Na última quinta-feira, 06 de abril, de forma didática, dialogada e contextualizada, o teólogo Agenor Brighenti (PUCPR) abordou os principais pontos da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, no tocante à clara opção preferencial da Igreja pelos pobres, mais que enfatizada pelo Papa Francisco, verdadeiramente colocada como central para a vivência do Evangelho. Sua exposição, que teve como tema Evangelii Gaudium: atenção ao clamor dos pobres, integra o ciclo de estudos e reflexões O Magistério Social do Papa Francisco, promovido pelo CEPAT, em parceria com a CVX, Regional Sul, e o apoio do IHU, em Curitiba.
Do desejo manifestado pelo Papa de “uma Igreja pobre, para os pobres” à proposta de uma Igreja em saída, Francisco coloca em evidência as atuais periferias geográficas e existenciais, que requer da Igreja uma atitude de misericórdia e compaixão. O centro da Igreja é a periferia. É estando atenta a ela que a Igreja pode se manter fiel à sua missão evangelizadora, muito bem expressa na Evangelii Gaudium (E. G.), um dos documentos eclesiais mais avançados após o Concílio Vaticano II, que também reúne a riqueza do conteúdo que saiu da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida, no ano de 2007.
Um dos momentos da conversa de Agenor Brighenti com o participantes (Foto: Ana Paula Abranoski)
Primeiramente,
Agenor Brighenti destacou a forma como o
Papa condena veementemente as condições precárias em que vive a maioria da população mundial, no interior de uma profunda dinâmica de desigualdade social. Escreve o
Papa: “Assim como o mandamento ‘não matar’ põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata” (
E. G. 53). A dura constatação do
Papa é que já “não se trata simplesmente do fenômeno da exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive [...]” (
E. G. 53). Nessa perspectiva, muitos pobres passam a ser considerados simples resíduos, ‘sobras’, que facilmente podem ser descartados.
Além disso, após constatar que “enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarraigar a violência”, o
Papa sinaliza: “Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade” (
E. G. 59).
Frente a esta realidade,
Brighenti destacou o que o Papa
Francisco considera as tentações dos tempos atuais:
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O desânimo egoísta: “[...] as pessoas sentem imperiosa necessidade de preservar os seus espaços de autonomia, como se uma tarefa de evangelização fosse um veneno perigoso e não uma resposta alegre ao amor de
Deus que nos convoca para a missão e nos torna completos e fecundos” (
E. G 81);
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A busca de resultados imediatos: “A ânsia atual de chegar a resultados imediatos faz com que os agentes pastorais não tolerem facilmente tudo o que signifique alguma contradição, um aparente fracasso, uma crítica, uma cruz” (
E. G. 82);
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O pessimismo estéril: “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota, que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre” (
E. G. 85).
Diante deste quadro, é necessário não se deixar vencer pelas tentações do atual modelo de sociedade capitalista, resgatando a alegria do
Evangelho. Nesse sentido,
Francisco enfatiza que a salvação tem uma dimensão social. Também aponta que “a partir do coração do
Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora” (
E. G. 178). Não cabe ao crente separar o
Evangelho da vida concreta dos homens e mulheres: “o pensamento social da Igreja é essencialmente positivo e construtivo, orienta uma ação transformadora e, neste sentido, não deixa de ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de
Jesus Cristo” (
E. G. 183).
Nessa perspectiva,
Brighenti recorda, mais uma vez, a centralidade que a
Evangelii Gaudium confere aos pobres na vida eclesial. Como bem disse o
Papa: “Para a
Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica”. E também que, “como ensinava
Bento XVI, esta opção ‘está implícita na fé cristológica naquele
Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”.
Francisco desafia os cristãos a se deixarem evangelizar pelos pobres, a aprender com eles, “a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da
Igreja” (
E. G. 198).
Tendo isto presente,
Brighenti apresentou algumas linhas que possibilitam uma resposta cristã ao desafio da pobreza e da exclusão:
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Dizer não a uma economia que mata, que em sua raiz é desigual e exclui as pessoas: “Enquanto os ganhos de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira” (
E. G. 56);
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Dizer não à idolatria do dinheiro, que nega a primazia do ser humano: “O dinheiro deve servir, e não governar! O
Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de
Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto vocês a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano” (
E. G. 58);
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Eliminar as causas da exclusão: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais” (
E. G. 202).
A síntese apresentada pelo teólogo
Agenor Brighenti ofereceu aos participantes um ótimo panorama da preocupação do Papa
Francisco com as nefastas consequências do atual modelo de sociedade capitalista. Ao mesmo tempo, proporcionou aos participantes uma sólida fundamentação ao significado do desejo do
Papa de “uma
Igreja pobre, para os pobres”, em consonância com a rica tradição do ensino social da
Igreja.