"A ascensão de Cristo atrai tudo o que pode elevar a sociedade a um novo patamar espiritual. Não a frenética construção de "torres de Babel" com IA ou a supressão ilusória de carências com novos inventos (até "bebês reborn"!), mas superações coletivas e fraterna vontade de ir adiante: "enquanto os abençoava, afastou-se deles e era elevado ao céu (...) Eles ficaram ajoelhados diante Dele, e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria!" (51, 52)", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar o relato de Lucas 24, 46-53 proclamado neste domingo da Ascensão do Senhor.
Eis o comentário.
Hoje é o Domingo da Ascensão do Senhor, relatado em Lucas (24, 46-53).
Desde que nascemos, temos ânsia de ascender, de subir. É o bebê se agarrando nas grades do berço, é a criança deixando de engatinhar, é o jovem cheio de energia para saltar obstáculos, é o adulto com metas a superar, o idoso que, mesmo adoentado, não aceita ficar preso à cama e insiste em caminhar...
Somos vocacionados à ascensão! "Não fomos escolhidos por Deus para coisas pequenas: ide sempre mais além" - exorta papa Francisco, sempre conosco.
O desafio que a fé nos propõe é avançar, não nos rendermos ao que nos ata e imobiliza. Pensar grande, voar alto. "Per ardua ad astra".
Jesus Ressuscitado venceu a alienação da morte e conviveu com os seus, sempre distribuindo bençãos e desejando a paz: "fomos revestidos da força do Alto!" (49)
Só quem vive plena e libertariamente sua dimensão carnal e terrena, sem apegos, constrói plataforma sólida para subir aos céus!
Não é "descendência" vertical, de cima pra baixo. É ascensão da base para o alto, partindo do chão da vivência compartilhada. Ascensão construída, em meio a tropeços que nunca derrubam de vez.
"Tudo que sobe converge", constatou o teólogo e paleontólogo jesuíta Teilhard de Chardin (1881-1955). É na elevação, no plano ascendente, que todos os desejos, anseios e conquistas de cada ser humano e de toda a Humanidade se encontrarão. A ascensão de Jesus é a possibilidade da ascensão de todos nós.
Nada a ver com o "subir na vida" da tal teologia da prosperidade, tantas vezes pisando na cabeça dos outros. "Mas o que eu soube a seu respeito/me entristeceu / ouvi dizer que pra subir / você desceu" - lamentou Mauro Duarte (1930-1989) no seu lindo samba "Lama". Esse tipo de ascensão social individual e concorrencial inebria e... apequena.
A ascensão de Cristo atrai tudo o que pode elevar a sociedade a um novo patamar espiritual. Não a frenética construção de "torres de Babel" com IA ou a supressão ilusória de carências com novos inventos (até "bebês reborn"!), mas superações coletivas e fraterna vontade de ir adiante: "enquanto os abençoava, afastou-se deles e era elevado ao céu (...) Eles ficaram ajoelhados diante Dele, e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria!" (51, 52).
Eleve-se,
descarregue-se, vá com Ele! Jamais "fique no seu lugar", como querem os opressores.
Deixe-se atrair, na alegria (ascenda, mas volte à cidade!).
Aspire o que é elevado, não o rasteiro ou mesquinho.
Fique leve para elevar-se!
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