04 Mai 2021
Um congresso com uma grande importância no caminho missionário de nossa Igreja. Assim definia Dom Walmor Oliveira de Azevedo, nas suas palavras de abertura, o I Congresso Brasileiro de Teologia, que acontece virtualmente de 3 a 6 de maio de 2021, organizado pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, o Instituto Santo Tomás de Aquino - ISTA, a Arquidiocese de Belo Horizonte e o Centro Loyola de Fé e Cultura. O tema do Congresso é Discernir a pastoral em tempos de crise: realidade, desafios, tarefas.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, ressaltava “a esperançosa alegria de um Congresso como esse, pensando o tempo que nós estamos vivendo, um tempo de muitas obscuridades, de muitos fundamentalismos, de muitas coisas na contramão dentro da nossa própria Igreja, para não falar no coração da sociedade”. O arcebispo de Belo Horizonte, disse que “precisamos de lúcidas reflexões, assertivas indicações, configurando respostas para o caminho missionário da nossa Igreja”.
Ele destacava “a importância do cristianismo para um mundo que precisa se recompor e para uma sociedade brasileira que precisa de uma reconstrução diante de tantos desmantelamentos no mundo da política, da economia, com a gravíssima crise sanitária da Covid-19 e outros tantos descompassos”. Diante dessa realidade, o Congresso deveria ser uma oportunidade de retomada de entendimentos clarividentes e de sermos no coração do mundo uma Igreja mais missionária em diálogo com a sociedade pluralista, insistia Dom Walmor. O presidente da CNBB vê o Congresso como sinal de grande esperança para a Igreja do Brasil, pedindo que “os nossos corações se abram ao diálogo, que é tarefa da teologia pastoral”.
O reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Mol, fazia um chamado a mergulhar mais profundo na teologia que ilumina a pastoral. “Toda ação da Igreja precisa ser uma ação pastoral, ou seja, ao modo do Bom Pastor, Jesus”, afirmava o bispo auxiliar de Belo Horizonte. Num caminho ida e vinda que fecunda a ação da Igreja no mundo, ele destacava a necessidade de a Teologia ser mais pastoral.
“A pastoral está no coração da Igreja, a pastoral está sempre acontecendo”, segundo o reitor da FAJE. Estamos diante de um “Congresso que nos ajuda a refletir, a pensar e a sonhar”, afirmava o padre Elton Ribeiro, que fazia referência ao discernimento, uma ideia presente no tema do Congresso. Estamos vivendo um tempo de discernimento, que é “sempre um jogo entre a nossa responsabilidade e a vontade de Deus”, segundo o jesuíta.
Num tempo em que as crises não tem faltado, segundo frei João Junior, e que tem atingido a prática pastoral, se faz necessário que “não nos falte o discernimento”. O reitor do ISTA definia o discernimento como “essa arte delicada de encontrar nos entremeios das encruzilhadas da realidade para onde ela nos inspira, para onde ela nos aponta”. Desde a visão de São Francisco, relacionava discernimento, fraternidade e eclesialidade.
“A Teologia é um serviço à Igreja e a Igreja existe para evangelizar”, segundo Agenor Brighenti, o que o leva a afirmar que “a Teologia precisa ser uma Teologia pastoral”. Segundo ele, “o lugar da Teologia não é a academia, o lugar da Teologia são os espaços, os processos eclesiais”, advertindo sobre o risco de “uma Teologia sem o chão eclesial”, que no pontificado de Francisco tem assumido o desafio de ser um chão nas periferias.
Agenor Brighenti abordou sua reflexão desde três questões: Que crise é esta que nós estamos vivendo? Nesse contexto de crise como está a pastoral? Elementos para o tipo de pastoral que precisamos assumir e que possa contribuir com esta crise que estamos vivendo.
A crise atual marcada pela pandemia, se insere numa crise estrutural anterior, segundo aquele que é considerado um dos mais destacados pastoralistas do Brasil. Ele refletia sobre alguns elementos presentes nessa crise, como é o negacionismo, a presença do capital na crise, a volta da fome, o alto índice de desemprego, a crise política, a vacina, a necropolítica, a instrumentalização da religião, o projeto civilizacional moderno, a coisificação do ser humano e a depredação da natureza, a crise das religiões e das democracias representativas.
