28 Outubro 2022
Estudo inédito liderado pela Fiocruz Amazônia aponta um excesso de 70% da mortalidade materna no Brasil entre março de 2020 e maio de 2021. Ou seja, 1.353 mulheres poderiam estar vivas se Bolsonaro tivesse controlado a pandemia.
A reportagem é de Cida de Oliveira, publicada por Rede Brasil Atual, 25-10-2022.
Um estudo inédito liderado pela Fiocruz aponta que a má gestão da pandemia de covid-10 pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) fez explodir os números da mortalidade materna. De março de 2020 a maio de 2021, que corresponde à época mais crítica da segunda onda, foram identificadas 3.291 mortes de gestantes e puérperas. Isso equivale a um excesso de 70%, ou seja, 1.353 mortes além do esperado para o período conforme estatísticas epidemiológicas.
“O atraso na inclusão de gestantes e puérperas entre os grupos prioritários, em meados de maio de 2021, a subsequente e equivocada suspensão da aplicação da vacina naquelas sem comorbidades, bem com o ritmo lento da vacinação contra a covid-19 no restante da população em geral pode ter contribuído ao excepcionalmente alto número de óbitos evitáveis”, disse à RBA o epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).
Segundo o trabalho, que teve participação de pesquisadores de universidades brasileiras, da Colômbia e dos Estados Unidos, o excesso de mortes maternas no Brasil foi regionalmente heterogêneo. E os impactos mais fortes durante os momentos mais agudos da epidemia. Isso reflete as desigualdades socioeconômicas e de acesso aos serviços de saúde anteriores à pandemia. E principalmente o agravamento dessa situação, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.
Para se ter uma ideia, no Norte, região das mais vulneráveis, houve explosão no número de mortes de mulheres de 37 a 49 anos, ao longo dos cinco trimestres avaliados. Essa região é a mesma que se destacou pela tragédia de Manaus, no começo de janeiro de 2021. O então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, deixou esvaziar o estoque de oxigênio nos hospitais da cidade mesmo sendo avisado pela empresa fornecedora do insumo. Uma semana depois, o Brasil e o mundo viu imagens da morte, por asfixia, de pessoas internadas. E da luta de parentes pelos cilindros.
O então ministro da Saúde de Jair Bolsonaro (PL), o general Eduardo Pazuello esteve à frente da pasta de maio de 2020 a março de 2021. Suas políticas deixaram milhares de órfãos.
(Foto: Reprodução de vídeo | RBA)
No Sul, mais rico, a explosão nas mortes maternas se concentrou no trimestre de março a maio de 2021. Mas representou uma alta de 375% na mortalidade prevista para a região onde Bolsonaro tem um grande número de apoiadores.
Os pesquisadores chegaram a tais resultados cruzando dados oficiais de mortalidade do Ministério da Saúde. E se basearam em metodologia que contrapõe dados epidemiológicos da pandemia com aqueles esperados sem ela.
Orellana, que liderou a pesquisa, lembrou as mais de 687 mil mortes conhecidas no Brasil, número que coloca o país na segunda posição mundial de mortos pela doença. Para ele, é a desinformação. Primeiro referente ao uso de medicamentos clinicamente ineficazes para prevenção e tratamento. Segundo, ao rechaço governamental a evidências científicas pelo uso de máscaras, o distanciamento social e as vacinas.
O cientista considera ainda que o padrão geral de excesso de mortes maternas identificado na atual pesquisa reforça o dramático desenvolvimento da epidemia no Brasil. “Imagine a quantidade de órfãos, recém-nascidos, famílias e lares destruídos devido a essas mortes plenamente evitáveis! Sem dúvidas os efeitos estão para muito além das mortes maternas”, disse à RBA.
Além da tragédia humana, destacou, o dado compromete os esforços anteriores do país rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre eles, estão a redução da mortalidade materna e garantir o acesso universal e de qualidade à saúde e reprodutiva para as mulheres até 2030.
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Má gestão da covid fez explodir mortalidade materna, diz estudo da Fiocruz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU