02 Dezembro 2023
Para a religiosa, que está na Faixa há 13 anos, a trégua permitiu “dormir um pouco mais, visitar as poucas lojas para comprar alguma roupa para o inverno”. Há necessidade de alimentos, medicamentos, combustível e “de norte a sul não há nenhum lugar seguro”. Das quatro guerras “esta é a mais sangrenta”. Faltam perspectivas de futuro “especialmente para as crianças”. Apelo por um “Natal de paz”.
A reportagem é de Dario Salvi, publicada por Asia News, 30-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Devastação por toda parte, tudo está destruído. Nestes dias de trégua, os cristãos aproveitaram para ver as suas casas: ninguém voltou feliz, porque não sobrou nenhuma. Foram todas reduzidas a escombros ou, de qualquer forma, inutilizáveis". Isso é o que conta ao ÁsiaNews a Irmã Nabila Saleh, religiosa da congregação das Irmãs do Santo Rosário, que, aproveitando a pausa nos bombardeios dos israelenses nos últimos dias, visitou grandes partes da Faixa. “Uma tragédia por todo o lado – conta ao telefone, apesar das dificuldades das comunicações e das frequentes interrupções da linha – não ficou nada em pé e o sofrimento está em todo lado, em cada rua e em cada família”.
A pausa temporária na guerra, prolongada no último minuto por Israel e pelo Hamas por mais 24 horas, apesar da ala radical do governo do Estado judeu (ministros Ben-Gvir e Smotrich) falar de queda do executivo em caso de não retomada do conflito, serviu para visitar partes de Gaza. “Percebe-se um pouco menos de tensão – destaca a religiosa de origem egípcia, que está na Faixa há 13 anos – mas os sinais dos bombardeios e dos 58 dias de guerra são claramente visíveis”. Pelo menos a pausa, prossegue, “permitiu-nos dormir um pouco mais, conseguimos visitar as poucas lojas ainda abertas, quem pôde comprou alguma roupa de inverno, que ninguém tinha, para se proteger do frio que aqui começa a se fazer sentir".
As faltas e necessidades são enormes, explica a Irmã Nabila, especialmente “alimentação, roupas, gás para o aquecimento e para fazer funcionar os geradores de energia”. A religiosa também é diretora da escola das Irmãs do Rosário de Jerusalém, na zona de Tel al-Hawa, a maior da Faixa, com seus 1.250 alunos, a grande maioria dos quais são muçulmanos. “Lá dentro - diz - temos um poço, mas sem luz e eletricidade não conseguimos água para tomar banho, para satisfazer as necessidades mínimas de higiene pessoal”.
Os “escombros” do conflito que eclodiu em 7 de outubro com o ataque do Hamas ao coração de Israel e o massacre de civis, que desencadeou a duríssima resposta da força aérea israelense com bombardeios incessantes e generalizados em Gaza, estão “em cada rua e praça. Há um clima de grande tristeza e medo – conta a Irmã Nabila – apenas parcialmente aliviado pela pausa. Tenta-se pensar no futuro, para além da guerra, mas aqui não há mais casas, escolas, falta trabalho e não se vislumbram perspectivas, especialmente para os jovens, para as crianças”. “A paróquia latina - explica - se esforçou muito para ajudar e a Igreja ofereceu refúgio e abrigo para muitos [são quase 700 os habitantes de Gaza acolhidos pela Sagrada Família], mas de norte a sul não há lugar seguro".
“Até agora não sabemos o que vai acontecer - afirma a religiosa - mas todos continuam com medo da guerra e do que poderá acontecer nos próximos dias. A cada momento se sente o perigo de poder morrer. Já ouvi muitas histórias de mães à procura dos filhos depois dos bombardeios, são histórias terríveis. Como aquele da idosa mulher cristã [baleada por um atirador israelense] cujo corpo foi recuperado por alguns jovens em um momento de trégua, depois enterraram o que sobrou dela, rezando. São histórias difíceis também de contar e há muitas como essa".
E depois as vítimas entre os mais jovens, as crianças, mesmo entre os que frequentavam a escola cristã: “Muitos morreram”, confirma a religiosa, como no caso “do pai que tirou dois filhos dos escombros”. Nesse contexto de sofrimento, morte e desespero, a proximidade do Papa Francisco é “muito importante”, pois liga quase todos os dias para a paróquia ou para as freiras para ter informações, rezar e mostrar a solidariedade da Igreja para com a população cristã e não-cristã da Faixa. “Esses telefonemas – afirma a Irmã Nabila – nos ajudam”. Por fim, com a comunicação interrompida várias vezes, a freira quer lançar um apelo: “Queremos a paz, chega de violência porque a população já sofreu bastante. Passamos por quatro guerras e esta é certamente a mais terrível e sangrenta. Queremos a paz – conclui – porque com a guerra não há nenhum vencedor. Todos esperamos e rezamos pela chegada dos medicamentos porque está em curso também uma tragédia em nível sanitário, para que seja garantida alimentação, ajudas e que possamos festejar e celebrar um Natal de paz, especialmente para as nossas crianças”.
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Irmã Nabila: em Gaza ‘destruição por toda parte’, uma ‘tragédia’ em cada rua e família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU