Bélgica: oração para os casais homossexuais

Foto: Wikimedia Commons/FlickrCC/Ludovic Bertron

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26 Setembro 2022

 

Proximidade pastoral com as pessoas homossexuais. Por uma Igreja hospitaleira que não exclua ninguém: é o título de um documento dos bispos de Flandres (Bélgica) que traz a data de 20 de setembro. Há dois elementos importantes: a instituição de um serviço pastoral para as pessoas homossexuais dentro do serviço interdiocesana de pastoral familiar e o esboço de um momento de oração para apoiar o compromisso de amor e de fidelidade de um casal homossexual.

 

A reportagem é de Gabriele Passerini, publicada por Settimana News, 22-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini

 

O serviço pastoral central (uma pessoa em tempo integral, Willy Bombeek) é o sinal para uma rede que deveria ter representantes nas dioceses. Desta forma, uma pastoral que atua há algum tempo em todas as dioceses belgas, inclusive as francófonas, chega à institucionalização.

 

O esboço de oração inclui: uma saudação de acolhimento do responsável litúrgico, uma oração introdutória, leituras da Sagrada Escritura, o compromisso do casal e a oração comum.

 

Um serviço pastoral central

 

O documento recorda o clima de respeito, reconhecimento e integração que acompanha a ação pastoral em relação às pessoas homossexuais. A referência é à exortação pós-sinodal Amoris laetitia, onde se afirma: " Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar ‘qualquer sinal de discriminação injusta’ e particularmente todas a forma de agressão e violência" (n. 250).

 

Trata-se do percurso para a aceitação das pessoas de orientação homossexual. Entre elas, algumas permanecem celibatárias, enquanto outras “preferem viver em casal, de forma duradoura e fiel com um parceiro”. Ressalta-se que esta relação, “embora não seja um matrimônio religioso, pode ser fonte de paz e de serenidade compartilhadas”.

 

A atenção aos homossexuais estende-se às suas famílias, que também são objeto de uma orientação pastoral respeitosa e cordial. O texto registra o "crescente reconhecimento social" do fenômeno, mas também a possível "violência homofóbica que pode levantar sua cabeça ameaçadora".

 

Registra-se o sofrimento de pessoas e casais homossexuais quando se sentem excluídos das comunidades, enquanto muitas vezes se abrem entre eles caminhos de discernimento espiritual e crescimento interior. Como destaca a Amoris Laetitia: a consciência crente “pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que essa é a doação que o próprio Deus pode no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objetivo” (n. 303).

 

Ajudar cada um a encontrar o seu lugar na comunidade responde ao imperativo da misericórdia de Deus: todos somos objetos de misericórdia e ninguém deveria ser condenado para sempre (AL 297).

 

Oração, não matrimônio

 

Uma resposta pode ser dada à crescente demanda por oração sobre os casais homossexuais. O texto oferece um breve esboço e também uma hipótese de oração para os interessados: “Deus de amor e fidelidade, hoje estamos diante de ti, rodeados de familiares e amigos. Agradecemos por permitir que nos reencontrássemos. Queremos ser um para o outro em todas as circunstâncias da vida”. A comunidade é chamada, por sua vez, a uma oração de intercessão: “Acompanhamos os nossos amigos com as nossas orações. Conheça o seu coração e o caminho que trilham juntos. Torne forte e fiel o seu compromisso mútuo”. A oração do Pai Nosso poderia encerrar o rito.

 

Há uma vistosa atenção em manter a diversidade - não apenas do rito, mas também das palavras individuais – em relação ao sacramento do matrimônio. Não há formalmente uma bênção sobre o casal, não há troca de consenso dos parceiros, não há sinais como anéis ou coroas. Mas o fato permanece: é o primeiro esboço de uma celebração comunitária que coloca o casal homossexual no centro. Embora não haja uma bênção formal, há um contexto de oração intercessória muito próximo a ela.

 

Em todas as reações imediatas das mídias, destaca-se o distanciamento do Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé publicado em 15 de maio de 2021. Nele, um firme não é motivado contra qualquer forma de bênção.

 

Argumentando sobre a proximidade entre bênçãos, sacramentais e sacramentos, é considerada ilícita qualquer bênção sobre uniões mesmo estáveis que impliquem uma práxis sexual fora do casamento, como é o caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo. E se conclui: "A Igreja não dispõe nem pode dispor do poder de abençoar as uniões de pessoas do mesmo sexo no sentido acima entendido".

 

Pode ser que a hipótese pastoral dos bispos flamengos não satisfaça os critérios curiais, mas é certo que o documento de 2021 não satisfez plenamente o Papa Francisco que, poucos meses depois, encontrou uma sede episcopal (Reggio Emilia) para seu redator, afastando-o da Congregação.

 

 

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