28 Março 2024
O terrível massacre no Crocus City Hall, de Moscou, fez reaparecer nas agendas políticas e nas percepções de bilhões de indivíduos, um pesadelo que se acreditava ter sido, se não removido, pelo menos posto de lado: a penetração do ISIS e dos seus inúmeros grupos afiliados em vários cantos do mundo.
A reportagem é de Luca Attanasio, publicada por Domani, 26-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O projeto de estabelecimento de um Califado na região do Iraque e da Síria perdeu consistência e viabilidade ao longo dos anos e nessas áreas a presença e a influência dos jihadistas foram lentamente reduzidas. Infelizmente, porém, o fenômeno não coincidiu com um desaparecimento progressivo, mas com uma tentativa de capilarização em outras áreas. O Khorasan, de onde supostamente vieram os responsáveis pelo atentado de Moscou há poucos dias, pertencentes ao ISIS-K, é certamente uma delas.
A África é o continente onde o ISIS está fazendo mais prosélitos e atuando uma gradual e implacável penetração nos últimos anos.
Existem várias confirmações sobre o tema, uma das mais respeitáveis vem do think tank do Washington Institute for Near East Policy. Há exatamente um ano, lançou “The Islamic State Select Worldwide Activity Map”, um estudo de mapeamento e perfil das atividades terroristas de grupo extremista. E justamente alguns dias antes do atentado de Moscou apresentou os primeiros resultados.
Depois de ressaltar como as principais “províncias” do ISIS no Iraque e na Síria estavam agora num estado de semiabandono, acrescentou-se profeticamente que o grupo conseguiu se diversificar graças em parte à “província de Khorasan no Afeganistão (conhecida como ISIS-K) que lidera as operações externas” e, por outro, a várias outras províncias que “estabelecem o controle territorial na África”. O quadro, segundo o think tank, seria preocupante, mesmo considerando o contexto de “crescentes pedido de dissolução da coalizão global encarregada de combater o ISIS” .
De março de 2023 até agora, o ISIS assumiu a responsabilidade por 1.121 ataques, a maioria dos quais foram reivindicados pela Província da África Ocidental (Iswap, sediada principalmente na Nigéria e no sudeste do Níger, um grupo dissidente do Boko Haram com o qual está atualmente em forte conflito nas áreas do Lago Chade), seguida pelas províncias do ISIS na Síria, no Iraque, África central (com uma célula, a AdF, particularmente ativa na República Democrática do Congo) e Moçambique.
Conforme relatado por uma pesquisa do Centro Africano de Estudos Estratégicos atualizado em janeiro passado, nos últimos meses houve um aumento de ataques na África cujo corolário óbvio é o crescimento do número de mortos e feridos.
As mortes ligadas à violência militante islâmica aumentaram 20% no último ano (de 19.412 em 2022 para 23.322 em 2023), um nível recorde nunca alcançado antes. 83% das vítimas viviam no Sahel e na Somália, as duas áreas que alcançaram um aumento anual de 43% no número de mortes.
O ritmo é impressionante: “Só no mês de janeiro no Sahel houve 129 reivindicações de parte da Al Qaeda e do Estado Islâmico, algo completamente inimaginável apenas alguns meses atrás", comenta o analista Pieter Van Ostaeyen, que estuda o fenômeno há algum tempo.
As reivindicações do ISIS-Moçambique diminuíram ligeiramente devido a dissídios internos à liderança, mas, justamente no fim de 2023, a província voltou à ofensiva. O Iswap também viu um ligeiro declínio nas reivindicações, mas isso poderia ser atribuível, por um lado, à feroz guerra interna contra o Boko Haram e, por outro, ao fato da célula do Mali ter subido ao status de província, “tirando” ao Swap a paternidade de um certo número de ataques.
Outra tendência preocupante é o aumento do controle territorial do ISIS após anos de inatividade graças também à contribuição dos foreign fighters (combatentes estrangeiros). Tais conquistas de posição se verificaram em áreas da África onde a organização aparece hoje mais forte no terreno, especialmente em partes do Mali, Moçambique e Somália.
Nessas áreas, o aspecto político-militar combina-se com o econômico: trata-se, de fato, de áreas muito ricas em matérias-primas, centros-chave da indústria extrativa. A mobilização cada vez maior de combatentes estrangeiros vindos de todos os lugares sugere uma nova estratégia para controlar o território.
O Washington Institute cita alguns exemplos significativos a esse respeito. “Seis dos casos legais do ISIS em Marrocos e Espanha no ano passado – cita o think tank – envolveram redes que recrutaram combatentes para o Mali.
A Suécia estaria supostamente se tornando um centro de recrutamento para os combatentes estrangeiros que se dirigem para a Somália. As autoridades somalis prenderam vários marroquinos e sírios afiliados ao ISIS.
As autoridades filipinas, no entanto, prenderam suspeitos belgas, egípcios e indonésios, enquanto alguns suspeitos indianos teriam tentado viajar para os pontos críticos do ISIS-K no Afeganistão".
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Enquanto estávamos distraídos, o Estado Islâmico pôs as mãos na África - Instituto Humanitas Unisinos - IHU