O cenário do mercado de trabalho formal aponta para uma maior participação das mulheres ao longo da história, mas ainda é desigual, principalmente ao comparar os salários médios entre mulheres e homens. A desigualdade entre os dois grupos pode ser ainda mais acentuada ao comparar setores econômicos específicos.
O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos, acessou os dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e do Cadastro de Empregados e Desempregados – CAGED, ambos do Ministério do Trabalho e Previdência Social para analisar os dados.
No Vale do Sinos, 171.884 mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho formal, de acordo com a RAIS, em 2014. Conforme dados do CAGED, em 2015 este número caiu para 163.863, representando 45,35% dos trabalhadores formais totais frente a 45,42% um ano antes.
Além de o trabalho formal feminino ser desvalorizado, as mulheres têm, por vezes, duas ocupações, a de trabalhadoras formais ou informais do mercado de trabalho e também a de mães e domésticas. Estas realidades são frequentemente situações implicadas a partir da necessidade de renda da família, prejudicando o desenvolvimento das crianças em famílias mais pobres.
Para dar vistas à desigualdade dos salários através de dados, a tabela 01 apresenta dois grupos populacionais do mercado de trabalho formal: os 50% da população de trabalhadores formais com os salários mais altos e os 50% da população com os salários mais baixos. Esta comparação aponta para uma presença superior de mulheres entre os 50% que menos recebem e uma participação menor de mulheres entre os 50% que mais recebem.
Para expressar tal desigualdade, é necessário salientar que 45,42% dos trabalhadores do mercado formal de trabalho da região são mulheres. No grupo dos 50% com menores salários, a maioria da população é de mulheres: 55,40%. Por outro lado, na faixa dos 50% com os maiores salários, apenas 35,96% da população são mulheres, ou seja, 20% das mulheres não acompanham o crescimento da pirâmide salarial e reaparecem na base da mesma.
O gráfico 02 apresenta a evolução dos grupos de homens e mulheres ao longo do crescimento da faixa salarial no Vale do Sinos em 2014 conforme os salários dos trabalhadores do mercado de trabalho formal. As mulheres são maioria apenas nas faixas salariais de 0,51 a 1,00 e 1,01 a 1,50 salários mínimos.
A representatividade adversa das mulheres no mercado de trabalho formal não se dá apenas nos salários, mas também nos diferentes setores econômicos, sendo que dos 8 setores definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em apenas dois a participação feminina é maior que 50% e em outros dois setores ela não alcança nem 10%.
A tabela 03 apresenta a participação das mulheres no mercado formal de trabalho ao final de 2014 no Vale do Sinos nos 8 setores econômicos definidos pelo IBGE. No setor da administração pública, 68,83% dos trabalhadores são mulheres, enquanto nos setores formais da extrativa mineral e da construção civil a participação não alcança os 10%.
O setor de serviços é o que mais emprega mulheres, alcançando 51,94% dos postos. Ainda assim, a realidade desse setor na região difere de acordo com cada município. Em Araricá, 79% são mulheres neste setor, enquanto em Nova Santa Rita apenas 21,74%, sendo que este município frequentemente está entre os que possuem a menor participação feminina nos diversos setores econômicos. No segundo setor econômico que mais emprega formalmente, a indústria de transformação, apenas 26,10% são mulheres em Nova Santa Rita, representando a segunda menor participação feminina dos municípios da região neste setor. Apenas em São Leopoldo a participação feminina no setor da indústria de transformação é menor, com 25,62%.
A tabela 04 apresenta a evolução da participação feminina ao longo do período 2007-2014 em três territórios: Vale do Sinos, Dois Irmãos (município com maior percentual de mulheres no total do mercado de trabalho) e Nova Santa Rita (município com menor percentual de mulheres no total do mercado de trabalho.
No período analisado, a participação das mulheres no mercado formal de trabalho no Vale do Sinos cresceu de 40,38% para 45,41%. Além disso, pela primeira vez na nova série histórica do CAGED e da RAIS, que datam de 2003, observou-se em 2011 o primeiro município com maior percentual de mulheres do que homens no mercado formal de trabalho: Dois Irmãos.
Diferentemente dos territórios anteriormente citados, Nova Santa Rita apresentou recuo da participação feminina no período, de 31,17% para 29,67%. O município possui o menor percentual de participação feminina e destoa dos outros territórios da região.
A realidade da mulher no mercado de trabalho ainda revela a desigualdade de gênero e de classe. Esta é uma pauta a compor os debates das realidades, em vista do aprofundamento das análises e da busca de novos enfrentamentos, por meio de políticas públicas que necessitam ser implementadas intersetorialmente.
Por Marilene Maia e Matheus Nienow