma oportunidade para elevar o papel das mulheres, leigas e religiosas, na Igreja. (Note que algumas fontes referem um pequeno aumento no número de seminaristas e relatórios de 100 homens ordenados a mais em 2016 do que 2010, mas ainda há desafios persistentes para o crescimento do clero e a manutenção das paróquias. Veja isto e isto.).
Independentemente de qualquer resistência institucional, o futuro da Igreja é feminino.
Jeanine E. Kraybill é professora de Ciências Políticas na Universidade do Estado da Califórnia, em Bakersfield.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Quais os próximos passos para a religião em 2018? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU