06 Dezembro 2025
Pete Hegseth enfrenta perguntas e novas informações sobre o ataque no qual o Exército dos EUA executou sobreviventes no Caribe, ao mesmo tempo em que a investigação interna do Pentágono conclui que o uso do Signal por Hegseth — ao incluir um jornalista no grupo em que foram discutidos ataques ao Iêmen — representou um risco para o pessoal norte-americano
A informação é de Andrés Gil, publicada por El Salto, 04-12-2025.
Apenas 11 meses no cargo e os escândalos já se acumulam sobre Pete Hegseth. O secretário de Guerra dos EUA está lidando com informações que apontam para um possível crime de guerra ao mandar executar sobreviventes indefesos no Caribe depois que sua embarcação foi afundada. O Washington Post publicou na sexta-feira que Hegseth deu a ordem para matar todos os ocupantes das supostas lanchas do narcotráfico, e nesta quarta soube-se que o Pentágono sabia que havia sobreviventes após o ataque inicial de 2 de setembro — mas, ainda assim, o Exército realizou um segundo ataque.
A justificativa para o segundo ataque foi a necessidade de afundar a embarcação, segundo fontes da Associated Press. O governo Trump afirma que as 11 pessoas a bordo morreram.
O que ainda não está claro é quem ordenou os ataques e se o secretário de Defesa, Pete Hegseth, esteve envolvido. Os detalhes são fundamentais, pois o Congresso abriu investigações para determinar se os EUA agiram conforme a lei nessas operações militares — algo cada vez mais questionado no Capitólio.
Muitas dessas perguntas serão feitas nesta quinta-feira, durante uma sessão informativa secreta no Congresso com o comandante que, segundo o governo Trump, ordenou o segundo ataque: o almirante Frank “Mitch” Bradley. Bradley deve comparecer na quinta a uma reunião classificada com os dois presidentes republicanos das comissões e os dois democratas mais graduados.
As comissões das Forças Armadas tanto da Câmara quanto do Senado anunciaram investigações sobre os ataques, enquanto parlamentares de ambos os partidos levantam questionamentos.
Pete Hegseth vem sendo alvo de crescente escrutínio pelas execuções extrajudiciais que resultaram na morte de 83 pessoas em 21 ataques contra supostos narcotraficantes no Caribe e no Pacífico Oriental — especialmente pelo ataque em que sobreviventes foram executados em 2 de setembro, o que configuraria violação das leis vigentes em tempo de paz e das normas que regem conflitos armados.
Hegseth defendeu o segundo ataque como algo surgido da “névoa da guerra”, afirmando durante uma reunião do Gabinete, nesta terça-feira na Casa Branca, que não viu sobreviventes, mas que também não testemunhou o restante da missão.
O secretário de Defesa também disse que Bradley, como almirante no comando, “tomou a decisão correta” ao ordenar o segundo ataque, para o qual “tinha plena autoridade”.
Na quarta-feira, perguntaram ao presidente Donald Trump se ele divulgaria o vídeo do segundo ataque, como exigem os democratas, e ele respondeu: “Não sei o que eles têm, mas seja o que for, certamente vamos divulgar. Sem problema”.
Um ataque posterior, no fim de setembro, levou a família de um colombiano a apresentar uma denúncia formal ao principal órgão de direitos humanos do continente americano. A petição da família de Alejandro Carranza afirma que o Exército bombardeou seu barco pesqueiro em 15 de setembro, violando convenções de direitos humanos.
“Signalgate”: risco para o pessoal dos EUA
O órgão de controle do Pentágono concluiu que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, colocou em risco o pessoal norte-americano e suas missões ao usar o aplicativo Signal para transmitir informações confidenciais sobre um ataque militar contra milícias hutis no Iêmen, segundo a Associated Press.
O relatório conclui que Hegseth violou a política do Pentágono ao usar seu dispositivo pessoal para assuntos oficiais e recomendou melhor treinamento para todos os funcionários do Departamento de Defesa.
Pete Hegseth se recusou a falar com o inspetor-geral do Pentágono, mas apresentou uma declaração escrita na qual afirma que tinha autorização para desclassificar informações conforme julgasse apropriado, e que só comunicou detalhes que, segundo ele, não colocariam a missão em perigo.
“A avaliação do Inspetor-Geral absolve o secretário Hegseth e demonstra o que sabíamos desde o início: nenhuma informação classificada foi compartilhada”, afirmou Sean Parnell, porta-voz principal do Pentágono, em comunicado. “Este assunto está resolvido e o caso está encerrado.”
O presidente Donald Trump “apoia” Hegseth, afirmou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em comunicado à AP, acrescentando que a investigação confirma que “nenhuma informação classificada vazou e que a segurança operacional não foi comprometida”.
The New York Times leva o Pentágono aos tribunais
O New York Times entrou com uma ação judicial contra o Pentágono por violação dos direitos previstos na Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Na ação, movida no Tribunal Distrital de Washington, o jornal argumenta que a nova política do Departamento de Defesa “pretende restringir a capacidade dos jornalistas de fazer o que sempre fizeram: fazer perguntas a funcionários do governo e reunir informações para reportagens que levam o público além dos comunicados oficiais”.
As regras, em vigor desde outubro, representam uma grande mudança em relação às anteriores — tanto em extensão quanto em escopo. Elas exigem que jornalistas assinem um formulário de 21 páginas que impõe restrições à atividade jornalística, incluindo pedidos de informação e consultas a fontes do Pentágono. Jornalistas que descumprirem as normas podem perder sua credencial de imprensa, e o Pentágono concedeu a si mesmo “discrição ilimitada” para aplicar a política como quiser.
A ação afirma que “relatar qualquer informação não aprovada por funcionários do departamento” pode resultar em sanções, “independentemente de a apuração ocorrer dentro ou fora das instalações do Pentágono e independentemente de a informação ser ou não classificada”.
A ação pede uma liminar para impedir a aplicação das regras e uma declaração de que as disposições “direcionadas ao exercício dos direitos da Primeira Emenda” são ilegais.
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