27 Setembro 2022
Ela era loira, tinha cabelos compridos e se vestia no estilo ocidental. Hadis Najafi tinha 21 anos e foi morta por seis tiros. Hadis Najafi é o novo símbolo da revolta das mulheres iranianas. Seis tiros para fechar uma boca sorridente que havia decidido não se calar, foi às ruas de Teerã junto com centenas de garotas como ela e mulheres de todas as idades para protestar contra o véu e exigir justiça pela morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que morreu por causa de uma mecha de cabelo que saia do véu.
In Iran ucciso uno dei volti-simbolo delle proteste di questi giorni per la morte di Mahsa Amini. È Hadis Najafi, una ragazza di vent'anni, colpita dalla polizia durante una manifestazione pic.twitter.com/KgLynIvN32
— Tg3 (@Tg3web) September 25, 2022
A reportagem é de Caterina Soffici, publicada por La Stampa, 26-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma foto que a imortaliza amarrando o cabelo em um rabo de cavalo, uma guerreira se preparando para a batalha, se tornou viral. Diante das viaturas e dos homens da "polícia moral" em uniforme antimotim. Eles são os Golias de uniforme preto, protegidos por capacetes e roupa acolchoadas, ela como uma pequena Davi que empunha sua funda, o véu que tirou da cabeça. Movida pela raiva e pela esperança de que mesmo um pequeno gesto, como o de amarrar o cabelo em público, pode ter um significado, que só protestando e saindo à rua se pode mudar o mundo.
Najafi era loira, e talvez isso confunda o nosso imaginário de ocidentais. Jeans, unhas pintadas. Sob uma camisa xadrez aberta veste uma camiseta curta que deixa o umbigo de fora. Em suas fotos de perfil, ela sorri. Uma garota como muitas outras, que aqui - em nosso mundo livre onde todas as liberdades e as conquistas para as mulheres são tidas como garantidas - pode ser vista na frente de cada bar, de cada universidade ou nas ruas de nossas cidades.
Mas para Hadis Najafi tudo isso era uma miragem. Ela nasceu depois de 1979, ano da revolução islâmica, ano em que o Irã fez uma inversão, tomando o caminho da Idade Média. A ela, como a todas as mulheres iranianas, a lei teocrática islâmica de Khomeini tirou a liberdade e impôs o véu. E não só isso: as mulheres iranianas não podem cantar, andar de bicicleta, nadar, entrar nos estádios, divorciar-se ou sair do país a menos que autorizadas por um tutor (um homem da família) ou pelo marido. E se o marido (ou pai ou irmão) decide que não devem estudar ou trabalhar, então não há estudo ou trabalho para elas.
Hadis Najafi. (Foto: Reprodução Twitter)
Najafi em um vídeo dança com o cabelo ao vento à beira-mar. Esse também é um vídeo como os que podem ser vistos em nossas redes sociais. Na rede está o mundo e para elas, essas garotas corajosas, que não desistem diante da brutalidade da polícia e da repressão, foi uma fonte de inspiração.
Masih Alinejad, a ativista iraniana que vive nos Estados Unidos há sete anos para escapar da fatwa dos aiatolás (onde, no entanto, os homens do regime continuam a caçá-la e ameaçá-la, e onde já tentaram sequestrá-la e matá-la), lançou um apelo para que, como Mahsa Amini, Hadis Najafi também se torne um outro símbolo. “Peço que o mundo também se torne a voz de Hadis Najafi, uma verdadeira heroína. Porque ela não ficou em silêncio, mas amarrou o cabelo para ir até o meio da praça do protesto”.
Já há uma semana as ruas iranianas estão sendo sacudidas pela revolta após o assassinato por agentes das "patrulhas da morte" que prenderam e espancaram até a morte Mahsa Amini, culpada de não usar o véu adequadamente. Uma mecha de cabelo, esse foi o preço de sua vida. Para os homens do regime, uma mecha de cabelo vale mais do que uma vida inteira, uma cabeça descoberta mais do que o corpo de uma mulher.
O protesto se espalhou da região curda de onde Mahsa era nativa para todas as províncias. Uma revolução das mulheres que contagiou o país. Homens e mulheres se juntaram à revolta, que de acordo com os especialistas é o maior desafio ao regime desde a época da chamada "revolução verde" de 2009, quando os iranianos saíram às ruas aos milhões contra as fraudes eleitorais. Mas desta vez a revolta é transversal, atinge a todos, porque é uma revolta pela liberdade e pela defesa dos direitos humanos. Toda família sabe que a próxima vítima poderia ser sua própria filha. Ou o próprio filho, porque os homens também estão morrendo, mortos pela polícia.
Segundo especialistas em geopolítica do Oriente Médio, as manifestações que começaram com a morte de Mahsa Amini representam a maior ameaça ao regime em 13 anos. Segundo Sima Sabet, jornalista iraniana e apresentadora do Iran International, “a principal diferença entre o protesto atual e a Onda Verde em 2009 é que agora as pessoas estão reagindo; não têm medo do regime brutal”.
O número de mortos é incerto, mas seriam mais de 50. Firuzeh Mahmoudi, diretor-executivo da ONG United for Iran explicou ao The Guardian que se em 2009 o protesto era apenas nas grandes cidades, agora também atingiu as aldeias e cidades menores, uma situação sem precedentes pela audácia e pela unidade: “O que acontece é sem precedentes. Nunca vimos mulheres tirarem o hijab em massa assim. Incendiar centros policiais, correr atrás de seus carros, queimar fotos do líder supremo Ali Khamenei”.
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Garotas massacradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU