08 Junho 2021
A contínua interrupção nos serviços de saúde para as mulheres devido à covid-19 pode apagar mais de 20 anos de avanços na redução da mortalidade materna e acesso ao planejamento familiar, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
“Quero destacar as devastadoras repercussões sanitárias, sociais e econômicas que este vírus teve nas mulheres”, indicou Carissa Etienne, diretora da OPAS, durante sua conferência de imprensa na quarta-feira, 26 de maio.
A reportagem é publicada por IPS Notícias e Jesuítas da América Latina, 01-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
De acordo com dados de 24 dos 34 países do hemisfério “mais de 200 mil mulheres grávidas foram infectadas pela covid-19 e ao menos mil morreram por complicações do vírus”, informou Etienne.
“Se isso continua, es espera que a pandemia faça desaparecer mais de 20 anos de avanços na ampliação do acesso das mulheres ao planejamento familiar e na luta contra a mortalidade materna”, observou a responsável.
Mesmo o retorno aos níveis de mortalidade materna anteriores à pandemia, que já eram altos, poderia consumir mais de uma década, sendo que quase todas as mortes maternas são evitáveis, lembrou Etienne, uma dominicana e médica de formação.
A taxa de mortalidade materna na América Latina e no Caribe caiu de 96 para 74 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos entre 2000 e 2017, uma redução geral de 23,1%.
Agora, “segundo estimativas das Nações Unidas, até 20 milhões de mulheres na América – principalmente nos países da América Latina e do Caribe – terão seu controle de natalidade interrompido durante a pandemia”, disse Etienne.
Isso pode acontecer nos próximos anos porque os serviços não estão mais disponíveis ou porque as mulheres não terão mais como pagar pelos anticoncepcionais, afirmou.
Os cuidados à gravidez e ao recém-nascido também sofrem interrupções em quase metade dos países da região.
Ao mesmo tempo, as mulheres grávidas são mais vulneráveis a infecções respiratórias como covid-19 e, se ficarem doentes, tendem a desenvolver sintomas mais graves, muitas vezes exigindo intubação, o que pode colocar em risco a vida da mãe e do bebê.
Outro aspecto apontado por Etienne é que as mulheres, que representam mais de 70% nas equipes de saúde na América Latina e no Caribe, são as que mais pesam na resposta da covid.
Além disso, as mulheres sofrem um impacto econômico muito maior, pois já têm maior probabilidade de viver na pobreza e de ter perdido o emprego desde o início da pandemia.
“Devemos lembrar que os desafios e desigualdades que enfrentamos antes da covid-19 não desapareceram durante a pandemia, mas pioraram e não podem ser ignorados. Por isso, devemos fazer da proteção à vida das mulheres uma prioridade coletiva”, expôs a responsável.
Por ocasião do Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher em 28 de maio, Etienne disse que os países deveriam “fazer exatamente isso: agir”.
“Podemos começar garantindo que as mulheres e meninas tenham acesso aos serviços de saúde de que precisam – como saúde sexual e reprodutiva, gravidez e cuidados com o recém-nascido – durante a resposta à covid-19”, concluiu.
Leia mais
- Mulheres na pandemia. A complexa teia de desigualdades e o desafio de sobreviver ao caos. Revista IHU On-Line, Nº 548
- Revista IHU On-Line lança número sobre as Mulheres na Pandemia e os desafios de sobreviver em meio ao caos
- A luta das mulheres contra as duas pandemias, da Covid-19 e da violência de gênero. Entrevista especial com Flávia Melo
- As mulheres sofrem com elevados níveis de pobreza de tempo. Entrevista especial com Luana Simões Pinheiro
- Conhecimento científico e compromisso com a justiça social: propostas para melhorar a vida das mulheres na pandemia
- Pesquisa revela uma década de violência contra mulheres indígenas em São Gabriel da Cachoeira
- As mulheres na pandemia. A violência doméstica, o sofrimento e a necessidade de repensar o cuidado. Entrevista especial com Renata Moreno
- Pandemia e violência doméstica: um beco sem saída se não houver políticas públicas efetivas de proteção às mulheres. Entrevista especial com Fernanda Vasconcellos
- Isolamento social em tempos de pandemia torna a casa ainda mais perigosa para a mulher. Entrevista especial com Jacqueline Pitanguy
- Saúde e mulheres, uma revolução
- Pandemia aumenta em 170% o número de mulheres desalentadas na Região Metropolitana de Porto Alegre
- Com pandemia, participação das mulheres no mercado de trabalho é a menor em 30 anos
- Violência contra mulher cresce no período de quarentena
- São as mulheres as grandes perdedoras da pandemia?
- Para as mulheres, a pandemia é sinônimo de retrocesso social
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A pandemia e seu forte impacto na mulher latino-americana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU