17 Março 2021
Mais expostas ao coronavírus em seus empregos do que os homens, as mulheres também sofrem um aumento de cargas domésticas, ao mesmo tempo em que são mais afetadas pelo desemprego e pela pobreza. No mundo inteiro, a pandemia de Covid-19 deu início a um período de retrocesso.
A reportagem é de Bénédicte Manier, publicada por Alternatives Économiques, 11-03-2021. A tradução é de André Langer.
Se a crise de 2008 afetou principalmente os setores do emprego predominantemente masculinos (construção civil, indústria e transportes), a crise atual atinge setores fortemente marcados pela presença de mulheres: hotelaria, turismo, comércio varejista e emprego doméstico, aponta um estudo estadunidense. E o recuo do emprego feminino já é visível. Nos Estados Unidos, 5,3 milhões de mulheres perderam seus empregos em novembro, em comparação com 4,6 milhões de homens. Na Colômbia, a epidemia privou de trabalho duas vezes mais mulheres (2,5 milhões) do que homens e, em outubro passado, sua taxa de desemprego era o dobro (20%) dos homens.
Mesmo que em alguns países (França, Espanha, Itália...) as medidas parciais de desemprego tenham até agora limitado a perda de empregos, muitas falências são esperadas, a longo prazo, em setores que estão sujeitos a fechamentos prolongados. No turismo, as mulheres representam 54% da força de trabalho global e a mesma proporção dos 75,4 milhões dos empregados em hotéis e restaurantes (na França: 84% dos funcionários de hotéis e 57% dos trabalhadores de restaurantes).
As mulheres são, em todo o caso, “mais vulneráveis à perda do emprego”, lembra a OCDE, pois ocupam posições mais precárias e com maior frequência em tempo parcial, uma fragilidade que as prejudica quando o mercado de trabalho se contrai. Na Índia, embora representem apenas 11% dos assalariados, elas representam 52% dos que perderam seus empregos durante o confinamento da primavera de 2020, destaca o Centro de Monitoramento da Economia (CMIE). E o risco de não voltarem a trabalhar mais tarde é onze vezes maior que o dos homens.
Um dos setores mais afetados pelos confinamentos da primavera de 2020 é o emprego doméstico. Os 67 milhões de trabalhadores deste setor no mundo, 80% deles são mulheres, viveram o auge da crise no final de junho de 2020: 72% deles sofreram redução da jornada de trabalho ou perderam o emprego, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Na sua maioria não declarados, esses trabalhadores não tinham direito a qualquer renda de substituição.
A Espanha é um dos poucos países a fornecer ajuda emergencial a 180 mil delas, mas em Nova York, 80% dos 200 mil trabalhadores domiciliares perderam seus empregos sem indenização, segundo a Aliança Sindical do setor. O mesmo vale para milhões de outras pessoas em todo o mundo, muitas vezes imigrantes, oriundas de minorias e sem proteção social.
Porém, o choque de uma demissão é mais difícil de superar para as mulheres, pois com salários inferiores aos dos homens (- 16% em média no mundo, com picos de 35% em alguns países), elas têm uma pequena poupança. Além disso, “constituem a maioria das famílias monoparentais” em todo o mundo, lembra a ONU.
Estima-se que a crise deva mergulhar 47 milhões de mulheres a mais na pobreza extrema neste ano, elevando seu total global para 435 milhões, estimam a ONU Mulheres e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Antes da pandemia, sua taxa de pobreza deveria ter diminuído 2,7% entre 2019 e 2021, mas aumenta 9,1% e um retorno ao nível pré-pandêmico não é previsível antes de 2030.
Além disso, no mundo, as mulheres constituem 70% das famosas “profissões essenciais” mobilizadas em hospitais, nos cuidados domiciliares, comércios de alimentos, farmácias, escolas e trabalhos de limpeza. Na França, é nesses setores não devidamente valorizados e mal pagos (muitas vezes o salário mínimo) que a carga e o tempo de trabalho aumentaram mais com a chegada do vírus, indica um estudo publicado pela Ugict-CGT. E isso é verdade em outras partes do mundo.