Diante da crise existem diferentes reações, segundo Brighenti, uma delas o medo, que “não é uma boa reação, porque o medo exagera o perigo, o medo paralisa”, também gera perplexidade, angustia. Mas crise é oportunidade, segundo o teólogo, que abre “para um horizonte maior e melhor”, que “impõe a urgência de arriscar e a coragem de apostar no novo”, desperta criatividade e desafia a sonhar. Isso é algo que nasce das distintas visões da realidade, frente a um contexto de crise há quem olha para ela com uma visão retrospectiva da realidade, procurando prolongar o passado no presente, buscando segurança, mas que provoca fanatismo que gera saídas violentas.
Também tem que olha com uma visão catastrófica da realidade, resignados no pragmatismo do cotidiano, se deixando levar pelas sensações, apostando como segurança no sentimentalismo, no fundamentalismo e no tradicionalismo. Por último, aqueles que olham com uma visão prospectiva, olham para o futuro, procurando um futuro melhor. Mesmo com os limites, não podemos buscar voltar ao passado como saída para nosso momento presente, insistia Agenor Brighenti.
“A crise atual está causando um grande impacto sobre a Igreja, sobre a pastoral”, segundo o teólogo. Não podemos esquecer que após o Vaticano II, a Igreja é “uma Igreja que peregrina com a humanidade”. As diferentes visões da realidade geram visões pastorais distintas, que se manifesta numa pastoral de conservação, centrada no padre e na paróquia, sacramentalizadora, devocionista, providencialista e milagreira, que recorre a saídas milagristas, a sacramentalização predomina sobre a evangelização, com fiéis apologetas, com guardiões da ortodoxia, da moral católica, da Sagrada Tradição, que acaba criando seu próprio mundo, combatendo os diferentes, uma fé ideologizada.
A postura de quem tem uma visão catastrófica da realidade, é uma pastoral secularista, restrita ao aqui e agora, uma religião do corpo, que busca prosperidade material, saúde física e realização afetiva, uma religião consumista, entre a magia e o esoterismo, com pessoas que buscam autoajuda, com deslocamento do profético para o terapêutico, do ético para o estético, uma religião à la carte, que conta com a contribuição da mídia para a banalização da religião.
Mas também existe quem tem uma visão prospectiva, “aqueles que fizeram do Vaticano II, mas que um ponto de chegada, um ponto de partida”, segundo Brighenti. Hoje são segmentos que minguaram, mesmo que ultimamente houve uma arejada, que se faz presente “nas pequenas comunidades inseridas profeticamente na sociedade, para além do paroquialismo e do universalismo dos movimentos”, assim como “a Igreja da opção pelos pobres, que faz deles sujeitos de uma sociedade inclusiva, e não meros objetos de caridade”, é a Igreja da Campanha da Fraternidade, das Pastorais Sociais, de uma espiritualidade libertadora, sinodal, da pastoral orgânica de conjunto, que procura superar a postura autorreferencial, ecumênica e inter-religiosa, ministerial, para além do binômio clero e leigos.
Agenor Brighenti fazia um chamado a integrar a gratuidade em nossos espaços, em nossas práticas pastorais, a conjugar a utopia do futuro com o presente, objetividade e subjetividade, a assumir o local sem fazer dele uma ilha, conjugar autoridade e consenso.
As perspectivas pastorais para nosso tempo devem nascer de uma segunda recepção do Vaticano II, de Medellín, no caso da América Latina, dar passos adiante. A proposta, surgida do pensamento do Papa Francisco, seria uma pastoral de conversão missionária, com uma perspectiva transformadora, libertadora de nossa fé. Uma Igreja em saída que rompa com uma Igreja autorreferencial e saia para as periferias. “A saída para nossa crise não está no centro”, insistia Brighenti, que vê necessária uma descolonização da pastoral. Finalmente, ele acenava algumas indicações neste momento de crise.
O teólogo destacava que o Sínodo para a Amazônia, onde ele foi perito, “tem sido muito inspirador para a Igreja da América Latina e isso está se encarnando em diversas inovações”, como é a Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, da qual participa o povo de Deus. Agora estamos vivendo a Conferência Eclesial da América Latina e do Caribe, da qual não vão participar só os bispos, que lembra as Assembleias do Povo de Deus vividas no Brasil. Ele desafiava a CNBB a se tornar uma Conferência Eclesial no Brasil.
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“O lugar da Teologia não é a academia, são os espaços, os processos eclesiais”, afirma Agenor Brighenti no I Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU