Por: Jonas | 16 Dezembro 2015
O Estado Islâmico (EI) detonou, nesta semana, uma das últimas pontes que restavam para atravessar o Eufrates, em Ramadi, ao mesmo tempo em que 300 de seus combatentes procuravam se manter no centro da cidade, que foi objeto de ataques das forças governamentais iraquianas, apoiadas por ataques aéreos estadunidenses. Aí, o EI está em retirada, mas na Síria recuperou a aldeia de Mahein, ao sudeste de Homs, do exército sírio, que havia se apoderado dela, alguns dias antes, e havia previsto utilizar o povo para lançar um ataque e retomar a cidade de Palmira.
A reportagem é de Patrick Cockburn, publicada por Página/12, 13-12-2015. A tradução é do Cepat.
A reconquista de uma cidade mundialmente conhecida como Palmira, onde o EI executou publicamente soldados sírios e explodiu templos antigos, seria uma vitória importante para o presidente Bashar al Assad. Não concretizá-la é outro sinal de que várias ofensivas do exército sírio contra o EI e a oposição armada síria, apoiadas pela força aérea russa, tem fracassado até agora, por não obter grandes êxitos que inclinariam o provável resultado da guerra em favor de Assad.
É um vasto campo de batalha que se estende 500 milhas entre o Iraque e a Síria, das redondezas de Bagdá às montanhas com vistas ao Mediterrâneo. Todos os dias há choques, bombardeios e combates, dos quais alguns são bem divulgados, mas outros se dão no semideserto do leste da Síria e só conta com uma menção na imprensa local ou internacional.
Provavelmente, um dos reveses militares mais importantes do EI, nas últimas semanas, foi a perda de Al Houl, uma cidade dominada pelas Unidades de Proteção Popular de curdos sírios (YPG), no dia 13 de novembro. Este ataque ameaça a estrada que une a capital síria do EI em Raqqa com Mossul e os campos petrolíferos do EI, no leste da Síria.
No mesmo dia, as forças curdas no norte do Iraque recapturaram a pequena cidade de Sinjar, que havia sido tomada pelo EI, no ano anterior, quando se matou ou escravizou os habitantes Yazidi. Diferente de Al Houl, este êxito foi transmitido em todo o mundo e se especulou a respeito de um início do desmoronamento do EI. No entanto, logo ficou claro que o EI havia decidido não lutar até o final, em Sinjar, e que havia se retirado após dois dias de combates contra os inimigos muito superiores.
Os esperançados comentaristas ocidentais predisseram que a perda de Sinjar cortaria as linhas de fornecimento do EI entre Raqqa e Mossul, e assim aconteceu durante uma semana ou mais. O preço das verduras se duplicou nos mercados de Mossul, mas logo caiu quando o EI apressadamente abriu uma nova rota ao sul de Sinjar e os caminhões que transportam verduras começaram a trafegar novamente.
A guerra no Iraque e Síria, nos últimos dias quatro anos, está cheia de objetivos militares que foram reivindicados como decisivos, em seu momento, por um lado ou outro. A maioria resultou não ser tal coisa. No verão de 2014, previa-se que o exército sírio estaria perto de acabar com as partes controladas pelos rebeldes de Alepo, mas não fez isto. Em maio deste ano, a oposição armada síria, incluindo o EI, Frente al-Nusra e Ahrar al-Sham, obteve algumas vitórias importantes na província de Idlib, no norte, e em Palmira, no leste. Isto provocou a intervenção aérea russa e uma maior participação por parte do Irã e do Hezbollah no Líbano, que em conjunto teve o efeito de estabilizar o governo de Assad. As linhas de batalha não se movimentaram muito e o maior impacto da ação da Rússia é deixar claro que Assad não irá perder a guerra, se alguma vez se pensou nisso. A Rússia não pode se dar ao luxo de ver um aliado, por quem fez tanto, ser derrotado sem um grave dano a seu prestígio internacional.
Isto não quer dizer que Assad irá vencer. Sem dúvida, o apoio da Rússia, com aeronaves de asa fixa, helicópteros e mísseis, ajudou na moral e na capacidade militar do exército sírio. Mas, não transformou o campo de batalha, porque Al-Nusra e os demais sempre lutarão duro e o exército sírio está escasso de tropas de combate. Mesmo que o avanço da oposição foi detido e em alguns lugares revertido, o exército sírio ainda precisa recuperar a cidade de Idlib, Jisr al-Shughur e Palmira. É um longo caminho para obter uma vitória decisiva, tais como a tomada da metade oriental em poder da oposição de Alepo.
O mesmo ocorre no Iraque, até mesmo se o exército iraquiano e as milícias xiitas obtiverem êxito na recuperação de Ramadi. O EI é relutante em defender posições fixas facilmente identificáveis, nas quais é um alvo fácil para a campanha aérea encabeçada pelos Estados Unidos. Recorda que perdeu 2.200 combatentes ao não poder dominar a cidade síria de Kobane, em uma investida de quatro anos e meio, que foi encerrada em janeiro. O EI provavelmente defenderia Mossul, Faluya e Raqqa até o fim, mas poderia entregar outros lugares que não vale a pena defender em razão das numerosas baixas que sofreria. Sua melhor estratégia é utilizar sua força como uma guerrilha móvel, buscando os pontos frágeis de seus inimigos e lançando múltiplos ataques que peguem o outro lado de surpresa.
Contradizendo, este enfoque militar é um imperativo político que faz com que o EI seja diferente da Al-Qaeda e de outros movimentos jihadistas extremos. A diferença é que é um Estado genuíno, com uma administração, impostos, serviço militar obrigatório e controle total sobre a população civil. Isto significa que terá que lutar por parte de seu território e é nesse ponto que é vulnerável ao poder aéreo massivo – na forma das forças aéreas estadunidenses e russas – que se coloca contra ele. Tornou-se sabedoria convencional dizer que o poder aéreo por si só não vence guerras, mas o contínuo golpe de aviões inimigos limita os tipos de operações que o EI pode realizar com êxito e rompe a infraestrutura de estradas, pontes, água e fornecimento de eletricidade utilizada por soldados e civis.
O coquetel de táticas do EI, como o uso massivo de terroristas suicidas em veículos carregados de explosivos, foi altamente efetivo no ano passado e no primeiro semestre deste ano. Umas 30 dessas bombas foram utilizadas em maio para romper as defesas de Ramadi, incluindo 10 caminhões de lixo blindados, que assustaram os defensores. Porém, os combatentes ao EI agora estão equipados com um arsenal de armas antitanque que pode deter a maior parte destes veículos, antes que possam provocar dano. O EI não pode escandalizar e aterrorizar seus inimigos como fazia antes da queda de Mossul.
A crescente pressão militar de seus muitos inimigos aperta o EI, mas os inimigos permanecem desunidos e hostis entre si, razão pela qual, no atual momento, a estagnação global continua.
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O Estado Islâmico resiste - Instituto Humanitas Unisinos - IHU