Além disso, essas profissões as expõem excessivamente ao risco de epidemias. No setor de saúde, onde 70% dos trabalhadores são mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), enfermeiras, auxiliares de enfermagem e auxiliares de domicílio estão na vanguarda do atendimento aos doentes. E, embora na população em geral as mulheres sejam menos infectadas do que os homens com o coronavírus, elas foram “três vezes mais” infectadas entre os trabalhadores da saúde, observa a ONU. Assim, elas são 72% das cuidadoras contaminadas na Alemanha, 75% na Espanha, 68% na Itália, 73% nos Estados Unidos, de acordo com outro estudo.
Na primavera de 2020, escolas e creches foram fechadas em 162 países: em meados de maio, 70% das crianças do mundo estavam em casa, o que teve um impacto imediato na vida das mulheres.
Nos Estados Unidos, a participação das mães no mercado de trabalho caiu 3%, contra 1,2% dos pais. Na França, em sete de cada dez casos são as mães que faltam por doença para cuidar dos filhos. A decisão de se licenciar foi obviamente imposta às famílias monoparentais, que são mulheres em 70% dos casos nos Estados Unidos e 85% na França. Mas, do outro lado do Atlântico, onde essas licenças não são indenizadas, muitas mães solteiras tiveram de abandonar totalmente o emprego.
Inevitavelmente, esses confinamentos aumentaram a carga doméstica já suportada pelas mulheres: em 22 países, 49% delas relataram gastar mais tempo limpando e 36 a 37% cuidando de crianças e cozinhando, de acordo com a ONU Mulheres.
A OCDE, por sua vez, estimou em 27 horas semanais o acréscimo de tarefas domésticas e educacionais das famílias em cinco países (França, Itália, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha) durante o confinamento da primavera de 2020. E sem surpresa nenhuma, as mulheres consagraram a essas atividades quinze horas a mais do que os homens.
“A epidemia aumentou consideravelmente a sua cota de trabalho não remunerado”, confirma a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound). “E o teletrabalho revelou-se ser um fardo a gerenciar para muitas mães, fazendo malabarismos com sua profissão, educação em casa para os filhos e tarefas familiares, tudo no mesmo espaço reduzido”.
Ao reduzir sua renda, suas oportunidades de emprego e aumentar seu trabalho doméstico, a pandemia teve um forte impacto na independência de milhões de mulheres. “Esta crise representa um sério risco de anular décadas de progresso na questão da igualdade de gênero”, alerta a Eurofound, para quem alguns efeitos serão temporários, mas “outros podem ser duradouros”.
Também existe o grande risco de ver esses retrocessos repercutirem sobre várias gerações. Porque o fechamento das escolas tirou delas 743 milhões de meninas no mundo. As aulas reabriram de forma muito desigual entre os continentes e, nos países em desenvolvimento e emergentes, muitas meninas correm o risco de não voltar, empurradas pelas tradições para permanecerem na esfera doméstica.
Finalmente, os confinamentos, infelizmente, inflamaram a violência de gênero. A OMS Europa relatou um aumento de 60% nas chamadas de emergência de mulheres vítimas ou ameaçadas de violência, em comparação com o mesmo período em 2019. Na França, as notificações aumentaram 40% durante o primeiro confinamento e 60% durante o segundo. A tendência é idêntica em todo o mundo, com quase um terço a mais de denúncias para Cingapura, Chipre ou Argentina.
Para as mulheres, o histórico socioeconômico da pandemia é desolador. Teremos que aprender lições e repensar uma economia que, em todos os lugares, não valoriza suficientemente seus empregos e as mergulha mais rapidamente na precariedade. Também será necessário implementar políticas proativas para encorajar imediatamente o retorno das meninas à escola, ajudar as mulheres a encontrar empregos em tempo integral, a sair da pobreza e a recuperar o terreno perdido na partilha das tarefas.
No “mundo pós-pandemia”, as lutas das mulheres para alcançar os objetivos ainda distantes de igualdade correm o risco de se assemelhar às do mundo de antes. Mas elas terão que começar de mais longe.
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Para as mulheres, a pandemia é sinônimo de retrocesso social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU