29 Julho 2020
“Ayouni” em árabe significa literalmente “meus olhos”, mas é uma expressão usada na linguagem dos afetos para dizer "meu amor", não apenas entre apaixonados, mas também entre irmãos. É o título do documentário de Yasmin Fedda, que acompanhou por seis anos duas mulheres na busca da verdade sobre seus entes queridos. Uma delas é Immacolata Dall'Oglio, irmã do padre Paolo, o jesuíta que apoiou a revolução e, por isso, foi expulso da Síria, onde viveu por 30 anos como monge; em 29 de julho de 2013, ele desapareceu em Raqqa, cidade síria onde parece tenha ido negociar a libertação de reféns nas mãos de extremistas islâmicos. A outra é Noura Safadi, que procura seu marido Bassel desde 2012, especialista em informática que transmitia vídeos dos protestos contra o regime: eles eram "o casal da revolução".
A reportagem é de Viviana Mazza, publicada por Corriere della Sera, 28-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Yasmin nos deu a palavra para dar voz a todos os que desapareceram", explica Immacolata Dall'Oglio sete anos após o sequestro de seu irmão. Estima-se que o número de desaparecimentos forçados seja de 100.000 em nove anos de guerra, ao lado de 380.000 mortes e 13,5 milhões de refugiados e deslocados.
O filme enfoca "o que a opinião pública corre o risco de esquecer, ou seja, o início sincero, corajoso e generoso da revolução do povo sírio, que perdeu o melhor de sua juventude, como Paolo dizia, nas prisões do regime, sob as bombas, nos campos de refugiados, nas mãos do ISIS, ao longo da rota dos Balcãs e no Mediterrâneo - ressalta a irmã -. Bassel foi vítima do regime; Paolo foi sequestrado, não sabemos por quem, mas independentemente de quem tenha sido, na raiz da violência há a mesma negação dos direitos de liberdade, de expressão e de conversa”.
O filme fala da expectativa, da incerteza, da necessidade de respostas concretas daqueles que viram desaparecer de um momento para o outro um ente querido. Immacolata conheceu a diretora em 2014 no Curdistão iraquiano, onde tinha ido com o marido para se aproximar o máximo possível do irmão desaparecido, visitando o mosteiro onde ele havia encontrado acolhimento, não podendo voltar para a Síria.
"Yasmin pegou Noura e eu pela mão, nos acompanhou nas buscas." Quase todos os anos elas se reuniram para acrescentar uma peça. “E não se conseguia pôr a palavra fim no filme, principalmente Yasmin. Depois, ela optou por fazê-lo após a comunicação oficial de que Bassel havia sido morto nas prisões sírias e depois de um evento em Berlim com a associação Families for Freedom, quando o retrato de Paolo foi colocado em um ônibus vermelho que partiu de Londres, junto com aqueles de muitas pessoas detidas ou desaparecidas. Para mim, foi uma profunda experiência de pequenez - explica Immacolata - porque a minha é uma história privilegiada. Cada uma daquelas mulheres, começando por Noura, teve que pagar um preço muito pesado. Tenho bem claro em minha lembrança o rosto orgulhoso de uma jovem que havia sido presa. Lembro-me dos olhos verdes de uma intensidade infinita de uma garota que fugiu com sua mãe: o pai não as seguira, não podia abandonar seu povo. Quando colocamos Paolo, com seu retrato, naquele ônibus, ao lado do rosto de seis crianças que desapareceram junto com o pai, eu sabia que meu irmão estava no lugar certo”.
Paolo “nasceu nove anos após o final da Segunda Guerra Mundial, foi jovem nas décadas de 60 e 70 e é filho do Concílio Vaticano II, que acreditava no diálogo religioso como compartilhamento da profundidade da experiência de fé". O fim de sua história, como as outras, permanece suspenso.
“Para Paolo, tudo está aberto, e estamos disponíveis para mantê-lo aberto. Além disso, permanece a necessidade de atribuir responsabilidades. Um importante processo está ocorrendo na Alemanha contra alguns crimes do governo sírio, mas que tipo de apoio internacional foi dado aos que trabalham em campo para dar um rosto às pessoas nas valas comuns de Raqqa? Yasmin encerrou o filme porque não tinha alternativas, mas sete anos depois as questões continuam todas abertas". Como o desastre na Síria: refugiados, fome e agora também a Covid. "Se os esquecermos, a humanidade não irá em frente".
Quarta-feira, 29 de julho, às 21h30, na sala de cinema virtual "La Compagnia" (a casa do documentário da região da Toscana, informações neste link) será apresentado Ayouni de Yasmin Fedda. O evento é promovido pelo festival Middle East Now, como uma prévia da próxima edição, que acontecerá de 6 a 11 de outubro em Florença. O filme estará disponível on demand até 31 de agosto.
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Paolo Dall'Oglio. O pedido de sua irmã: “Não traiam os desaparecidos como meu irmão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU