13 Dezembro 2025
A rede “World Inequality Lab” divulgou na 4ª feira (10/12) o relatório “Destaques do Relatório sobre a Desigualdade Mundial 2026 (WIR 2026)”, expondo os números crescentes da desigualdade econômica e climática. Elaborado por mais de 200 pesquisadores de todo o mundo e coordenado pelo economista francês Thomas Piketty, o estudo revela que menos de 60 mil pessoas poluem três vezes mais do que metade da Humanidade.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 12-12-2025.
Pela primeira vez, o relatório trata do tema clima de forma transversal, na seção intitulada “desigualdade climática”. O documento mostra que as concentrações extremas de riqueza e de emissões são dois lados da mesma moeda: os 10% mais ricos do mundo são responsáveis por 47% das emissões globais. Já os 50% mais pobres geram apenas 10%.
Ao considerar as emissões de empresas, fazendas, imóveis e investimentos de cada pessoa, o trabalho demonstra que os 10% mais ricos controlam ativos responsáveis por 77% das emissões globais. Já a metade mais pobre, apenas 3%, informa a Exame. “O debate público foca nas emissões do consumo, mas a propriedade do capital revela uma desigualdade ainda mais profunda”, escreve a equipe de Piketty no relatório.
A concentração de renda cresceu nos últimos 10 anos. Os 10% mais ricos recebiam 54 vezes mais que os 50% mais pobres em 2014. Nesta edição, o valor subiu para 64 vezes. O ranking da desigualdade engloba 216 países e é liderado pela África do Sul, seguida da Colômbia, México e Chile.
O Brasil está em 5º lugar no ranking das nações mais desiguais, destacam Poder 360 e Valor. Os 10% mais ricos do país concentram 59% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres apenas menos de 10%.
Para os autores, os números definem não só a responsabilidade ambiental, mas também quem corre mais risco com a crise do clima, informam Folha PE e O Globo. “Os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas são também os que têm maior facilidade em se adaptar”, diz Ricardo Goméz Carrera, coordenador do relatório.
A explicação é financeira. Economias mais ricas também têm mais facilidade em conseguir empréstimos a juros mais baixos e investir em ativos de maior rendimento no exterior. Caso do Japão (retorno de 5,9% do PIB), Estados Unidos (2,2%) e Zona do Euro (1%). Já países dos BRICS enfrentam rendimento negativo de -2,1% do PIB, com capital constantemente drenado para fora.
Logo, os países do Sul Global ficam sem recursos para investir em adaptação climática. Enquanto os do Norte conseguem manter seu estilo de vida poluidor e se adaptar com mais facilidade às mudanças climáticas – e, claro, sem pagar a devida conta por seu estrago.
O Fórum Econômico Mundial identifica essa dinâmica como “fragmentação global”, que dificulta a cooperação para enfrentar a emergência ambiental. Para os autores, é necessário tanto uma tributação mais progressiva quanto programas de distribuição de renda para atenuar o cenário vigente.
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