13 Setembro 2023
Um padre camaronês sugeriu que os delegados africanos da assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade no próximo mês no Vaticano podem ser bastante resistentes a qualquer iniciativa para serem mais inclusivos das pessoas LGBTQ+.
A reportagem é de Robert Shine, (he/him) publicada por New Ways Ministry, 11-09-2023.
Em artigo publicado no The Tablet mês passado, o padre jesuíta Ludovic Lado refletiu criticamente sobre como a Igreja na África tem recebido de forma negativa o processo sinodal, especialmente quando se trata de questões de gênero e sexualidade. Ele escreve:
"Eu não ouço nenhum dos delegados africanos no Sínodo em Roma dizendo que dar espaço para 'todos' na Igreja significa incluir pessoas LGBTQ+. Muitos podem estar abertos à ideia de dar mais espaço às mulheres em postos de autoridade, mas isso é o máximo que podem aceitar em questões de equidade de gênero. Pelo menos por enquanto".
Padre Ludovic, que supervisiona um centro educacional dirigido pela Igreja no Chade e é originalmente de Camarões, começa com estas palavras:
"A partir do que tenho observado, seria difícil dizer que os católicos na África estão particularmente entusiasmados com o próximo Sínodo sobre a Sinodalidade em Roma, em outubro. É negócio como de costume na Igreja e na sociedade – cada um continua imperturbável, governado pelo dogma do patriarcado, como tem sido por séculos".
Autor do livro "The Politics of Gender Reforms in West Africa" (A política das reformas de gênero na África ocidental), o religioso reconhece que, em relação aos direitos e papéis das mulheres na Igreja, "a igualdade de gênero permanece marginal e um tema altamente polêmico" em muitos países africanos.
Politics of Gender Reforms in West Africa, de Ludovic Lado. | Imagem: Divulgação
Segundo ele, as religiões, especialmente o cristianismo e o islamismo, que dominam muitos países, desempenham um papel central na opressão contínua. Em sua análise dos direitos LGBTQ+, afirma:
"Essa resistência à mudança desfruta de um poderoso apoio popular, especialmente quando está ligada à inclusão de pessoas gays na vida da Igreja e aos direitos das pessoas LGBT+. A Igreja tem lugar para todos – Todos, todos, todos! –disse o Papa Francisco para as multidões de jovens em Portugal na semana passada. Mas sua mensagem de que a Igreja deve aproveitar os dons de todos os seus membros e que ela deve estar aberta a todos – incluindo pessoas LGBT+ – não está sendo compreendida na África. A matriz social, especialmente nas comunidades religiosas, continua sendo em grande parte homofóbica".
Ludovic observa que a declaração do Papa no início deste ano de que "a homossexualidade não é um crime" não foi bem recebida pela maioria dos líderes eclesiásticos e políticos africanos. Em vez disso, esses líderes dependem de sentimentos anti-LGBT para manter o controle e consolidar o poder. Ele conclui que tais atitudes prejudicarão a capacidade dos participantes africanos na assembleia do Sínodo de adotar gestos inclusivos:
"Alguns líderes políticos dominaram a arte de surfar nos sentimentos homofóbicos, alegando que grupos de lobby ocidentais estão em uma nova missão de colonização ideológica na África. E eu não me lembro de ter lido alguma vez uma carta pastoral de um bispo africano defendendo as pessoas gays contra preconceito e discriminação. Pelo contrário, a maioria deles cita textos bíblicos e magisteriais para apoiar sua condenação da homossexualidade. O Papa Francisco instou os jovens em Lisboa a entoar 'Todos, todos, todos'.
"Eu não ouço nenhum dos delegados africanos no Sínodo em Roma dizendo que dar espaço para 'todos' na Igreja significa incluir pessoas LGBTQ+. Muitos podem estar abertos à ideia de dar mais espaço às mulheres em posições de autoridade na Igreja, mas isso é o máximo que podem aceitar em questões de equidade de gênero. Pelo menos por enquanto!"
A análise do Pe. Ludovic sobre a assembleia sinodal está de acordo com os eventos de Sínodos anteriores, como nas edições sobre a família em 2014-2015 e sobre os jovens em 2018. Os delegados da Europa Oriental e de partes da África resistiram fortemente a qualquer esforço para melhorar o cuidado pastoral das pessoas LGBTQ+. Esses delegados eram todos bispos na época. Talvez, agora que leigos, incluindo mulheres, religiosos e clérigos, serão delegados, haverá mais vozes africanas como a do Pe. Ludovic traçando um caminho diferente que promove uma igreja para "todos".
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Padre camaronês: delegados do Sínodo Africano provavelmente resistirão a ideias pró-LGBTQ+ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU