20 Junho 2022
Mais de uma vez e meia a população da Itália. Doze vezes a população da cidade de Nova York e quase cinco vezes a de Pequim. De acordo com os dados de maio de 2022, seriam mais de 100 milhões os seres humanos em fuga no mundo “devido a perseguições, guerras e violações dos direitos humanos”.
A reportagem é de Agnese Palmucci, publicada por Avvenire, 16-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem evidenciou o alerta em relação um fenômeno que cresceu exponencialmente na última década foi o segundo relatório anual da Acnur, “Global Trends”, relativo em particular a 2021, que o Avvenire leu de antemão. Números que não conseguem contar as histórias, as malas de quem foge, cheias de dramas e esperanças.
No fim do ano passado, a maré humana forçada a fugir do próprio país era de cerca de 89,3 milhões. Destes, 27 milhões eram refugiados, 53 milhões eram deslocados internos, 4,6 milhões eram requerentes de asilo e 4,4 milhões eram venezuelanos que fugiram para o exterior. Um total de 6 milhões de pessoas fugiram do país governado por Nicolás Maduro, cerca de um quinto da nação. Quanto aos pedidos de asilo, que aumentaram 11%, os Estados Unidos são o país que recebeu o número mais alto de solicitações (188.900).
Em um ano, escreve a Agência da ONU para os Refugiados, houve “um aumento de 8%”, que mais do que duplicou em relação a 2011, em relação aos números daqueles que fugiram. Quem impôs uma aceleração forçada da tendência, comparável apenas aos êxodos causados pela Segunda Guerra Mundial, foram a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado e, antes ainda, a exacerbação de outros conflitos e emergências globais. Basta dizer que, segundo o Banco Mundial, 23 países foram palco de guerras em 2021. Além dos conflitos armados, entre as causas da emigração forçada estão “escassez de alimentos, inflação e emergência climática”.
Para cada três pessoas que deixaram suas casas em 2021 por estarem em perigo de vida, pelo menos duas fugiram da guerra na Síria (6,8 milhões), da pobreza da Venezuela (4,6 milhões), da violência dos talibãs no Afeganistão (2,4 milhões) ou dos conflitos e perseguições no Sudão do Sul (2,4 milhões) e Mianmar (1,2 milhão). Enquanto os menores representam 30% da população mundial, 42% da população global que foge é composta por crianças e jovens de até 17 anos.
Entre os refugiados em escala global, 3,8 milhões são acolhidos na Turquia de Recep Tayyip Erdogan, que mais de uma vez fez disso uma arma política contra a Europa. Enquanto isso, o Líbano é o país que acolheu o maior número de refugiados per capita, um para cada oito cidadãos libaneses. Cerca de 72% do total, por sua vez, incluindo os refugiados venezuelanos, são acolhidos em países vizinhos com recursos escassos.
Portanto, o aumento constante das fugas supera as soluções à disposição para os migrantes. A partir dos dados do relatório, porém, em um cenário extremamente sombrio, também surgem alguns vislumbres de esperança. “Enquanto registramos consternação com a sucessão de novos êxodos forçados – declarou o alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi – devemos reconhecer os exemplos daqueles países que trabalham juntos para identificar oportunidades em favor de quem foge”.
O número de refugiados e deslocados internos que regressaram para casa em 2021, de fato, aumentou, voltando aos níveis pré-pandemia, “com um aumento de 71% nos casos de repatriamento voluntário”. Quase seis milhões de pessoas “voltaram aos seus países de origem em 2021”, e 57.500 refugiados foram reassentados, dois terços a mais do que em 2020.
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Refugiados, uma maré humana em fuga: 100 milhões pedem proteção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU