“Negociações envolvendo a China e a Rússia são necessárias ou a guerra irá se alastrar”. Entrevista com Moisés Naím

Foto: Centro do coordenador de ajuda/Unicef

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17 Junho 2025

Para o analista, estamos “diante de uma crise grave e é necessário envolver toda a comunidade internacional para pôr fim a este conflito”.

A conversa política em Washington hoje gira em torno do que preencheria o vazio no Irã, caso o regime caísse, como aconteceu com o Iraque de Saddam. Trump está tentado, mas o envolvimento dos EUA no conflito iria contra todas as posições que ele assumiu até agora e as expectativas de seus eleitores. Além disso, existe o risco de a guerra se expandir além de seu controle, portanto, Rússia e China precisam se envolver nas negociações. A análise de Moisés Naím, membro ilustre do Carnegie Endowment for International Peace e conselheiro de vários presidentes dos EUA, vai além da crise iraniana, para exorcizar o espectro de uma Terceira Guerra Mundial à porta.

A entrevista é de Paolo Mastrolilli, publicada por La Repubblica, 17-06-2025.

Eis a entrevista.

O que está acontecendo com o Irã e por que agora?

Segundo os críticos de Netanyahu, o primeiro-ministro está atacando para impedir que a justiça siga seu curso nas acusações de corrupção. Seus apoiadores respondem que chegou a hora de lidar com o Irã, porque o regime e seus aliados, como o Hezbollah e o Hamas, estão muito enfraquecidos, e Teerã caminhava sem restrições em direção à bomba atômica.

Netanyahu disse que precisa neutralizar uma ameaça existencial a Israel: ele estava se referindo à destruição do programa nuclear ou à mudança de regime?

Ele começou com o primeiro alvo. Não há dúvida de que quem quer que esteja liderando Israel deve se preocupar com os mulás iranianos com armas nucleares. O grande medo era uma reação massiva de Teerã, o que até agora não aconteceu.

O que Trump deveria fazer?

Parem a guerra. Não apenas no Irã, mas também em Gaza e na Ucrânia.

Mas ele se recusa a assinar a declaração do G7.

Precisamos de uma pressão unificada da comunidade internacional. A esperança é que o primeiro-ministro canadense, Carney, que mantém excelentes relações com todos, consiga mediar.

A perspectiva de retomar as negociações é realista?

É necessária.

Israel pretende envolver os EUA no conflito?

É o que muitos querem, até mesmo em Washington. Mas não se pode negociar visando a destruição do interlocutor.

Trump poderia ser tentado pela mudança de regime?

A conversa em Washington voltou ao vácuo criado quando um regime cai, como no Iraque com Saddam, e o que o preenche. Não se sabe ao certo se o poder que poderia substituir a teocracia iraniana seria melhor e mais conveniente para os EUA.

O risco seria uma repetição do caos iraquiano?

Essas operações sempre têm uma dinâmica própria, com surpresas imprevisíveis. Não podemos esquecer que o Irã é um grande produtor de petróleo com uma localização geopolítica importante. Uma mudança de regime teria repercussões globais significativas.

Mas seria desejável?

Só descobriremos à medida que avançamos.

Que resposta você espera do Irã?

Até agora, tem sido mais fraco do que se temia. Acredito que os israelenses veem uma oportunidade de intensificar a ofensiva, a menos que líderes mundiais pressionem.

Trump disse que Putin poderia mediar.

É uma crise global, precisamos envolver todos.

A Rússia poderia hospedar urânio enriquecido iraniano?

É um detalhe técnico importante que vem sendo discutido há algum tempo.

A China compra petróleo do Irã e o ajuda com sanções.

Exatamente, então é necessário envolvê-la. É um esquema que deve incluir todos os protagonistas.

Os EUA deveriam dar bombas a Israel para destruir as instalações subterrâneas de Fordow?

Usá-los diretamente significaria entrar em guerra com o Irã.

Mas Trump insinuou um possível envolvimento dos EUA.

Ele repete em todas as oportunidades que é o presidente que acaba com as guerras, não que as inicia. Ele não quer enviar soldados e tecnologia americanos para lutar pelo mundo todo.

É isso que sua base eleitoral também quer?

Isso mesmo, e ao travar uma guerra ele a decepcionaria. E essa base está se deteriorando, porque os hispânicos estão se afastando dele por causa dos ataques a imigrantes.

Isso enfraquece o governo?

Todos os olhos estão voltados para as eleições de meio de mandato de 2026. Elas serão o teste para o governo e um conflito no Oriente Médio não ajudaria Trump.

Se os EUA intervirem, há risco de uma Terceira Guerra Mundial?

A crise no Irã é grave, mas não o suficiente para causá-la. Para que ela exploda, China e Rússia precisam intervir. Portanto, para evitá-la, é necessário envolvê-las no concerto internacional.

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