12 Junho 2023
Com o avanço da idade, e com ela as dores, o hospital Gemelli corre o risco de se tornar o "Vaticano número dois" para o Papa Francisco, que completará 87 anos em dezembro próximo. Um pouco como foi para o Papa Wojtyla, que foi o primeiro a zombar da sede do hospital romano que lhe era quase familiar, a ponto de chamá-lo coloquialmente de "Vaticano número três", incluindo no cálculo a residência de Castelgandolfo onde ia regularmente passar as férias.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por II Messaggero, 09-06-2023.
Mais uma vez, a internação do pontífice, apesar dos pareceres médicos tranquilizadores, alimenta inevitáveis reflexões sobre o futuro do Vaticano, colocando de lado os rumores que se perseguem desde que ele foi submetido à sua primeira operação de cólon em 2021.
Para mitigar o bordão da renúncia (algo que o interessado continua negando ao dizer que se governa com a cabeça e não com os joelhos), a imprensa vaticana nos últimos dias entrou em campo para reforçar a imagem de um Bergoglio cheio de paixão e energia, confirmando definitivamente a ida a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude, marcada para o início de agosto e a seguinte, no final do mês, à Mongólia.
Uma viagem de quase dez horas, funcional para colocar mais uma peça no seu desenho geoestratégico de uma Igreja cada vez mais inclinada para leste e voltada para a China. Não somente. Nos últimos dias, o Papa também garantiu pessoalmente ao Cardeal Aveline que estará em Marselha em meados de setembro e que não deixará de falar sobre a Europa, o Mediterrâneo e o papel crucial que toda a área geográfica pode desempenhar no enfrentamento da crise global fenômeno da migração climática.
Em suma, apesar das enfermidades que o afligem e que o obrigaram a reduzir seus compromissos, o Papa Francisco não pensa em dar um passo atrás. Ele até concordou em usar uma cadeira de rodas, para parecer frágil e necessitado de ajuda em público. Ele encontra energia nos outros, pensando no que ainda pode fazer. Neste período, por exemplo, sente um compromisso moral muito forte para salvar as crianças da Ucrânia e, por isso, passa horas todos os dias ao telefone com quem pode fortalecer a rede de paz, explorando o seu soft power.
Mas nem mesmo esses sinais evidentes de continuidade bastam para silenciar as correntes internas: a Igreja está cada vez mais abalada e dilacerada por bolsões de insatisfação.
A Alemanha está à beira de um cisma, os Estados Unidos estão divididos entre conservadores e progressistas, e por toda parte se desenvolvem demandas incontroláveis para uma reescrita do magistério sobre questões relacionadas à moral sexual, arrastando atrás de si a grande questão de gênero e, no distância, o espectro do fim do catolicismo europeu.
Afinal, é o rébus do futuro Conclave, onde as questões internacionais se revelarão mais importantes do que os nomes. Apenas nestes dias, os cardeais eleitores nomeados pelo Papa Bergoglio excederam quantitativamente os cardeais criados pelos outros papas. Naturalmente o elemento numérico não reflete uma possível homogeneidade em um futuro conclave, porém não faltam especulações, fazendo crescer os preços de alguns cardeais criados por Bergoglio. O filipino Tagle (que fala chinês perfeito), o francês Aveline, o canadense Czerny (embora seja muito difícil outro jesuíta chegar ao quórum) e os italianos Parolin e Zuppi, este último voltando da impossível missão na Ucrânia de Zelensky em busca de uma paz complicada, mas necessária para todos.
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A força do Papa que resiste (e não pensa em renunciar) e projeta a obra para os próximos meses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU