24 Mai 2024
Que os direitos da população de rua sejam respeitados é uma preocupação da Pastoral do Povo de Rua da arquidiocese de Manaus, segundo dom Hudson Ribeiro, bispo auxiliar de Manaus, que denunciou as ações de retirada de pertences, destruição de lugares de dormida, levar documentos, fatos acontecidos nesta quinta-feira, 23 de maio, na Praça dos Remédios, Centro de Manaus, insistindo em que a Igreja de Manaus “não pode permitir que isso volte a acontecer”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Segundo o bispo auxiliar, em entrevista à Rádio Rio Mar, “são ações constantes, que vêm acontecendo com uma grande quantidade de policiais”, uma ação semelhante aconteceu em 14 de maio, denunciando o modo como a operação da Prefeitura de Manaus foi feita, que não respeita as políticas públicas voltadas para a população de rua. É a quarta ação desse gênero, segundo o bispo, “existe uma insistência em continuar com esse tipo de ação. Hoje foi mais uma delas”. As pessoas que vivem em situação de rua afirmaram que essas ações conduzidas por secretarias municipais, com o suporte da Polícia Militar e da Guarda Municipal, estão se tornando constantes no Centro de Manaus. Essas ações têm levado algumas pessoas que vivem em situação de rua, assustados e com receio, a procurar outros lugares, sobretudo para dormir.
Uma pessoa que vive em situação de rua, que já está nessa situação há 13 anos, disse que os policiais chegaram derrubando tudo, questionando a presença de tantos policiais na operação, e perguntando por que não chegaram falando normal. Segundo essa mesma pessoa, os policiais levaram até os pratos, “e a gente come aí”, disse com pesar. Outro homem em situação de rua, falando da operação realizada em 14 de maio, disse que “as pessoas mais atingidas foram os moradores da até então conhecida por eles como Cracolândia, que é onde os usuários utilizam as drogas mais pesadas e que apresentam maior risco a segurança”. Outros pequenos vendedores ambulantes no entorno da feira da Manaus Moderna denunciaram que seus pertences de vendas, carrinhos e produtos, foram apreendidos.
Dom Hudson Ribeiro insiste em “não permitir com que direitos humanos sejam violados, as pessoas não podem ser retiradas se elas não tiverem um lugar onde serem abrigadas, se não tiverem condições de poder estar ali, que seus pertences não podem ser retirados, e que nas praças e lugares públicos, as pessoas têm direito de ir e vir, porque a Constituição permite isso, e elas não podem ser cerceadas desses direitos que são direitos básicos”, afirmando que “o tempo do higienismo social já passou”. Segundo o bispo auxiliar, “são mulheres e homens que tentam sobreviver com o pouco que adquirem para vender e têm seus meios de sustento confiscados”.
A Pastoral do Povo de Rua se fez presente no local e denunciou os fatos acontecidos, “para evitar que situações piores possam vir a acontecer”, segundo o bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus. Dizendo respeitar as ações da Prefeitura de Manaus com relação ao reordenamento do Centro de Manaus, ele denunciou que se faz necessário que o poder público entenda que nesses espaços existem pessoas e que “as pessoas são mais importantes do que monumentos e que é preciso que as políticas públicas voltadas para a população de rua, de fato, sejam pactuadas entre as secretarias do campo, em vista da ação, e não sejam ações separadas, onde um não sabe o que o outro faz, onde a sociedade civil organizada também não é comunicada para poder acompanhar, e as coisas acabam acontecendo na calada da noite”.
“A população de rua anda muito assustada, se sente ameaçada, e a Igreja precisa estar do lado daqueles que realmente precisam que alguém possa ajudar a falar com eles e por eles”, sublinhou o bispo auxiliar. Dom Hudson denunciou a falta de diálogo entre as próprias secretarias municipais, “para pensar e evitar com que esse tipo de situação possa vir a ocorrer”, questionando quem tem ordenado essas ações. Ele perguntou onde está o Ministério Público diante dessa situação, para exigir que os direitos das pessoas sejam respeitados e efetivados.
Francilene Carneiro, assistente social da Comunidade Nova e Eterna Aliança, destaca o trabalho de escuta que é realizado com a população de rua, buscando assim conhecer as demandas dessas pessoas. Ela insiste na necessidade de um plano de ação por parte da Prefeitura, “porque não adianta chegar na praça e destruir uma casa, porque por mais que seja um papelão, mas é a moradia dele”. Ao mesmo tempo questionou que o direito de ir e vir não é garantido para todas as pessoas, perguntando para onde levar as pessoas em situação de rua. Os organismos que acompanham a população de rua em Manaus pedem acompanhar as reuniões em que a Prefeitura de Manaus decide os passos a serem dados com essa população.
A Arquidiocese de Manaus através da Pastoral do Povo de Rua, segundo Josilene Lustosa, assistente social da Pastoral, oferece diariamente café da manhã, serviço se banho, acolhida assistencial e encaminhamentos/acompanhamentos a outros órgãos em vista de resgate e promoção da dignidade deles. Ela denunciou a situação dos abrigos da Prefeitura de Manaus.
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“O tempo do higienismo social já passou”, denuncia Dom Hudson Ribeiro após ação da Prefeitura de Manaus contra a população de rua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU