02 Dezembro 2025
É a primeira viagem do pontificado, na pauta as guerras em curso. Mas em Niceia os patriarcas ligados a Moscou não estarão presentes.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 28-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Irmãos e Irmãs "apesar das diferenças, apesar das distintas crenças". Leão XIV chega à Turquia para a primeira viagem do pontificado, que continua no Líbano no sábado, e quer construir a paz, sem ingenuidade. As guerras na Ucrânia e na Terra Santa destruíram o diálogo ecumênico e inter-religioso; para reconstruir o tecido social, é preciso paciência e diplomacia.
Em Ancara, Prevost estende a mão a Erdogan: o presidente, que o recebe no suntuoso palácio que construiu em uma colina com vista para a capital, é um interlocutor-chave no Oriente Médio. Em seu discurso, o Papa aborda as questões que agitam a sociedade turca, a começar pela repressão à oposição, mas prevalecem a prudência e o tom diplomático. Ele destaca a riqueza do país e enfatiza: "Uma sociedade é viva se for plural". Ao falar das mulheres, ele lembra sua "participação ativa na vida profissional, cultural e política". Quanto aos cristãos, "pretendem contribuir para a unidade do seu país", diz ele.
"É essencial honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus", enfatiza, "homens e mulheres, compatriotas e estrangeiros, pobres e ricos". Não vai além disso nessas questões. Leão, por outro lado, é explícito em seu apoio ao papel internacional de Erdogan. "Senhor Presidente, que a ‘Türkiye' posa ser um fator de estabilidade e reaproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura", diz ele, tendo o cuidado de usar o novo termo adotado pelo governo, "Türkiye", em vez do mais comum "Turquia". "Hoje, mais do que nunca", enfatiza, em tempos de guerra e crise do multilateralismo, quando "prevalecem as estratégias de poder econômico e militar", há "necessidade de personalidades que favoreçam o diálogo e o pratiquem com firme vontade e paciente tenacidade ". Erdogan destaca a sintonia sobre Gaza e Jerusalém, lembra da paróquia na Faixa atingida pelo exército israelense e ostenta sintonia também sobre a questão ucraniana.
Ao anoitecer, Leão já está em Istambul, onde amanhã visitará a chamada "Mesquita Azul" e de onde partirá para uma cerimônia na antiga Niceia, para comemorar o 1.700º aniversário do Primeiro Concílio. Política e religião se interligam: o sonho inicial era envolver todas as Igrejas cristãs, mas a guerra na Ucrânia, abençoada pelo Patriarca russo, prejudicou as relações já tensas entre Moscou e Constantinopla. Kirill jamais teria vindo a Niceia.
Para romper o impasse, foi elaborado um plano para convidar apenas os cinco patriarcas que, no passado distante, governavam o cristianismo. Mas, no fim, estarão presentes o Papa (Roma), Bartolomeu (Constantinopla) e o Patriarca de Alexandria, e não os de Jerusalém e Antioquia, ligados por fortes laços a Moscou. O Papa Leão sabe disso: é preciso paciência e perseverança, apesar — ou melhor, justamente por causa — das inúmeras e profundas diferenças.
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