12 Março 2021
Embora as crises e as guerras tenham tido o efeito de promover a igualdade entre mulheres e homens, a pandemia, ao contrário, está aumentando o fosso.
Podemos concluir com a OIT que “se corre o risco de perder alguns ganhos das últimas décadas e de agravar as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho”. Essa é uma das especificidades dessa crise.
A reportagem é de Sabine Germain, publicada por Alternatives Économiques, 10-03-2021. A tradução é de André Langer.
Não há necessidade de prolongar o suspense. As mulheres são mais afetadas do que os homens pelos efeitos da pandemia. Incontestavelmente e em todas as frentes: emprego, carga de trabalho e carga mental, renda... Em junho de 2020, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) soou o alarme, constatando que “a crise da Covid-19 afeta desproporcionalmente as trabalhadoras”. E de várias maneiras.
As mulheres estão 'sobrerrepresentadas' em todas as frentes da crise da saúde. Na linha de frente, já que as profissões da saúde são mais de 70% feminizadas, chegando até a 90% entre enfermeiras e auxiliares de enfermagem. Mas também na segunda linha: no auge do confinamento, as profissões da distribuição (82% dos empregados são mulheres), de auxílio à casa (98% mulheres) ou da limpeza (67%) proporcionavam “a continuidade econômica e territorial” ao assumir todos os riscos, enquanto os equipamentos de proteção continuaram difíceis de encontrar.
As mulheres também caíram massivamente no desemprego parcial, o que lhes permitiu manter seus empregos quando as atividades estavam paradas, mas que as fez perder 16% de sua remuneração líquida, exceto aquelas que recebem um salário mínimo. Os setores de atividade mais afetados pela crise, ou seja, aqueles que se têm beneficiado de uma alocação de atividade parcial maior desde 1 de junho de 2020, são o turismo, a hotelaria e a restauração, o esporte, a cultura, o transporte de passageiros e os eventos.
Aqui, novamente, atividades muito feminizadas: no turismo ou na hotelaria, por exemplo, mais de 80% dos empregados são mulheres. No conjunto do ano, a distribuição mulheres-homens entre os beneficiários da atividade parcial ainda não é conhecida. Mas a OIT está convencida do seguinte: “Os empregos das mulheres estão muito mais ameaçados do que os dos homens, especialmente por causa da crise no setor de serviços”. Ao contrário da crise de 2008, que afetou mais a indústria.
As mulheres que podem praticar o teletrabalho não são poupadas. De acordo com um estudo realizado pela Ipsos e pelo Boston Consulting Group, 34% das mulheres entrevistadas disseram que estavam “à beira do colapso” (em comparação com 28% dos homens). Porque a fronteira entre a vida profissional e a vida pessoal está se apagando, porque as mulheres têm 1,3 vezes menos probabilidade do que os homens de dispor de um espaço de trabalho isolado, porque são 1,5 vez mais interrompidas pelos filhos ou pelas tarefas domésticas...
Portanto, não é surpreendente que a carga mental das mulheres tenha aumentado durante o isolamento físico da pandemia. De acordo com a pesquisa EpiCov realizada pelo Inserm (Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale) e pela DREES (Direction de la Recherche, des Études, de l'Évaluation et des Statistiques) entre os dias 02 de maio e 02 de junho de 2020, as mulheres de entre 20 e 60 anos que declararam passar pelo menos quatro horas por dia em tarefas domésticas rotineiras são duas vezes mais numerosas que os homens (19% contra 9%). Além disso, 58% das mães de filhos menores passaram mais de quatro horas por dia cuidando deles, em comparação com 43% dos pais. Finalmente, os homens têm 2,3 mais probabilidade do que as mulheres de se ocupar menos de uma hora por dia com atividades domésticas (40% contra 17%).
É neste contexto que o Ministério do Trabalho publicou, no dia 8 de março, o seu índice 2021 da igualdade profissional entre as mulheres e os homens. Tenhamos presente que as empresas com mais de 50 trabalhadores são obrigadas a medir cinco indicadores a cada ano: a diferença salarial entre homens e mulheres (40% da pontuação), a diferença nos aumentos anuais (20%), a diferença nas promoções (15%), os aumentos no retorno da licença-maternidade (15%) e a presença das mulheres entre os maiores salários da empresa (10%).
Este ano, o ministério ficou satisfeito ao ver a taxa de resposta aumentar fortemente (passou de 59% em 2020 para 70% em 2021) e a pontuação média progredindo ligeiramente para chegar a 85 em 100 (+ 1 ponto em relação a 2020). Mas os parceiros sociais consideram que estes resultados são enviesados pela crise. O leque dos assalariados considerado nestes cálculos exclui aqueles em atividade parcial, ou seja, cerca de 10% dos efetivos das empresas com mais de 50 trabalhadores.
Esse índice de igualdade profissional deve, portanto, ser analisado com cautela, mesmo quando se espera que a crise da Covid resulte em um declínio histórico na igualdade profissional. A pesquisadora-adjunta da Universidade Paris-Nanterre, Rachel Silvera lamenta ver “os piores trabalhos sendo sacrificados”. Pelo modesto aumento do salário mínimo (+ 0,9% em 1º de janeiro de 2021) em particular, “13% das mulheres recebem salário mínimo, contra 5,5% dos homens”, observa esta economista especialista em igualdade profissional. Além disso, “43% dos trabalhadores que recebem um salário mínimo trabalham em tempo parcial, enquanto esta forma de contratação atinge 17,5% do total dos assalariados”.
Podemos, pois, concluir com a OIT que “se corre o risco de perder alguns ganhos das últimas décadas e de agravar as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho”. Essa é uma das especificidades dessa crise: “Ao longo do século XX, apesar de seus efeitos devastadores, as guerras e as recessões fizeram avançar a igualdade entre mulheres e homens nos países de alta renda”, observa a economista Cecilia Garcià-Peñalosa em coluna publicada pelo Le Monde em 8 de março. Portanto, ela acredita que “a reinserção das mulheres no mercado de trabalho deve ser um aspecto fundamental do plano de recuperação”.
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São as mulheres as grandes perdedoras da pandemia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU